Votos de Dilma e o Templo de Salomão - Por Rogério Jordão

Formando cerca de um quarto do eleitorado, se a eleição para presidente se desse apenas entre evangélicos, certamente haveria segundo turno, com alta probabilidade de vitória da oposição, segundo dados da última pesquisa Ibope realizada em 18 de julho.

Se no cômputo geral (levando em conta todos os eleitores independentemente de credo religioso) Dilma tem 38% e seus adversários somados 37%, o que indica uma possibilidade alta, mas não a certeza de segundo turno, ao olharmos apenas para o eleitor evangélico, Dilma teria 29% e os adversários somados 41%, o que levaria certamente a disputa para o segundo certame. Neste, indica o Ibope, entre os evangélicos, Aécio bateria Dilma por 35% a 33%. Entre os católicos, se dá o inverso: Dilma ganharia do tucano por 45% a 32%.

Se 36% dos eleitores em geral não votariam de jeito nenhum em Dilma, entre os evangélicos esta rejeição salta para 41%; já a rejeição a Aécio, que é de 16%, não oscila segundo a religião.

O Ibope não faz distinção entre evangélicos pentecostais e não pentecostais. Entre estes últimos a rejeição a Dilma é ligeiramente maior, conforme mostram outros institutos de pesquisa.

Neste contexto ganha importância a inauguração, na próxima quinta-feira (31/07), no bairro do Brás, em São Paulo, do monumental Tempo de Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus, cujos representantes na política, aglutinados em torno ao PRB, têm, até aqui, manifestado apoio à reeleição de Dilma. Segundo noticiaram os jornais, Dilma deve comparecer à inauguração do Templo. Com pedras trazidas de Israel, comporta 10 mil pessoas em um complexo de onze andares.

Como se sabe, o principal líder da Igreja Universal, Edir Macedo, é também controlador da Rede Record. Suas relações com o governo não vem de agora. Em outubro de 2009, por exemplo, Lula compareceu como presidente à inauguração de estúdios da Rede Record no Rio de Janeiro.

A religião, que foi importante na eleição de 2010, quando temas como o aborto ganharam visibilidade na disputa do segundo turno, deve ocupar, de novo, lugar de destaque em 2014. A questão da homossexualidade, o casamento gay, pode ser o tema da vez, quem sabe? 

O certo é que a mistura religião-política traz reflexos concretos para muita gente: a aprovação ou regulação de políticas públicas já existentes podem sofrer reveses ou simplesmente saírem de pauta por conta de acertos políticos. 

Em maio, por exemplo, o Ministério da Saúde incluiu o aborto legal (em caso de estupro e outros) na tabela do SUS. Após reações contrárias, voltou atrás. Tanto evangélicos como católicos têm suas bancadas de deputados federais e estaduais e convergem em temas como o do aborto, encarado como assunto moral.

A ligação entre religião e política vem de longa data. A primeira bandeira brasileira, aquela do Império, de 1822, trazia no seu centro uma cruz intersectada ao meio, a da Ordem de Cristo. 

Historicamente, a separação entre Igreja e Estado no Brasil só aconteceu em 1889, com a proclamação da República. Uma das maiores rebeliões populares brasileiras, a de Canudos, se deu, em parte, por conta desta separação, Antônio Conselheiro enxergava na República o anti-Cristo e profetizava o retorno de D. Sebastião que instauraria a Justiça Divina na Terra.


Não é o caso, é claro, de evocar o arraial de Canudos agora, mas foi o que me ocorreu ao pensar no contexto brasileiro a relação entre religião e política.

Talvez por ser majoritária, embora em declínio em número de fiéis, a Igreja Católica tenha métodos diferentes de lidar com a política dos abraçados pelas igrejas evangélicas, particularmente as pentecostais. Mas no fim, é sempre a política: a disputa sobre quem vai ter o que, quando e como.



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