São Paulo vai ter primeira igreja ortodoxa russa do Patriarcado de Moscou
Bispo Leonid, em visita à capital
paulista, conta detalhes do novo projeto para o Brasil.
O dirigente da Diocese (Eparquia)
da Argentina e da América do Sul do Patriarcado de Moscou, o Bispo Leonid,
conta em entrevista exclusiva ao jornalista Alexander Krasnov, da Voz da Rússia
os detalhes do projeto.
A seguir, a entrevista:
Voz da Rússia: São Paulo que é a
maior metrópole do Brasil, tem várias igrejas ortodoxas cristãs. Podemos citar
a representativa comunidade sírio-libanesa, que edificou uma grande e linda
catedral na cidade. Mas, curiosamente, a comunidade russa, que também é de
confissão ortodoxa, não tem uma igreja em funcionamento permanente. Essa
informação procede?
Bispo Leonid: Não é à toa
que estamos fazendo esta entrevista no Bairro do Ipiranga, ao lado do parque
que abriga o histórico Monumento à Independência do Brasil. Porque justamente
aqui existe a antiga Igreja da Nossa Senhora de Anunciação, que pretendemos
transformar na primeira paróquia do Patriarcado de Moscou nesta cidade.
Acontece que o último pároco daqui faleceu em 2004, e desde então a igreja não tem
serviço permanente. Nós retomamos as missas aqui há dois anos, as quais por
enquanto são realizadas apenas uma vez por mês por sacerdotes de outras
paróquias ortodoxas que temos no Brasil, e que se revezam. Mas agora existe a
intenção de revitalizar a Igreja da Nossa Senhora de Anunciação, para melhor
atender à comunidade russa daqui, que descende da chamada primeira leva da
imigração russa que chegou ao Brasil no início do século XX. Há pessoas aqui
que têm a mais sincera fé cristã ortodoxa, e nós faremos o possível para cuidar
delas, dando a atenção necessária. Vamos atender ao pedido, que elas fizeram ao
Patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, para serem aceitos no Patriarcado de
Moscou.
VR: Falta muito para
formalizar esse processo?
BL: Tivemos que enfrentar
algumas dificuldades. Principalmente, devido ao fato da localização bastante
particular da igreja, que fica ao lado de um lugar histórico, que é o Parque da
Independência e o Monumento à Independência do Brasil. Mas são formalidades que
podem ser vencidas. Já ultrapassamos boa parte dos trâmites burocráticos, e
agora a formalização da paróquia é uma questão de meses.
VR: As comunidades russas no
exterior enfrentam um problema comum: é cada vez menor o número de imigrantes
da primeira geração, conhecedores da cultura e da fala do seu país de origem.
Já os mais jovens não têm mais o domínio do idioma russo. Como a Igreja
Ortodoxa Russa encara esse problema?
BL: Eu gostaria de começar a
minha resposta citando um trecho da Bíblia que diz: “Não há judeus nem helenos
na Igreja do Cristo.” Ou seja, as nossas diferenças culturais ou linguísticas
não afetam o nosso credo. Quanto aos próprios textos litúrgicos, há muito tempo
existem traduções para o português e o espanhol que usamos na nossa eparquia de
acordo com cada país ou região. O problema que temos que enfrentar é outro: é a
perda do domínio do idioma no dia a dia. Uma vez que isso acontece, a pessoa se
vê incapaz também de entender todo o significado e a carga emocional que a
liturgia ortodoxa russa carrega. Por isso, inicialmente o problema deve ser
tratado ensinando o idioma russo aos membros das comunidades. Feito isso, a
igreja vai fazer de tudo para ajudar os crentes a entender também os textos
religiosos escritos no idioma eslavo eclesiástico, que também precisa de
adaptações para ser compreendido por falantes da língua russa moderna.
Nota da Redação: A Diocese
da Argentina e da América do Sul do Patriarcado de Moscou foi criada nos anos
40 do século XX a pedido dos imigrantes russos. Atualmente, reúne 18 paróquias
da Igreja Ortodoxa Russa.
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