O ranking das universidades
Não é apenas o ensino básico
brasileiro que vem se saindo muito mal nas avaliações comparativas com os
sistemas educacionais de outros países realizadas por organismos multilaterais.
O mesmo ocorre com o ensino superior.
No levantamento da Times Higher
Education sobre a qualidade das universidades dos Brics e países emergentes,
divulgado esta semana, quatro instituições brasileiras foram classificadas
entre as cem melhores.
Nenhuma delas, contudo, ficou no topo da lista. Há dois
meses, a Times Higher Education havia divulgado um estudo mostrando que o
Brasil não teve nenhuma universidade incluída na lista das 200 melhores do
mundo, em 2013. A instituição brasileira melhor classificada, a USP, em 158.º
lugar no ranking de 2011, despencou para a faixa entre o 226.º e o 250.º
lugares, este ano.
Os estudos comparativos da Times
Higher Education avaliam o desempenho dos estudantes, o nível de
internacionalização de cada universidade e sua produção acadêmica nas áreas de
engenharia, tecnologia, artes, humanidades, ciências da vida, saúde, física e
ciências sociais.
Também levam em conta a relevância das pesquisas acadêmicas,
a regularidade da publicação de artigos nas revistas científicas mais
conceituadas e o número de vezes que são citados. E medem, ainda, o nível de
absorção, pelas empresas, das ideias e das tecnologias inovadoras desenvolvidas
pelas universidades.
No ranking das instituições de
ensino superior dos Brics e dos países emergentes, as universidades asiáticas
alcançaram o mesmo destaque que suas escolas de ensino básico obtiveram na
edição de 2012 do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa).
Só
a China classificou 23 universidades, 4 delas entre as 10 melhores. A Turquia
classificou 3 universidades no topo da lista. A USP ficou na 11.ª posição,
abaixo de instituições da China, da Turquia, de Taiwan, da Rússia e da África
do Sul. A segunda universidade brasileira melhor classificada foi a Unicamp, em
24.º lugar. Em seguida vêm a UFRJ e a Unesp, em 60.º e 87.º lugares,
respectivamente.
O péssimo desempenho das
universidades brasileiras nas avaliações internacionais causa preocupação entre
os especialistas em ensino superior. Professor da Unicamp, com doutorado na
Universidade de Tel-Aviv e pós-doutorado em universidades francesas, o físico
Leandro Russovski Tessler classificou como “trágicas” as colocações das
universidades brasileiras no ranking da Times Higher Education.
Os
coordenadores da pesquisa disseram que nossas universidades tiveram um
desempenho “decepcionante” e afirmaram que “o ensino superior do Brasil não
condiz com o tamanho de sua economia”.
Entre os principais problemas das
universidades brasileiras, destacam-se a falta de recursos financeiros e
humanos para pesquisa, falta de infraestrutura, falta de intercâmbio, baixo número
de publicações em revistas internacionais e desconhecimento de idiomas
estrangeiros. Em outras palavras, o problema está na forma como o governo vem
gerindo o ensino superior, revelando-se incapaz de planejar e de estabelecer
prioridades.
Enquanto China, Coreia do Sul, Cingapura e Taiwan há muito tempo
investem em qualificação de docentes e centros de excelência, intercâmbio
cultural e internacionalização de suas universidades, o Brasil desperdiça
recursos escassos com a criação de novas instituições sem, no entanto,
assegurar boas condições de funcionamento para as instituições já existentes.
Na última década, o País também aumentou gastos no setor sem estabelecer metas
de produtividade e sem atribuir funções específicas para cada uma das
universidades públicas.
Por coincidência, o estudo da
Times Higher Education foi divulgado no mesmo dia em que, ao receber o título
de doutor honoris causa de uma das universidades abertas em seu governo, Lula
mostrou como geriu a área de educação. “Proibimos discutir educação como
gasto”, disse ele, sem dedicar nenhuma palavra ao problema da má qualidade de
gestão e planejamento.
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