A nova fórmula da Universal para cativar a classe média – Por Talita Abrantes
Para especialista, construção de
Templo de Salomão e repaginação de rituais seria resposta de Edir Macedo à
evolução da classe média (e avanço dos concorrentes)
Quem foi à inauguração do Templo
de Salomão no final de julho não presenciou cenas de exorcismo, um tema caro à Igreja
Universal do Reino de Deus em seus primeiros anos.
No lugar, os convidados (entre
eles, a presidente Dilma
Rousseff) assistiram a um desfile de rituais típicos da religião judaica,
além, é claro, de uma amostra do império que o bispo Edir Macedo construiu.
A construção do templo de
proporções hiperbólicas, cujo alvará é investigado pelo
Ministério Público, seria parte da estratégia do bispo para garantir o
futuro da denominação evangélica neopentecostal que fundou em 1977.
“Ele está procurando reconstruir
todos os mitos fundantes da igreja”, afirma Edin Abumanssur, professor e líder
do Grupo de Estudos do Protestantismo e Pentecostalismo (GEPP) da PUC-SP.
A mudança no discurso e na
postura não seria gratuita. Em uma década, o número de brasileiros que
professam a fé evangélica cresceu mais de 6%. Mas os novos crentes não foram
parar na Igreja Universal do Reino de Deus. Ao contrário. Entre 2000 e 2010, o número de seguidores da
fé de Edir Macedo só encolheu, cerca de 200 mil pessoas deixaram os bancos da
igreja, segundo dados do último Censo.
O bispo Valdemiro Santiago,
fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, seria o principal concorrente. Com
foco na cura divina e baseado em uma forte estrutura televisiva (estratégia
semelhante à adotada pela Igreja Universal do Reino de Deus em seus primórdios), Santiago arrebanhou
cerca de 300 mil novos fieis no mesmo período.
A evolução social da classe média também explicaria o fenômeno, segundo o professor. “À medida que o público tem uma ascensão social, a igreja tende a mudar também. Ela caminha para um discurso mais racional e menos dependente do milagre”, diz.
Não é de hoje, contudo, que a Igreja Universal do Reino de Deus se vale de elementos de outras religiões para construir sua doutrina. De acordo com o especialista, foi exatamente o sincretismo religioso (capacidade de absorver elementos de outras crenças) que garantiu o sucesso da igreja no Brasil.
Beirando os 70 anos, a meta de Macedo agora é perpetuar o universo que fundou. Ao que tudo indica, o plano de sucessão já está em curso. Segundo o especialista, o bispo assume “um papel mais simbólico, de líder supremo que não precisa mais arregaçar a manga e expulsar demônio”, diz. No ano passado, Macedo entrou para a lista de bilionários da Forbes.
EXAME.com: Por que a Universal está usando tantos elementos do judaísmo?
A evolução social da classe média também explicaria o fenômeno, segundo o professor. “À medida que o público tem uma ascensão social, a igreja tende a mudar também. Ela caminha para um discurso mais racional e menos dependente do milagre”, diz.
Não é de hoje, contudo, que a Igreja Universal do Reino de Deus se vale de elementos de outras religiões para construir sua doutrina. De acordo com o especialista, foi exatamente o sincretismo religioso (capacidade de absorver elementos de outras crenças) que garantiu o sucesso da igreja no Brasil.
Beirando os 70 anos, a meta de Macedo agora é perpetuar o universo que fundou. Ao que tudo indica, o plano de sucessão já está em curso. Segundo o especialista, o bispo assume “um papel mais simbólico, de líder supremo que não precisa mais arregaçar a manga e expulsar demônio”, diz. No ano passado, Macedo entrou para a lista de bilionários da Forbes.
EXAME.com: Por que a Universal está usando tantos elementos do judaísmo?
Edin Abumanssur: A Igreja Universal está passando por uma transição bastante profunda e o Templo de Salomão é o elemento mais evidente disso. A hipótese é que o bispo Edir Macedo esteja procurando reconstruir todos os mitos fundantes da igreja.
EXAME.com: O que explica a mudança
de foco?
Edin Abumanssur: O público da Universal está mudando. Aquele público mais carente e dependente do milagre está indo para a Igreja Mundial do Poder de Deus. Para se diferenciar, o Edir Macedo tem que criar um discurso mais racional, menos milagroso. Se o pastor depender sempre do milagre, a hora que o milagre não acontece, ele fica numa posição frágil. É diferente de um sacerdote. É outro tipo de relação.
EXAME.com: Como isso se relaciona
com a estratégia de longo prazo da igreja?
Edin Abumanssur: Das neopentecostais, a Universal é a que tem as melhores condições para se perpetuar no tempo. Na Mundial do Poder de Deus, se o bispo Valdemiro Santiago morrer, acaba a igreja, por exemplo. A Universal tem passado por uma burocratização muito grande. O bispo Edir Macedo não cuida mais da holding, são os outros que fazem a estrutura funcionar. Ele assume um papel mais simbólico, de líder supremo que não precisa mais arregaçar a manga e expulsar demônio.
EXAME.com: Qual o discurso
pregado na Universal a respeito do dinheiro que permitiu a construção de um
templo de R$ 680 milhões?
Edin Abumanssur: Há duas visões sobre dinheiro no meio evangélico. Para as igrejas tradicionais [como Igreja Luterana e Presbiteriana] e algumas pentecostais, o dinheiro é uma coisa que serve para pagar conta – aluguel do prédio, água, luz e impostos. E isso é tratado de uma forma transparente com a comunidade. Todo mundo sabe para onde foi cada centavo dos dízimos e ofertas. Na Universal, dinheiro não é dinheiro. É o mediador espiritual do homem com Deus. Antes [no Velho Testamento], o sacrifício era feito com ovelha ou pomba. Eles acreditam que, hoje, o sacrifício é o seu dinheiro. O compromisso não é com a comunidade, é com Deus. O fiel nem quer saber o que o pastor vai fazer com o dinheiro.
EXAME.com: Por que igrejas como a
Universal encontraram mais espaço no Brasil?
Edin Abumanssur: As igrejas do protestantismo vieram importadas dos Estados Unidos e da Europa com uma mentalidade diferente da brasileira e se recusaram a dialogar com essa visão. Já a Universal trabalha com uma cultura religiosa muito presente no meio do povo brasileiro, que vem de uma mistura de diferentes religiões.
EXAME.com: Copiar outras
religiões não é novidade na história da Universal. Alguns especialistas até
afirmam que esta seria a fórmula do sucesso da igreja. O senhor concorda?
Edin Abumanssur: O sincretismo já estava presente no imaginário e na cultura do brasileiro. O Edir Macedo teve sucesso ao fazer este apanhado das religiões orientais, com a teologia da prosperidade, do candomblé e do catolicismo popular. Para a Universal, o mundo está dividido em duas facções – uma liderada por Deus e outra, pelo mal. A esperteza dele foi dar nome e cara para o diabo. Isso significa que você pode controlá-lo desde que mostre de que lado está na batalha espiritual.
EXAME.com: A televisão ajudou
neste processo?
Edin Abumanssur: As igrejas
neopentecostais não existiriam se não fosse o acesso à mídia. Eles não
trabalham com um grupo de membros, com a ideia de vida comunitária – que é
comum nas igrejas tradicionais. Eles trabalham com uma flutuação enorme de pessoas.
Portanto, a mídia de massa é fundamental.
Fonte: http://exame.abril.com.br
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