Rio de Janeiro terá espaço oficial para religiões afro-brasileiras
O Rio de Janeiro deve ganhar o
primeiro espaço oficial destinado à prática das religiões afro-brasileiras e
com preocupação ambiental.
Será no Avenida Edson Passos, no Alto da Boa Vista,
dentro do Parque Nacional da Tijuca, uma área bastante usada por umbandistas e
candomblecistas para a colocação de oferendas em culto aos orixás. Eles sofrem
críticas porque os trabalhos podem poluir a floresta e provocar incêndios.
O projeto executivo do Espaço
Sagrado da Curva do S ainda está sendo desenvolvido e, por isso, os
custos não foram mensurados. Mas na quinta-feira, 10/04, o secretário Carlos
Portinho participou de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio
e, diante de diversos representantes de grupos religiosos, garantiu o andamento
do projeto.
Portinho não sabe precisar quando
seria a inauguração, pois o Fundo da Mata Atlântica, que reúne recursos de
compensações ambientais depositados por empresas e que iria bancar a
construção, ainda terá de aprová-lo. Os religiosos estavam apreensivos porque o
secretário anterior, Índio da Costa, do qual Portinho era sub, titubeou, por
pressão de parlamentares evangélicos.
"O Índio me disse que iria suspender
o projeto porque dois deputados evangélicos de seu partido não entendiam como
dinheiro público podia ser usado para fazer um 'macumbódromo'", relatou o
deputado Carlos Minc, antecessor na pasta e criador do projeto. Foi Minc, na
condição de presidente da comissão da Alerj de combate às discriminações e
preconceitos de cor, raça e etnia e procedência nacional, quem convocou a
audiência. Ele está elaborando um projeto de lei que prevê a implantação de
outros espaços sagrados em parques do Rio. "Eu expliquei ao secretário
que 'macumbódromo' é um termo pejorativo que só reforça o estigma, e que o dinheiro não
é público, e sim oriundo de compensações ambientais. A ideia é dar liberdade,
conforto e segurança às pessoas e proteger a floresta. Não é um gueto. Esse
espaço consta do plano de manejo do parque há 14 anos."
"Foi criada
uma polêmica como se fôssemos cancelar o projeto, mas isso não aconteceu.
Qualquer projeto de viés ambiental, seja de que grupo for, é de interesse da secretaria",
assegura Portinho. A ideia é que o espaço sirva a dois propósitos: o
enfrentamento da intolerância religiosa e a conservação da Mata Atlântica.
Pela maquete baseada na proposta
inicial, a área teria por volta de dez mil metros quadrados e estruturas ao
redor das árvores e margens dos rios, para que os rituais não poluam a área,
além de coletores de resíduos religiosos.
Os frequentadores serão orientados a
usar materiais biodegradáveis nas oferendas, como folhas de bananeira e cuias
de coco no lugar dos recipientes de barro, vidro e louça, a não abandonar
alimentos na mata e a não acender velas, que podem dar início a queimadas. Uma
sinalização especial mostrará recantos indicados para cada orixá, conforme sua
relação com os quatro elementos da natureza.
"Esse espaço pode virar
referência no Brasil. O fundamentalismo religioso e ecológico não compreende
essa cultura, que vive da harmonia com a natureza. O mato, as folhas, as águas,
as árvores, tudo isso é sagrado para nós, muito antes de a ecologia falar
disso. Tem religião que usa cachoeira para batismos e ninguém fala nada",
esclarece o babalaô Ivanir dos Santos.
"Tem muita sujeira, sim,
gente que vai nas lojas e deixa trabalhos na floresta sem entender o que está
fazendo. Colocam vidros de perfume, garrafas, alimentos que provocam
doenças", diz Graça Nascimento, coordenadora do Movimento Inter-religioso
do Rio. "Os orixás querem água limpa, ambiente saudável. As casas de
umbanda e candomblé trabalham o cuidado com a natureza há muitos anos."
Fonte: http://www.dgabc.com.br
Comentários