Religiões do futuro – Por Aparecida Andrade
A religiosidade tem evoluído
juntamente com as mudanças da sociedade contemporânea.
À medida que a humanidade evolui
através das transformações que ocorrem, seja devido à própria evolução humana,
mudança de hábitos, novas descobertas, transformam-se, consequentemente, o meio
em que vivemos.
E a fé, as religiões também passam por transformações, rupturas
e percepções de valores, de acordo com o tempo em que vivemos? Para entender
essas realidades, especialistas apontam as causas dessas mudanças e tendência
das religiões do futuro.
Boa parte da humanidade, é fato,
acredita em um único criador. Mas as formas e meios de reconhecê-lo e adorá-lo
às vezes se divergem. Dentro de um contexto histórico, a primeira divergência
ocorreu na Europa, quando passou por intensas transformações, marcadas pelo
renascimento e pelo avanço do capitalismo.
“Com o declínio da idade média e o
surgimento do capitalismo, reformadores como Lutero, Calvino, Zuínglio e outros
trouxeram a autonomia das Escrituras e dos homens”, descreve o teólogo
pós-graduado em teologia sistemática, Cláudio Henrique.
Na época, a insatisfação com a
Igreja Católica era geral, a vida luxuosa dos eclesiásticos, de acordo com o
que diz a história, era alvo de ataques, assim como a venda de indulgências, o
perdão automático dos pecados, como uma passagem para o paraíso.
O marco
inicial para a ruptura veio da Alemanha, em 1517, quando o monge Martinho
Lutero escreveu uma lista de críticas, as 95 teses, contra o comércio de
indulgências, surgindo assim a supremacia da Bíblia sobre as autoridades
eclesiásticas.
Com essa ruptura, nascia a Igreja
Protestante europeia, que defendia que os cristãos poderiam perfeitamente
exercer sua fé sem depender de intermediários, como padres, santos e rituais.
De acordo com Cláudio, a nova religião implantou um dogma simples. “Doutrinas
comuns atualmente, tais como a salvação pela fé, o batismo, acesso a Bíblia,
revolucionando o cristianismo moderno”, define.
Segundo ele, nos últimos 100 anos
as transformações se aprofundaram, o que trouxe rupturas às estruturas de
controle sobre o homem centrado na igreja. “Nas últimas décadas, os impactos
das transformações políticas, sociais, intelectuais e econômicas nos levaram a
viver em um mundo cada vez mais dinâmico, automatizado e humanista, o que
favoreceu as transformações e surgimentos de novas igrejas”, explica.
Fundamento
O teólogo Cláudio pontua que a
religião nasceu com a queda do homem, com o propósito de religar o homem caído
à presença de Deus. “O termo 'religião' vem do latim religare, que é religar a
Deus, pois, após a queda do homem e da mulher no Jardim do Éden, entrando assim
o pecado na humanidade, a religião passa a ser a religação entre Deus e o
homem”, narra.
A partir da queda, explica o
teólogo, “como forma de preencher o vazio de suas almas, os seres humanos
sentem a necessidade da crença ou de crer em alguma coisa que se apresente como
solução, buscando-a em qualquer coisa. Para nós, cristãos, é a fé em Jesus
Cristo, filho de Deus, e nas Escrituras como revelação de Deus para o homem”,
ressalta.
Para ele, atualmente, a religião
tem sido vista por muitos como algo retrógrado e representando atraso na alta
modernidade. “Para a maior parte das pessoas, a visão de ter uma
espiritualidade, acreditar em algo transcendente, é algo da moda, mas pertencer
a uma religião e defender suas doutrinas passou a representar algo
ultrapassado, 'politicamente incorreto'”, analisa.
A igreja do futuro
Para o teólogo pós-graduado em
teologia sistemática Henrique, os precursores das religiões do futuro são a
comunidade evangélica que surgiu na década de 70, em Goiânia. Que mudou,
segundo ele, a forma de louvor brasileiro, trazendo também o movimento
apostólico.
“A dificuldade de alcançar esta resposta nos diz sobre a realidade
das religiões em Goiânia e no Estado de Goiás, pois, a exemplo dos EUA de 20
anos atrás, existiram igrejas que eram televisivas, as pessoas se encontravam
somente em frente a seus aparelhos de televisão, não havia contato presencial,
havendo coleta de dízimos e tudo, mas isto é coisa do passado”, afirma.
