Guia sobre religiões afro-brasileiras – Por Diogo Teixeira
Uma garrafa de champagne pela
metade, que já servia um copo, vela vermelha acesa e uma carteira de cigarros.
Foi com este cenário, tudo reunido, que o vereador goiano Djalma Araújo se
deparou, na noite da última segunda-feira (10), em frente à residência em que
vive.
O parlamentar registrou a cena e
publicou a imagem em seu perfil em uma rede social. "Chegando à minha
casa, encontrei esse trabalho despachado perto da minha porta. Quero dizer a
esse malungo feiticeiro que, se foi pra mim, não pega. Não acredito. Se for
para trazer, dê meia volta em outro quarteirão. É bom dizer que a caixa de
cigarros é do Paraguai", legendou o parlamentar com bom humor.
Após este episódio, a reportagem
do jornal Diário da Manhã consultou o presidente da Federação de Umbanda e
Candomblé do Estado de Goiás, o pai de santo Kenio de Osàála, um especialista
no assunto, e descobriu que o trabalho supostamente feito ao vereador tem
ligação com a pomba-gira (entidade que trabalha na Umbanda). "O vereador
deve observar melhor com quem ele anda e não deixar a fé se abalar",
aconselhou o pai de santo.
Contudo, para ele, nada garante
que o despacho tenha sido direcionado ao parlamentar. Em entrevista publicada
na edição do DM da última quarta-feira (12), Djalma afirmou não acreditar que o
trabalho tenha sido feito para ele.
Com o auxílio de pai Kenio, o
DMRevista preparou um guia sobre as mais populares religiões afro-brasileiras e
seus significados.
Candomblé: é uma religião
derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis,
dependendo da nação. Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões
de matriz africana mais praticadas, tendo mais de dois milhões de seguidores em
todo o mundo, principalmente no Brasil. Também é possível encontrar o chamado
povo do santo em outros países como Uruguai, Argentina, Venezuela, Colômbia,
Panamá, México, Alemanha, Itália, Portugal e Espanha.
Umbanda: é uma religião
brasileira formada através de elementos de outras religiões como o catolicismo
ou espiritismo juntando ainda elementos da cultura africana e indígena. A
palavra é derivada de "u´mbana", um termo que significa
"curandeiro" na língua banta falada na Angola, o quimbundo. A umbanda
tem origem nas senzalas em reuniões onde os escravos vindos da África louvavam
os seus deuses através de danças e cânticos e incorporavam espíritos.
Quimbanda: é uma ramificação da
umbanda desde a sua fundação pelo médium brasileiro Zélio Fernandino de Morais,
já que o mesmo admitiu ter um exu ordenado por seus guias. O princípio
norteador é o de trabalhar respeitando as leis da Umbanda, uma vez que essas
entidades são comandadas pelas entidades da Umbanda, que é a sua matriz.
Vodo ou Vodu: teve origem na
África, foi trazido pelos escravos e, para sobreviver, incorporou elementos da
cultura dos dominadores, como o batismo católico. A religião tornou-se oficial
no Haiti. É uma religião que cultua os antepassados e entidades conhecidas como
loas. O vodu é parecido com o candomblé.
Os rituais são marcados pela
música, a dança e muita comida. Quem conduz o ritual é um líder homem (hougan)
ou uma líder mulher (mambo).
Os Orixás
Entre outros, os mais cultuados
são: Exu (Bará): cuida dos prazeres, da virilidade, da procriação. Vestido com
um manto vermelho e correntes, cumpre a função de ligar o humano ao espiritual.
Ogum: envolto em vestes de metal
e cheio de armas, é o dono do ferro forjado e o que dele derivar. Sua força se
destina aos que precisam de socorro imediato.
Iemanjá: veste-se como as ondas
do mar e sua espuma. Enfeitada de estrelas e conchas marinhas, recebe a
incumbência de iluminar as estrelas e cuidar da clareza dos pensamentos dos
filhos de Olodumaré.
Iansã: traz ventos e frescor.
Coberta de exuberantes adornos de cobre, administra os montes com seus ventos.
Proporciona alegrias, moradia e panelas fartas em alimentos.
Xangô: se apresenta como força
incandescente. A ele cabe zelar para que em cada amanhecer o sol traga seu
calor e claridade, e que, por sua força e sabedoria, seja feita a justiça.
Também cuida do jogo.
Odê e Otim (Oxossi): enfeitados
com peles e penas, têm a função da caça e da pesca, bem como cuidam da
alimentação. E por serem jovens cheios de vitalidade, assumem o cuidado do
crescimento das crianças.
Obá: simples, firme, seguro e
adornado com uma navalha, tem a seu encargo a guarda dos caminhos. Ademais,
Olodumaré ordena que Obá zele pelas amizades e que corte as intrigas com a sua
navalha.
Oxalá: é o mais velho dos filhos
de Olodumaré. Usa vestido de algodão branco e cumpre a função de administrar a
evolução espiritual e a paz entre todos os seres humanos.
Ossanha: veste folhas e sabe
lidar com as ervas (plantas) que curam.
