Teólogos alertam sobre a farsa do desindividamento dos países da América Latina

O "desindividamento" dos países da América Latina é "uma farsa que oculta os disfarces que a dívida externa assumiu nesses países", alertou o professor de Teologia Sistemática da Faculdades EST, Valério Schaper.

Acrescentado ao volume da dívida o valor dos juros que ela gera "o endividamento brasileiro é o mais oneroso do mundo", apontou a auditora fiscal e coordenadora da organização brasileira Auditoria Cidadã da Dívida, Maria Lúcia Fatorelli, em entrevista ao Instituto Humanitas (IHU) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

Em dezembro do ano passado, a dívida externa brasileira alcançou 442 bilhões de dólares (cerca de 995 bilhões de reais) e a dívida interna atingiu o patamar de 2,8 trilhões de reais, 82% do PIB do país. 

"É verdade que parte dessa dívida é privada, porém, possui a garantia do governo brasileiro e, dessa forma, constitui uma obrigação que deve ser computada em sua integralidade", explicou Maria Lúcia.

O endividamento dos países em desenvolvimento foi tema de encontro que reuniu em São Leopoldo, dias 15 a 17 de novembro, professores da Faculdades EST e do ISEDET, de Buenos Aires. A iniciativa foi do Programa de Incidência sobre a Dívida Ilegítima e Justiça Ecológica, vinculado à Federação Luterana Mundial (FLM).

Os disfarces da dívida e a sua extensão no corpo da sociedade e da igreja, admoestou Schaper, exigem da Teologia uma radicalização dos seus posicionamentos éticos. “É preciso alertar a sociedade e as igrejas para que retomem e acentuem o tema da justiça econômica”, frisou.

Na entrevista ao IHU, a auditora fiscal explicou que a dívida pública é um dos principais alimentos do capitalismo, que favorece a concentração de renda no setor financeiro, aumentando ainda mais o seu poder.

"O custo da dívida é transferido diretamente para a sociedade, em particular os mais pobres, tanto por meio do pagamento de elevados tributos incidentes sobre tudo o que consomem, quanto pela ausência ou insuficiência de serviços públicos a que têm direito, saúde, educação, assistência social, previdência e, ainda, entregando patrimônio público mediante as privatizações e a exploração ilimitada de riquezas naturais, com irreparáveis danos ambientais, ecológicos e sociais", arrolou Maria Lúcia.

O grande paradoxo é que o Brasil representa a sétima economia do mundo e ocupa o 85. lugar no Índice de Desenvolvimento Humanos (IDH) medido pela ONU. Assim, diz a auditora, o Brasil é "um dos países mais injustos do mundo".

Há 30 anos a FLM mantém o compromisso reflexivo a respeito do endividamento. Ela advoga a anulação da dívida ilegítima e reivindica a formulação de um novo modelo econômico-financeiro e de desenvolvimento.

Um dos coordenadores do Programa da FLM, o pastor argentino Angel Furlan, explicou que o projeto pretende conscientizar, buscar a incidência pública, incentivar auditorias e apoiar tanto iniciativas populares quanto governamentais a favor da anulação de toda dívida ilegítima.





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