No Brasil, cita ele, começou há
pouco tempo estes movimentos tipo RR Soares, Valdomiro Santiago e Silas
Malafaia.
“Apesar dos mesmos terem igrejas físicas, pode-se dizer que igreja do
futuro é aquela que sabe usufruir da ampla tecnologia como forma de diferencial
da igreja passada. As doutrinas não serão modificadas em si”, mas, acredita,
por exemplo, que haverá pregação personalizada ao vivo por webcam, via
smartphone ou tablet, escolha da pregação com votação via rede social com
engajamento presencial.
Destaca que a segunda onda de
modelos de igreja apontando para o futuro da igreja como cada vez mais
segmentado, por exemplo, são as igrejas que só ministram libertação, outras
apenas de cura divina, ministério da palavra para jovens, empresários,
mulheres, casais, inclusivistas, definindo assim o rol membro e público alvo.
Homossexualidade aceita por Deus
Dentre as igrejas do futuro
citadas por Henrique está a inclusiva, que, com base na definição da teologia,
é uma igreja para todos que buscam verdadeiramente viver na graça de Deus que
acolhe a diversidade humana.
"A maioria das denominações cristãs que atuam
hoje no mundo não tolera acolher gays, lésbicas, bissexuais e transexuais sem a
pretensão de reeducá-los, incorporam na sua educação moral uma série de
princípios heteronormativos que nada tem a ver com a essência da mensagem de
Deus", define o manual da teologia inclusiva.
Pensando em encontrar um espaço
acolhedor e de respeito mútuo, o pastor Edson Santana, 49 anos, após não ser
aceito, enquanto homossexual, na igreja onde congregava, resolveu fundar, em
2009, a Igreja Renovada Inclusiva para a Salvação (Iris), em Goiânia, com
aproximadamente 20 membros.
"A Igreja Iris é cristã e tem uma base bíblica
teológica para existir, toda sua documentação e registro foram legalizados em
2010, junto ao fórum de Transexuais de Goiás", assegura.
Edson conta à reportagem do
Diário da Manhã que, antes de fundar uma igreja inclusiva, trabalhava na igreja
tradicional em todas as áreas e sentia-se excluído até por ele próprio, devido
às traduções da Bíblia e ao que lia sobre homossexualidade.
"Sofri como
todos os LGBTT (lésbicas, gay's, bissexuais, travestis e transexuais)
evangélicos sofreram e sofrem. Todo tipo de violação de direitos humanos e
falta de amor ao irmão em não aceitá-lo como ele é", lamenta.
Preconceito
De acordo com Edson, a igreja
inclusiva é hoje considerada por muitos uma anátema ou uma dissidência de
ex-evangélicos que fundaram uma doutrina. Mas a teologia inclusiva prefere,
apenas, afirmar que são cristãos, discípulos de Jesus e ter a Bíblia como única
fonte de fé.
Ele reconhece que enquanto pastor
da Igreja Renovada Inclusiva para Salvação, Iris, já sofreu muitos
preconceitos. "Coisas como: 'igreja de gay deve ser igual boate, um
puteiro, uma depravação' e muitos outros desrespeitos", revela.
O pastor afirma que "a
lição/missão/chamado que Deus deixou foi de amarmos o nosso próximo. Entendendo
isso a nossa igreja começou desde o início um trabalho com todos os
marginalizados pela sociedade. Realizamos com o reconhecimento das secretarias
de Estado e município eventos e intervenções com travestis, profissionais do
sexo e população LGBTT em geral (doentes, filhos colocados para fora de casa
pela sua sexualidade etc) e ainda parcerias com diversas entidades de direitos
humanos, conselhos como LGBTT e de saúde", descreve sobre o trabalho
realizado pela igreja.
Bíblia
A igreja inclusiva interpreta a
Bíblia a partir de uma cultura muito diferente daquela na qual nasceu. “Ignorar
esse fato ou esse princípio hermenêutico fundamental pode nos fazer cair em
fundamentalismo, literalismos, leituras descontextualizadas e numa manipulação
do texto bíblico. Ainda se a homossexualidade fosse um pecado, ela não nos
afastaria do amor de Deus”, assegura.
