Escritoras criticam violência contra religiões africanas – Por Mariana Tokarnia
"A violência em relação à
população negra está tão generalizada que um dos maiores perigos é haver uma
naturalização disso", diz escritora.
Escritoras criticaram a
violência contra as mulheres negras e as religiões africanas, na conferência
Diálogos Afro-Atlânticos, que abriu o Festival Latinidades. Para escritora moçambicana
Paulina Chiziane, as religiões tidas como mundiais presentes na África estão
levando ao desmantelamento da identidade africana.
Já a escritora brasileira Ana
Maria Gonçalves disse que as mulheres são as que mais sofrem com a
violência contra a população negra. "A mulher negra é a que mais
sofre. Na maioria das vezes é ela que está criando os filhos, sozinha. Ela se
torna responsável pela segurança dos filhos, é ela que zela por essa proteção.
Ela fica acordada quando o filho sai à noite e ela que dá uma série de recomendações
aos filhos", disse a escritora.
De acordo com o Mapa da Violência
2014, as principais vítimas de mortes violentas no país são jovens do sexo
masculino e negros. “A violência em relação à população negra está tão
generalizada que um dos maiores perigos é haver uma naturalização disso".
Além de fazerem parte desse
contexto, as mulheres negras recebem uma carga a mais, segundo a escritora, e,
para isso, muitas vezes suportam relações abusivas. "É o mito da mulher negra
forte. Não sei o quanto tem feito bem a gente assumir essa condição. Não tem
superpoder, não tem capa mágica para enfrentarmos situações onde a maioria das
pessoas desabaria", comparou.
No mesmo debate, a moçambicana
Paulina fez um alerta sobre a perda da identidade cultural no Continente Africano.
"Vejo a colonização começar de novo através da religião". Segundo a
escritora, as igrejas mundiais, como as cristãs e as islâmicas, têm perseguido
as religiões africanas e discriminado os africanos que desejam se integrar a
esses credos.
A escritora cita exemplos do
cristianismo, no qual manifestações de espiritualidade por africanos são vistas
pelas igrejas como algo diabólico e não como dons. "Igrejas ditas
superiores estão a fazer o desmantelamento da identidade [africana]". O segundo romance da brasileira
Ana Maria Gonçalves, Um Defeito de Cor, de 2006, conquistou o Prêmio Casa de
las Américas na categoria literatura brasileira.
Já Paulina Chiziane, iniciou a
atividade literária em 1984, com contos publicados na imprensa moçambicana. Com
o seu primeiro livro, Balada de Amor ao Vento, editado em 1990, tornou-se a
primeira mulher moçambicana a publicar um romance. Sua obra mais recente é Por
Quem Vibram os Tambores do Além, de 2013, sobre a vida espiritual dos
curandeiros.
O Festival Latinidades 2014:
Griôs da Diáspora Negra começou ontem (23/07) e vai até o dia 28 de julho, em
Brasília. Na programação estão conferências, debates, feiras, saraus e shows,
além de outras atividades. A programação completa pode ser acessada no site do
evento, no endereço: www.latinidades.com.
Fonte: http://exame.abril.com.br
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