Berlim abrigará primeiro templo do mundo a reunir sinagoga, mesquita e igreja
Como casa das três grandes
religiões monoteístas, proposta da House of One é celebrar diversidade e
tolerância. Cristãos, judeus e islâmicos projetam juntos local para prece e
discussão, com espaço até para ateus.
Berlim vai ganhar um templo
multirreligioso: a House of One (Casa de Um Só), o primeiro edifício sacro do
mundo a reunir, sob o mesmo teto, uma sinagoga, uma mesquita e uma igreja. Com
início das obras programado para os primeiros meses de 2016, a construção será
um teste de tolerância.
Na apresentação do projeto à
imprensa, nesta terça-feira (03/06), o rabino Tovia Ben Chorin ficou lado a
lado com o pastor luterano Gregor Hohberg e o imame Kadir Sanci no futuro
canteiro de obras. Num gesto simbólico, os três empilharam nas mãos três
tijolos claros, o material com que será erguido o futuro templo.
"Cidade das feridas, cidade
dos milagres" é como o rabino Ben Chorin define a capital alemã, local
onde foi planejado o Holocausto, um dos maiores crimes contra a humanidade do
século 20. Os pais do religioso fugiram em 1935 da Alemanha para a então
Palestina, e ele veio de Jerusalém para Berlim há seis anos.
Público jovem como alvo
Uma união assim seria, sem
dúvida, rara no Oriente Médio ou em países como a Nigéria, onde conflitos
religiosos custam tantas vidas humanas, mas tampouco é corriqueira na
Alemanha, onde ainda se esbarra na rejeição aos que seguem outras religiões.
Membros de outras religiões
também serão convidados para os diferentes cultos na House of One. Essa
demonstração de abertura visa atrair, sobretudo, os jovens, que raramente são
vistos nas igrejas cristãs. Por sua vez, a comunidade judaica de Berlim,
praticamente exterminada no Holocausto, cresce lentamente.
Apenas os seguidores do Islã veem
aumentar a presença dos jovens fiéis na vida religiosa. Visando esse público,
fora alguns versos em árabe, as preces de sexta-feira serão basicamente
realizadas em alemão. Tal opção não é comum nas mesquitas, onde geralmente se
celebra em turco, árabe ou bósnio. No meio tempo, fundamentalistas islâmicos
mais linha dura vêm criticando na internet a participação muçulmana no projeto.
Renovar sem confundir
O projeto de arquitetura sacra na
capital é iniciativa da Comunidade Judaica de Berlim, do Seminário Abraham
Geiger, do islâmico Fórum de Diálogo Intercultural e da Congregação Luterana
das Igrejas de São Pedro e Santa Maria.
Orçado em 43 milhões de euros, a
intenção é que seja inteiramente financiado por crowdfunding (patrocínio
público). No site da House of One, em sete idiomas, qualquer pessoa poderá
contribuir, comprando um tijolo.
Seu futuro endereço é a Praça
Petriplatz, no centro histórico da cidade: um terreno baldio na antiga Alemanha
Oriental, usado como estacionamento até algum tempo atrás. Porém, há 700 anos,
cristãos têm celebrado aqui os seus cultos, primeiro numa igreja gótica, depois
numa neobarroca e, então, numa em estilo neogótico.
Essa última igreja foi seriamente
danificada durante a Segunda Guerra Mundial e demolida durante os anos do
regime comunista da República Democrática Alemã (RDA). O novo templo ecumênico
será erguido exatamente sobre os fundamentos dessa última casa de oração.
"Nós não queríamos
simplesmente construir uma igreja", explica o pastor Hohberg. "A
cidade se transformou. Gente de todas as confissões vive aqui e quer um lugar
onde possa se congregar." Por isso, as três religiões monoteístas vão projetar,
construir e habitar juntas a nova casa.
"Mas não estamos à procura
de uma nova religião e não queremos confundir nossas identidades",
acrescenta o imame Sanci. Por sua vez, o rabino liberal Ben Chorin almeja um
lugar para aprender sobre religião sem missionarismo, para discuti-la
criticamente. Ele lembra que "a fala é mais lenta do que as armas".
O "Um" da diversidade
Espaços multirreligiosos, ou
ecumênicos, existem em outros lugares, como em aeroportos ou na Organização das
Nações Unidas (ONU). Em Berna, capital da Suíça, está sendo construído um
centro com esse caráter. Mas a iniciativa berlinense é diferente: trata-se de
um edifício sacro interreligioso.
O escritório de arquitetura Kuehn
Malvezzi, de Berlim, foi quem venceu a concorrência internacional. Seu projeto
pretende se destacar majestosamente na paisagem urbana, com uma torre de 32
metros de altura pairando sobre um cubo e uma cúpula central.
Cada uma das três religiões vai
dispor de dependências próprias para seu culto, com dois andares, como de praxe
nas mesquitas e sinagogas, ou apenas um, no caso da igreja.
"Nós voltamos
bem atrás na história e constatamos que as formas originais dos locais de culto
para cristãos, judeus e muçulmanos não diferem tanto assim entre si",
revela o arquiteto Winfried Kühn.
Ainda assim, o projeto foi várias
vezes adaptado às necessidades das diferentes religiões. Sinagogas e mesquitas
precisam estar direcionadas para o leste, e a sinagoga precisa de espaço na
parte superior para as cabanas do Sucot, a Festa dos Tabernáculos.
Graças às frestas de inspiração
oriental na alvenaria, o edifício todo será banhado de luz. O espaço mais amplo
será a nave abobadada central, um local de encontro e diálogo para fiéis e
ateus.
Uma questão, porém, permanece em
aberto e sujeita a diálogo: "Quem é o 'One', o Deus único?". A
resposta do rabino Ben Chorin é bem direta e singela: "É alguém que criou
a diversidade. Senão seria muito chato."
Fonte: http://www.dw.de
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