Professor não é educador!
O título do livro pode parecer
estranho para muita gente que acha que o professor é um educador.
O livro foi
escrito pelo Professor Armindo dos Santos Moreira, professor aposentado da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), onde lecionou Filosofia
da Ciência e História do Pensamento Brasileiro.
Para chegar a algumas
conclusões que podem soar estranhas, usou, sem dúvida, seus conhecimentos em
Filosofia, adquiridos ao longo de sua vida como professor na área de sua
formação acadêmica: graduação e mestrado em Filosofia pela Universidad
Pontifícia de Salamanca, de Espanha.
O Professor Armindo Moreira
nasceu em Portugal, estudou na Espanha, morou em diversos países e lecionou
no Brasil.
Com base em suas experiências acadêmicas e de vida, falou ao Portal
ProfessorNews o que pensa da Educação.
ProfessorNews Como o
senhor chegou à conclusão de que professor não é educador e sim um instrutor?
Não é uma conclusão; é uma
definição. Os professores são contratados para ensinar o que o aluno precisa
para a vida prática. A educação de uma pessoa é tarefa natural dos pais. Os
professores só podem corroborar essa educação dada pelos pais. O bom é que
não a contrariem. Infelizmente, alguns professores, por se considerarem
educadores, contrariam a educação dada pelos pais. E isso não é bom.
As palavras educar e instruir
são usadas com os mesmos significados pela maioria das pessoas. Como exemplo,
temos a educação fundamental e a educação superior, em vez de ensino
fundamental e ensino superior. Por que ocorre isso?
Por omissão da Filosofia da
Educação. Esta disciplina foi criada exatamente para evitar tais equívocos.
Além disso, há muitas décadas, vemos autoridades, jornalistas e pessoas
influentes fazendo a confusão, a ponto de constar em leis. Resultado: acabam
achando que é normal falar uma coisa para dizer outra.
Muitos professores se dizem
educadores. Onde está o engano nesse caso? Os pais é que devem educar os
filhos?
Sim. Os pais é que devem educar
os filhos. O engano está em que algumas palavras, em qualquer língua, têm
dois ou mais significados. Daí, muita gente faz a confusão. E nunca é demais
lembrar que o Brasil já teve um Ministério da Instrução até o início do
século passado. Com o advento da ditadura, acharam que poderiam “educar” o
povo para seguir suas ideologias e, aí, mudaram para o Ministério da
Educação.
Se o professor não é educador,
como ele deve proceder perante seus alunos? O quê e como fazer?
Ensine as disciplinas que
assumiu. Exija educação para poder trabalhar. E se não conseguir um ambiente minimamente
decente? A direção deve dar um jeito, utilizando os meios de que dispõe para
impor a ordem.
O professor, certamente, é um
profissional bem instruído (ou deveria ser). Seus conhecimentos e
experiências são bem superiores aos de qualquer aluno, na maioria dos casos.
Como ele deve "descer os degraus do conhecimento" para chegar ao
nível do aluno?
É quase intuitivo, e a didática
reforça que os conhecimentos devem ser ministrados na dose e no jeito que o
aluno possa captar. Isso é sabido e posto em prática desde que os seres
humanos existem. Depende do que se entenda por descer. Há quem julgue que
descer até o aluno é: (1) aprender e usar a gíria dos jovens; (2) ser
confidente das paixões dos adolescentes e atritos domésticos; (3) concordar
com os moços em que seus pais são quadrados; (4) achar interessantíssimo que
o aluno trate o professor de camarada.
Curioso é que nem os
psicoterapeutas fazem isso. Por que não descem eles até o paciente como quer
que o professor desça até o aluno? Para compreender o aluno, é preciso ter
independência afetiva para poder apoiá-lo quando tem razão e desapoiá-lo
quando não a tem.
Em sua opinião, como o
professor deve interagir com seus alunos para que tirem o máximo de proveito
de suas aulas?
Depende do aluno. O aluno pode
ser criança, adolescente, adulto; pode ser um analfabeto, do ensino médio ou
do ensino superior. Quando se fala de aluno, devemos dizer de que aluno se
trata porque não há regra geral para todos. E, no estudo de didática, na
preparação dos professores, essa abordagem deveria ser muito bem treinada
tanto para ocupar bem o tempo das aulas como para ter bons resultados
de aprendizagem por parte dos alunos.
No seu livro "Professor
não é educador", o senhor propõe criar uma "Junta Autônoma de
Ensino" no lugar do Ministério da Educação. Como funcionaria essa
"Junta"? Se não existir o Ministério da Educação, não ocorreria uma
desorganização no ensino?
Não. Essa Junta assumiria as
funções do Ministério da Educação e todas as outras necessárias para se obter
um bom ensino. E por que isso? É preciso olhar para o ensino num horizonte de
15, 20 ou mais anos e não ao sabor de cada governante, de quatro em quatro
anos, conforme o sistema eleitoral. Muda o partido no governo, mudam as
coisas no ensino. Resultado? A tragédia que aí está, vivemos de moda em moda,
de projetos em projetos. Pra citar um exemplo: há muito tempo, já deveríamos
ter um currículo único para o país todo em Português, Matemática e Ciências e
que não sofresse alterações por pelo menos 10 anos. Não se justifica um aluno
do Ceará estudar um currículo diferente do Rio Grande do Sul ou do Acre ou da
periferia de São Paulo. Trabalho para essa Junta Autônoma do Ensino.
Existe relação entre a Educação
e a criminalidade? Como seria isso?
Sabemos que existe. Não sabemos
que tipo de relação ocorre em cada tipo de criminalidade, em cada lugar onde
ela acontece e com que pessoas ela surge. Talvez os sociólogos, um dia, nos
esclareçam melhor sobre a relação entre criminalidade e educação. De uma
coisa, tenho convicção: se pais educarem bem os filhos, professores cumprirem
sua obrigação que é ensinar e instruir, certamente teremos menores índices de
criminalidade.
Por fim, qual é o recado que o
senhor gostaria de deixar para os professores?
Se deseja melhorar o seu país e
a vida de seus alunos, forneça conhecimento – e deixe a educação com os pais.
Chamo a atenção para os primeiros anos do ensino fundamental: a importância
de ensinar a mais relevante habilidade na vida de um estudante: aprender a
ler direito (ler e entender o que leu). Sem isso, os demais anos na escola
tornam-se uma tragédia.
Para saber mais sobre o livro
"Professor não é educador", veja a síntese na
O Prof. Armindo Moreira pode
ser contatado pelo e-mail:
Fonte: http://professornews.com.br
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