O rio e o índio
Quando vai à pesca, o índio leva
cultura e tradição, que o Museu da Amazônia ‘fisgou’ e apresenta em mostra que
aborda relação vital e sagrada entre rio e homem.
No coração da floresta amazônica,
a relação do homem com o rio é de estreita dependência. Entre os índios, é da
pesca que vem o principal alimento da tribo, e o caráter ritual dessa prática e
o respeito à natureza associado a ela se refletem na tradição indígena.
Esse
vínculo é apresentado na exposição: 'Peixe e Gente', organizada pelo Museu
da Amazônia, em Manaus, e que reúne armadilhas, utensílios de cozinha, mapas e
até registros de lendas mitológicas que jogam luz sobre essa proximidade vital
e sagrada.
A exposição tem como foco a
relação essencial e sagrada entre os indígenas e a pesca
A mostra se debruça sobre as
crenças e os hábitos das etnias indígenas Tuiuca e Tucano,
habitantes do alto rio Negro, na região amazônica. Os indígenas abriram suas
portas e ajudaram na concepção e montagem da exposição, dispostos a dividir com
o Brasil e o mundo suas experiências e tradições culturais pouco difundidas.
Baseada no livro: Gente e
Peixe no Alto Rio Tiquié, do antropólogo Aloisio Cabalzar, a exposição tem como
foco a relação essencial e sagrada entre as tribos e a pesca. A publicação
trata dos conhecimentos nativos, mitos e concepções cosmológicas sobre a origem
dos peixes e suas relações com o homem.
No Museu, estão expostos objetos
indígenas, como armadilhas de pesca, que se revelam muito mais do que simples
trabalhos manuais, uma vez que envolvem mitos e tradições sagrados. Um bom
exemplo são os matapis, alguns trazidos das comunidades e outros
confeccionados no próprio museu pelos índios.
Segundo a lenda, um indígena
chamado Gente-Estrela teve seu filho devorado pela Cobra Grande e utilizou um
matapi para capturar o bicho. Ao retirar os miúdos da cobra e os jogar no rio
Negro, eles transformaram-se em peixes traíras: como castigo por ter comido o
menino, a cobra teria seus descendentes comidos por toda a humanidade para
sempre.
Mais do que artesanato, a
construção de um matapi requer reflexões e rituais considerados imprescindíveis
para a realização de uma boa pesca. Após confeccionar a armadilha, o pescador
deve fazer jejum e seguir determinadas regras ao voltar para casa.
“Não pode se
assustar, fazer ou ouvir muito barulho, sorrir, falar alto, deitar com a
mulher, entre outras coisas”, explicam os irmãos tucanos Adalberto e Roberval
Pedrosa, da comunidade de serra de Mucura.
Além de armadilhas, como matapi,
jequi, cacuri e caiá, a exposição traz objetos de cerâmica onde são preparados
pratos típicos do alto rio Negro, cestarias, peneiras, entre outros artefatos e
curiosidades sobre a cultura tuiuca e tucana. A exposição está montada na tenda
do Jardim Botânico Adolpho Ducke e está aberta à visitação até junho.
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