O teatro do engano – Por Carolina Rossetti de Toledo
A esposa colérica, o escravo
astuto, o jovem apaixonado sem dinheiro, a meretriz, o parasita social.
Esses
são alguns dos personagens mais notórios da comédia de Plauto, dramaturgo
romano nascido no século III a.C., cuja obra está entre os textos literários
mais antigos preservados em latim.
As comédias de Plauto foram retrabalhadas
por escritores como William Shakespeare, Molière, Luís de Camões e, no caso
brasileiro, Ariano Suassuna, que em 1957 usou como subtítulo de sua comédia O
santo e a porca a frase “imitação nordestina de Plauto”.
A pesquisadora do núcleo de
Letras Clássicas do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual
de Campinas (IEL-Unicamp), Isabella Tardin Cardoso, estuda a Comédia Nova
Romana, da qual Plauto é um dos principais representantes.
Em 2006 ela publicou
uma tradução para o português da peça: Estico (Editora da Unicamp) e
orienta duas alunas que lançarão este ano dois outros títulos de obras do
autor. O movimento em torno do autor romano deverá levar a leituras dramáticas
de suas comédias em São Paulo.
Pouco se sabe da vida de Tito
Mácio Plauto (em latim, Titus Maccius Plautus). Sua biografia é conhecida
apenas por testemunhos indiretos. Ele teria nascido em Sarsina, na região
central italiana da Úmbria, por volta de 255 a.C. Há registros de que foi para
Roma ainda jovem, possivelmente para trabalhar em bastidores de teatro, e
tornou-se ator.
Perdeu todo o seu dinheiro em um empreendimento náutico
malsucedido, o que o teria arruinado por completo e o forçado à escravidão por
dívida. Um texto do século II d.C. sugere ainda que Plauto começou a escrever
peças de teatro justamente para escapar da penúria financeira. Nenhuma das versões
pode ser atestada com segurança, diz Isabella.
O que se conhece do dramaturgo
sobrevive por meio das peças que escreveu. Ao todo, atualmente há 21 comédias
de sua autoria. A produção de Plauto faz parte da chamada Comédia Nova Romana,
ou comédia paliata.
O gênero faz parte do período inicial da dramaturgia
latina, entre os séculos III e II a.C. da república romana, um momento de
florescimento cultural e literário. O nome vem de pálio, um pequeno manto usado
pelos atores nas encenações, em imitação ao vestuário usado pelos gregos.
Já se imaginou que Estico seja
uma de suas primeiras produções; as notas de produção informam que a peça foi
montada em 200 a.C. Para Isabella Cardoso, autora da tradução anotada em
português, essa é uma peça de fato singular, pois vários blocos de cenas,
diferentemente de outras produções romanas do período, não apresentam uma
conexão direta entre si, atuando mais como esquetes independentes do que como
um enredo coeso.
“Nessa obra fica mais evidente uma característica de Plauto:
ele privilegia o efeito humorístico de cada cena. Não está tão concentrado na
progressão do enredo, e sim no efeito cômico”, explica a pesquisadora. O nome
da peça é baseado em um dos personagens centrais, um escravo fanfarrão.
No momento, Isabella Cardoso está
na Universidade de Heidelberg, na Alemanha, onde, junto com os professores
Jürgen P. Schwindt, Melanie Möller (Heidelberg) e Paulo S. de Vasconcellos
(Unicamp), organiza a criação de um novo Centro de Teoria da Filologia, com
sede dupla na Unicamp e na instituição alemã.
Previsto para ser inaugurado este
ano, o centro investigará sobretudo os métodos empregados pela filologia
clássica para avançar no conhecimento de obras literárias da Antiguidade
clássica, como as comédias de Plauto.
Entre os maiores desafios da
tradução de Plauto, a pesquisadora aponta a dificuldade em manter as nuances de
linguagem, a sonoridade do latim, as aliterações e os jogos de palavras. Sem
falar no ritmo das peças, assunto que Beethoven Alvarez, da Unicamp, estuda sob
a orientação de Isabella.
“Traduzir qualquer comédia é um desafio e muitas
vezes o tradutor acaba com a ingrata tarefa de ter de explicar a piada”, diz
ela. Sua tradução de Estico recebeu em 2007 indicação ao prêmio
Jabuti de Melhor Tradução e, em novembro de 2013, uma leitura dramática do
grupo de teatro paulista Instituto Cultural Capobianco.
“No Brasil, poucos
estudiosos de teatro e literatura conhecem Plauto. Por isso, tem sido
fascinante a experiência dos atores, que se mostraram surpresos com a atualidade
e graça das peças.”
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Fonte: http://agencia.fapesp.br
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