Natal e Ano Bom com dois frades – Por João Baptista Herkenhoff*
Fome de
Deus (Frei Betto) e Francisco de Assis e Francisco de Roma (Frei
Leonardo Boff).
No livro: "Fome de
Deus", Frei Betto superou, a meu juízo, todos os livros que escreveu
anteriormente. É um livro de espiritualidade encarnada, onde oração e ação,
eternidade e tempo presente, ciência e fé, corpo e alma caminham lado a
lado.
Remontando ao primeiro século da era cristã, observa que na
Palestina havia miseráveis e famintos, massacrados pelos tributos que o poder
romano estatuía e pelos dízimos que as autoridades religiosas exigiam.
Jesus assumiu a causa dos pobres.
Promoveu um movimento indutor da partilha,
especialmente a partilha do pão. Frei Betto demonstra que a Eucaristia não
é um rito, desligado da vida, mas, ao contrário, é um apelo à Fraternidade e
uma exigência de Justiça.
Relata com humildade suas próprias dúvidas de
Fé, seus tropeços na caminhada rumo a Deus. Refere-se a sete meses de profunda
angústia, na obscuridade da noite, um tempo doloroso. A conselho de frei Henrique
Marques da Silva, leu Teresa de Ávila, o que lhe proporcionou o salto de uma
religiosidade sociológica para uma fé teologal.
Relembrando a parábola do
filho pródigo, acentua que é o Pai que vai ao encontro do filho arrependido,
disposto à reconciliação. “O próximo não é aquele que encontramos no
caminho. O próximo é, em especial, aquele cuja carência, material, psíquica ou
espiritual, faz com que modifiquemos o nosso próprio caminho, alteremos a
nossa rota, para dar-lhe atenção e dele cuidar. Foi o que fez o samaritano”
(pág. 35).
Leonardo Boff solicitou dispensa
de ordens. Nos artigos que publica, ele se define apenas como teólogo. Mas
eu continuo chamando-o de Frei Leonardo Boff, porque para mim ele é um frade,
em toda a grandeza e significação do que deve ser um frade no mundo moderno.
No livro: Francisco de Assis
e Francisco de Roma, o autor traça um paralelo entre o santo e o papa. A
respeito de São Francisco de Assis não surpreende que conheça o testamento do
patrono de sua ordem religiosa.
O que há de notável, neste livro que agora
aparece, é ter Frei Boff conseguido demonstrar que na essência da personalidade
do homem Bergoglio habita o espírito de São Francisco de Assis.
Embora conheça
Teologia, o papa Francisco não se distingue de predecessores pelo saber
teológico. O que faz dele um papa cuja posse foi saudada com entusiasmo por
gregos e romanos, católicos e seguidores de outras religiões cristãs,
agnósticos e ateus confessos, num coro universal de aprovação, é a
sensibilidade que brota espontânea no seu rosto, é o coracão, a humildade, a
doçura, nisto distinguindo-se como verdadeiro paradigma.
*João Baptista
Herkenhoff, juiz de direito aposentado, é escritor. Publicou
recentemente 'Encontro do direito com a poesia – Crônicas e escritos leves' (GZ
Edit., Rio de Janeiro). - jbherkenhoff@uol.com.br
Fonte: http://www.jb.com.br
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