Pontua ainda “casos como a mulher
que hoje tem voz e antes não podia abrir a boca, tudo mudou no mundo e houve em
muitas épocas das traduções conveniências para se culpar a homossexualidade”,
menciona.
O pastor Edson Santana acredita
que a igreja inclusiva poderá ser uma das religiões do futuro, a qual se
tornará comum como as já existentes hoje católica e protestante. “Creio sim,
talvez nem existamos mais ou o termo de igrejas inclusivas. Nos Estados Unidos,
em 2013, o concílio da Igreja Presbiteriana determinou que todas as igrejas
presbiterianas americanas tivessem a inclusão como bandeira”, salienta.
Para o teólogo Cláudio Henrique,
a cada dia a igreja tende para uma religião mais tolerante e segmentada. Mas o
que liga todas as religiões em um só propósito “é a busca de conhecer o
transcendente que leve a conhecer a si próprio e a alcançar as grandes
respostas da vida, tais como: para que nascemos, vivemos e morremos, para onde
iremos após a morte, existência de um Deus criador de todas as coisas”,
conclui.
Para o pastor Edson, igrejas como
Bola de Neve, Trance Divino, Igreja da Maconha e Igreja Renovada Inclusiva para
Salvação (Iris) podem ser consideradas as novas religiões do futuro desde que
preguem o verdadeiro amor. “Fazer o bem, dar a quem precisa, vivemos em um
mundo onde as pessoas são carentes de fé, amor, compaixão e muito mais, de uma
palavra amiga e confortadora, consoladora”, declara.
Já para o teólogo Cláudio,
existem muitas igrejas que não cumprem os requisitos básicos para serem
consideradas como religião. “Tais como: sacramento, redenção, liturgia,
doutrinas, salvação e doutrinas das últimas coisas, são fundamentos para
atender necessidades específicas e seus argumentos são finitos”, conclui.
Outras religiões
Igreja do Trance Divino
A Igreja do Trance Divino foi
fundada em 2005, na cidade de Alto Paraíso de Goiás, após o pastor Veet Prayas
e missionário Gauthana receberem de Jáh (Deus) orientação para criá-la. A
Igreja visa propiciar a seus membros uma vivência e experimentação indo
profundamente por entre os caminhos da música eletrônica, mais especificamente
o trance.
Além de ser destituída de
qualquer forma de preconceito, adota como lema a verdade, a bondade e a beleza.
Dentro da sua hierarquia possui membros que ocupam cadeiras eclesiásticas,
sendo elas a de pastores do trance, bispado, monastério e missionários.
Tem como objetivo levar o Trance
Divino por todas as partes do universo e o enriquecimento cultural de seus
membros prezando pela paz e harmonia do planeta.
Igreja Bola de Neve Church
É uma denominação evangélica
pentecostal fundada no ano 2000 por Rinaldo Luís de Seixas Pereira, que tem por
público alvo todos que quisessem crer na Palavra de Deus. Composto
principalmente por pessoas de estilo alternativo.
O nome Bola de Neve vem da
proposta dos fundadores que tinham por objetivo propagar o trabalho como uma
bola de neve, aumentando de tamanho e alcance ao longo do tempo.
Igreja da Maconha
Surgida na década 30 na Jamaica,
a seita messiânica sustenta que a maconha é sagrada e Deus é Jah. Aqui no
Brasil, o religioso Geraldo Antonio Baptista é o líder da igreja Niubingui
Etíope Coptic de Sião do Brasil, chamada de Igreja da maconha.
Recebeu uma sentença de oito
anos, 10 meses e 20 dias de reclusão, a serem cumpridos inicialmente em regime
fechado. Após ser acusado de semear, cultivar e colher sem autorização a planta
usada para a preparação da droga para ao consumo de outras pessoas, inclusive
adolescentes.
Igreja de Satã
A igreja de satanás foi
oficialmente criada por Anton La Vey em 1966. La Vey também escreveu a bíblia
satânica. A sede da igreja fica em San Francisco, Estados Unidos. No Brasil, a
igreja de satanás foi fundada em 1997 por Lord Ahriman, conhecido como Deacon
Paulo.
Fonte: http://www.dm.com.br
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