Oxum: revestida de ouro e
riquezas, é a responsável pela beleza e pela fecundidade. Assume a tarefa de
harmonizar os lares, cuidar das famílias, das crianças, das nascentes dos rios
e da água doce.
Religiões afro-brasileiras
São consideradas religiões
afro-brasileiras todas as religiões que foram trazidas para o Brasil pelos
negros africanos, na condição de escravos. Ou religiões que absorveram ou
adotaram costumes e rituais africanos.
Babaçuê - Maranhão, Pará
Batuque - Rio Grande do Sul
Cabula - Espírito Santo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
Candomblé - Em todos Estados do
Brasil
Culto aos Egungun - Bahia, Rio de
Janeiro, São Paulo
Culto de Ifá - Bahia, Rio de
Janeiro, São Paulo
Encantaria - Maranhão, Piauí,
Pará, Amazonas
Omoloko - Rio de Janeiro, Minas
Gerais, São Paulo
Pajelança - Piauí, Maranhão,
Pará, Amazonas
Quimbanda - Em todos Estados do
Brasil
Tambor-de-Mina - Maranhão, Pará
Terecô - Maranhão
Umbanda - Em todos Estados do
Brasil
Xambá - Alagoas, Pernambuco
Xangô do Nordeste - Pernambuco
Saiba mais
Pai de Santo: padrinho de umbanda
ou chefe de terreiro são termos usados em várias das religiões afro-brasileiras
para designar a pessoa responsável ou autoridade máxima de um terreiro ou tenda
de umbanda.
Terreiro de Candomblé: é como são
geralmente conhecidos os templos de candomblé ou Espaço de Religião de Matriz
Africana. Mas também são chamados de casas, roças e, dependendo da nação, podem
ser chamados de barracões ou, ainda, pela palavra correspondente à casa nos
vários idiomas africanos.
Macumba: o conceito de macumba
está tão arraigado na cultura popular brasileira que são comuns expressões
preconceituosas como "xô macumba!" (umbanda) e "chuta que é
macumba!" para demonstrar desagrado com a má sorte. São também muito
comuns amuletos que vão desde adereços até objetos que remetem aos utilizados
nos cultos religiosos. O real significado de macumba é a de um antigo
instrumento musical de percussão, uma espécie de reco-reco, de origem africana.
Popularmente, o termo macumba é
utilizado para designar de maneira pejorativa os cultos sincréticos derivados
de práticas religiosas - a exemplo do candomblé - e divindades dos africanos
que eram escravizados entre os séculos XV e XIX, a exemplo dos bantos.
Entretanto, ainda que macumba
habitualmente seja confundida com tais práticas religiosas, os praticantes e
seguidores dessas religiões rejeitam o uso do termo para designá-las.
Ebó: é um termo africano, do
iorubá, que tem várias acepções nos cultos africanos no Brasil, mas as acepções
todas têm em comum o fato de tratar-se de uma oferenda, dedicada a algum orixá,
podendo ou não envolver o sacrifício animal.
Oferenda: no candomblé, uma
oferenda é necessariamente um sacrifício de origem animal. Também serve para
alimentar uma comunidade inteira, pois nas casas de candomblé não é permitido a
compra em supermercados de frangos empanados para oferecer aos orixás. Para o
candomblé tudo que a natureza produz é sangue, e um sacrifício requer a
utilização de vários tipos de sangue, vindos das mais variadas fontes da
natureza, atribuindo vida. Na umbanda, uma "oferenda" não pode conter
um sacrifício animal.
Sangue de origem vegetal: obtido
nas cascas das árvores, folhas, frutos, sementes e flores.
Sangue de origem mineral: água,
sal, carvão.
Sangue de origem animal: são
abatidos bois, bodes, galinhas, patos e muitos outros animais, que depois
servem de alimentos à comunidade.
Magia: muito se fala em
"magia branca" ou "magia negra", mas, de acordo com o Pai
Kenio, estas são denominações utilizadas por aqueles que são totalmente leigos
no assunto. A Magia é uma só, não tendo cor alguma, não sendo "boa"
ou "má". O que importa é o uso que se faz dela. "Existem várias
formas de manipular magia: em flores, chocolates, presentes e entre
outros", afirma pai Kenio.
Despacho: é uma oferenda. Fazer
despacho a Exu é fazer uma oferenda a ele. Sempre se faz uma oferenda a ele,
pois ele seria o intermediário entre os homens e os outros orixás. Assim, se
quer conseguir algo de Oxalá, por exemplo, se faz oferenda primeiro a Exu,
depois a Oxalá.
Encruzilhada: segundo a umbanda,
uma encruzilhada (o cruzamento de ruas de uma cidade), é um lugar onde são
feitas oferendas a Exu. Estas oferendas são chamadas de despacho. A oferenda
pode ser feita em formato de "X" ou de "+", a depender do
despacho a ser feito. Também tem a encruzilhada Em "T" onde são
feitas as entregas para pomba-gira. As encruzilhadas são chamadas de fêmea,
macho e mista.
Fonte: http://www.dm.com.br
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