Espiritismo e religiões de matrizes africanas não celebram a Páscoa – Por Lyza Freitas
O período da Páscoa está incluído
no calendário oficial brasileiro, sendo considerado feriado nacional pelo fato
de o País ter maioria católica, que tem o costume de cultuar e enaltecer o
calvário de Jesus Cristo, incluindo sua morte e ressurreição, celebrada todos
os anos na Semana Santa, pela tradição. Mas outras religiões têm distintas
formas de encarar a data.
Para os cristãos protestantes da
Igreja Batista, a Páscoa significa a morte e a ressurreição do profeta Jesus
Cristo, simbolizando a chegada da paz e libertação, que surge para tirar as
pessoas do pecado, assim como na Católica. Contudo, a Igreja Batista ela
traz diferenciações da visão encarada pelo cristianismo católico.
Os protestantes batistas
relacionam o período da Páscoa à passagem do Êxodo, descrita no Antigo
Testamento da Bíblia. “Para os batistas, ela representa também o
livramento dos nossos pecados, porque para que haja remissão, tem que haver
morte e depois a ressurreição”, explica Ideilde Gomes, missionário da
Congregação Batista Testê Mani.
O missionário diz que o
entendimento também está relacionado às citações bíblicas do êxodo do povo
Hebreu para o Egito, por ser considerado, na visão da religião batista, um povo
escolhido por Deus para cumprir uma missão.
“Para os batistas, Deus usa
Moisés para libertar o povo Hebreu da escravidão no Egito, querendo fazer entender
que essa libertação é sinal de vida nova para o povo, e por isso tem essa
conotação de renovação do espírito."
Em relação aos costumes
vivenciados na Semana Santa, Ideilde explica que embora a Páscoa faça
parte do calendário nacional, os batistas não costumam festejá-la ao mesmo modo
dos católicos. Não há no cronograma anual nenhuma atividade especial pela passagem
da Páscoa, porque, apesar de representar um rito importante, ele é visto com a
mesma relevância de outros.
“O nosso cronograma segue o ritmo
anual normalmente, com a realização de cultos. Só que nesse período, nós
costumamos apresentar, debater e refletir acerca da morte e ressurreição de
Jesus, até para que os irmãos entendam e conheçam melhor sobre a sua religião.
Além do que, como é feriado, é de costume muitos saírem para retiros
espirituais a fim de estudar a Palavra."
Também não há a abstenção quanto
a comer carne vermelha, nem a outros alimentos, pois para a congregação,
na Bíblia está claro que é preciso respeitar a vontade e o direito do outros de
se alimentar como tenham vontade, sem se fazer julgamentos sobre
o que as pessoas comem ou deixam de comer, de acordo com o esclarecimento
de Ideilde.
Matrizes africanas
Diferente das igrejas católicas e
batistas, para as religiões de matrizes africanas, como a Umbanda, o Candomblé
e a Quimbanda, a data não é confraternizada da mesma forma. É um momento de
celebração da vida, da existência do ser humano e de fazer o bem, como em todos
os outros dias.
“Procuramos trocar saberes, usar
os dias de feriado para ficarmos mais próximos uns dos outros", explica
Maria Assunção, coordenadora do Grupo Coisa de Nêgo.
"Temos os costumes de
valorizar os seres humanos, festejando a vida entre nós, como uma forma
de nos fortalecermos como humanos e como religião, sabendo da
importância das nossas raízes, de Oxalá e da sua palavra.”
Comparando com o catolicismo, as
religiões de matrizes africanas, veem Oxalá como se fosse Jesus Cristo, e
Olorum como se fosse Deus todo poderoso. Enquanto católicos e cristãos
celebram o período pascal, o Candomblé busca um maior contato com Olorum,
munido da certeza de que no plano terrestre a missão dos humanos é fazer o bem.
O objetivo diário, segundo Maria
Assunção, é refletir sobre a vida e a passagem na terra, e fazer com que
todos possam compreender que precisam ser felizes. “Nos terreiros, como em
outras datas, é um momento de festejar, de dizermos que somos importantes
por sermos filhos de Olorum."
Continua Assunção:
"é um momento de fazermos diferente na busca incessante por um
mundo melhor e com mais amor, um momento de estarmos mais perto da nossa
espiritualidade”.
Ela explica que não há Páscoa como referência nos princípios
do Candomblé, religião que anseia o Axé a todos, ou seja, deseja força, energia
positiva, bons fluidos.
O Candomblé procura também
estar totalmente conectada com os elementos da natureza e com o meio ambiente.
No espiritismo
A doutrina ou religião espírita
também não reconhece a Páscoa em sua filosofia. Os espíritas veem a Sexta-Feira
Santa como um dia qualquer, em que realizam suas atividades normalmente,
como também não cultuam qualquer outro dia considerado santo no Brasil. Isso
porque a rotina doutrinária considera e sempre aborda o Deus
vivo, descrucificado.
Para ela, não importa o Deus
morto, sofrido, mas a adoração ao Cristo vivo, desconectado da
cruz.
“Respeitamos as outras religiões, e entendemos que todas têm as suas
tradições e costumes. Portanto, já que o calendário estabelece o feriado, nós
geralmente aproveitamos a data para promover eventos", informa José
Lucimar, presidente da Congregação Espírita. "Neste ano, estamos
fazendo o 1º Acampamento para Jovens Espíritas", acrescenta.
Os princípios do espiritismo têm
cunho científico-filosófico-religioso, e se voltam para o aperfeiçoamento moral
do homem, que acredita na possibilidade de comunicação com os espíritos através
do fenômeno da mediunidade. Ela busca melhor compreensão não apenas do
universo tangível (científico), mas também do universo transcendental
(religião), fundamentando-se na figura de Jesus Cristo.
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