O protestantismo histórico e o processo educacional no Brasil - Por Johnny Bernardo
O protestantismo histórico tem
sua marca registrada no Brasil. Não obstante o protestantismo de imigração
(Anglicana e Luterana) ter sido trazido ao País para dar assistência religiosa
às comunidades inglesa e alemã, respectivamente, e ter se estabelecido no
Brasil na primeira metade do século XIX, coube ao protestantismo de conversão
dar início a um novo processo educativo e missionário a partir do Estado de São
Paulo. Dois grupos em especial teriam significativa importância no período do
Segundo Reinado: o presbiterianismo e o metodismo.
Presbiterianos e metodistas
trouxeram ao País um novo conceito educacional, em um período em que o ensino
(básico e superior) ainda não havia se estabelecido no Brasil de forma
definitiva e abrangente. Há uma explicação histórica, anterior a 1808.
Enquanto
a Espanha investia em suas colônias, com urbanização e investimento em educação,
a primeira universidade do continente americano foi inaugurada em 1538, em São
Domingos, e em seguida no Peru, em 1551, a Universidade de San Marcos, Portugal
não instalou uma única universidade no Brasil colônia.
Restrita à Companhia de
Jesus, a educação básica teve espaço no Brasil de 1549 a 1759, ano em que são
expulsos das colônias portuguesas. Segundo José Luiz de Paiva Bello,
em Pedagogia em Foco, História da educação no Brasil, no “momento da
expulsão os jesuítas tinham 25 residências, 36 missões e 17 colégios e
seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades
onde havia casas da Companhia de Jesus” (1998). Era o cenário educativo de
então.
Mesmo com a chegada da Família
Real, em 1808, a instalação de gráficas, da Biblioteca Nacional com base no Rio
de Janeiro, e abertura de uma faculdade de medicina na Bahia, o ensino
continuou restrito aos membros da aristocracia portuguesa e nativa. Stella
Garrido, em A educação confessional protestante no Brasil, lembra que,
apesar da criação do Colégio Pedro II (1837), e o início de um incentivo à
educação brasileira, “as escolas secundárias eram precárias e não alcançavam as
camadas mais pobres, que constituíam a maioria da população” (2005). A
informação é comprovada pelo o fato de que, em 1900, 65% dos brasileiros eram
analfabetos.
Os protestantes de conversão
Neste contexto, pontua Garrido,
“o aparecimento das primeiras instituições educacionais no Brasil deu-se
através de evangelizar e, também, como é o princípio de toda escola, promover o
conhecimento”. O surgimento dos primeiros colégios protestantes a partir da
segunda metade do século XIX “propiciaram mudanças na pedagogia brasileira que
são notórias na atualidade”, conclui.
Superior em números absolutos em
relação ao metodismo, a Igreja Presbiteriana foi a primeira a instalar uma
escola protestante no Brasil. Inaugurada em 1870 pelo missionário George
Whitehill Chamberlain e a também missionária Mary Annesley, a Escola América
começou a funcionar na sua própria residência, no bairro da Luz, no centro de
São Paulo. A revista O Sonho (Mackenzie. Ano1, n.1, 1998), destaca
que a nova instituição possuía classes mistas com meninos e meninas e uma nova
pedagogia. Em 1876 D. Pedro II visitou a Escola América e elogiou sua
metodologia.
A Universidade Presbiteriana
Mackenzie deve parte de sua origem ao advogado Jonh Theron Mackenzie que,
atraído pela nova metodologia, investiu 42.000 dólares. Em 1877 Shamberlein
fundou a faculdade de Filosofia. Nove anos depois o já Colégio Mackenzie
disponibiliza os primeiros cursos superiores em áreas como Engenharia e
Comércio, sendo a primeira instituição brasileira a disponibilizar o curso,
embora descredenciado em 1932.
O mestre em Filosofia e doutor em Educação
pela UNIMEP de Piracicaba (SP) Almiro Schulz, em o Projeto de Universidade
Protestante no Brasil, Educação Superior, lembra que após o descredenciamento o
Mackenzie passou por uma crise, mas em 1938 conseguiu reverter a situação, com
a obtenção da licença e equiparação.
“Daí para frente teve início uma nova
fase, principalmente na década de 40, quando novos cursos foram implantados e
em 1952 foi fundada e organizada a Universidade Mackenzie”, conclui.
Atualmente a Universidade
Presbiteriana Mackenzie desponta como uma das principais universidades privadas
do País, de ensino confessional, como um marco no coração da cidade de São
Paulo e, pelo segundo ano consecutivo, classificou-se como a melhor instituição
de ensino não pública do Estado de São Paulo, de acordo com o Ranking
Universitário Folha (RUF). Além do curso de Engenharia e Comércio, a APM
foi a primeira a criar um programa de estágios na década de 20 e a trazer a
cultura do basquete ao Brasil. Também é destaque na área de Humanas e Exatas.
Universidade Metodista de São
Paulo
A primeira escola metodista no
Brasil foi inaugurada em setembro de 1881, na cidade de Piracicaba (SP), pela
missionária Martha Hite Watts. Na sequência, surgiu o Colégio Americano de
Petrópolis (1895), o Colégio Mineiro (1902) e o Colégio Izabela Hendrix (1904).
Entretanto, foi em São Bernardo do Campo, no ABCD paulista, que, em 1938, foi
fundada a Faculdade de Teologia da Igreja Metodista. Trinta e dois anos depois
surgiu o Instituto Metodista de Ensino Superior (IMES).
Hoje o IMES possui três Campi em
São Bernardo do Campo (Rudge Ramos, Vergueiro, Planalto). São mais de 117 mil
metros quadrados de área total, que inclui 70 espaços, entre laboratórios,
agências experimentais e clínicas modernas, além de bibliotecas e anfiteatros
espalhados pelos três campi da Universidade (metodista.br). Pela quinta vez
consecutiva é a melhor universidade privada do Brasil em Comunicação e
Informação.
Em setembro de 2010 foi inaugurado o Centro de Memória Metodista
que reúne centenas de peças relacionadas à história da comunicação visual e
escrita, do campo da educação religiosa, além de peças históricas do final do
século XIX e começo do século XX e 300 obras raras publicadas entre o século
XVI e XIX, como bíblias, livros e manuais litúrgicos.
"As opiniões ditas pelos
colunistas são de inteira e única responsabilidade dos mesmos, as mesmas não
representam a opinião do Gospel+ e demais colaboradores."
Johnny Bernardo é pesquisador,
jornalista, colaborador de diversos meios de comunicação e licenciando em
Ciências Sociais pela Universidade Metodista de São Paulo. Há mais de dez anos
dedica-se ao estudo de religiões e crenças, sendo um dos campos de atuação a
religiosidade brasileira e movimentos destrutivos. Contato: pesquisasreligiosas@gmail.com
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