Com canal de TV e movimento civil, ateus tentam ‘sair do armário’ nos EUA – Por Aleem Maqbool
"Às vezes, as coisas
precisam ser ditas, e as lutas precisa ser lutadas, mesmo que sejam
impopulares. Aos ateus enrustidos: você não está sozinho, você merece
igualdade."
Assim terminou o inflamado
discurso do presidente do grupo: Ateus Americanos, David Silverman, no
lançamento da primeira emissora de televisão dos EUA dedicado àqueles que não
acreditam em Deus, a TV Ateu.
Depois, foram exibidos
testemunhos de ateus proeminentes. "É uma das melhores decisões
que já tomei na minha vida e eu defendo completamente que as pessoas 'saiam do
armário'", diz Mark Hatcher, do grupo Ateus Negros da América.
"Sair do armário" é
como muitos ateus americanos descrevem o que ainda é, para muitos, algo muito
difícil de ser admitido publicamente. Uma recente pesquisa realizada
pelo Pew Research Center mostra que americanos preferem, a um ateu, ter um
presidente com cerca de 70 anos ou abertamente gay ou que nunca tenham tido
qualquer cargo público.
Surpreendentemente, uma pesquisa
anterior da Pew sugeriu que os entrevistados nos Estados Unidos consideravam
ateus menos confiáveis que estupradores. Um dos novos programas da TV Ateu já
sentiu o "gostinho" de como muitos americanos percebem "os não
crentes".
"Então você estava estudando
para ser um padre e agora não acredita em Deus? Você é o diabo", um
interlocutor disse ao apresentador. "Você é um marxista, você é um ateu e
você é da Rússia", diz outro.
'Saindo do armário'
Em um dos maiores encontros de
estudantes ateus no país, em Columbus, no estado de Ohio, Jamila Bey, da Aliança
Secular de Estudantes, disse que muitos participantes estavam receosos sobre
dar entrevistas, o que podia ser visto em seus pescoços.
"Cordões vermelhos
significam 'Você não pode falar comigo'", diz Bey. "Muitos alunos não
são 'assumidos'. Seus pais podem não saber que eles são ateus ou que questionam
sua religião."
Ela disse que muitos estavam
preocupados com ostracismo ou temiam sofrer violência se revelassem que não
acreditavam em Deus. Lasan Dancay-Bangura, de 22 anos,
é o chefe do grupo de estudante ateus de sua universidade. Ele já contou para a
mãe sobre seu ateísmo, experiência que relembra com um suspiro profundo, mas
ainda não "saiu do armário" para o pai.
"Fala-se o tempo todo sobre
pessoas que estão sendo expulsas e enviadas para campos de Bíblia onde são
forçadas a ser religiosas. Eu não quero perder o meu pai para isso."
Já Katelyn Campbell, de 19 anos,
de West Virginia, tem tido problemas com a comunidade. "No colégio, era um
silêncio total quando eu andava pelo corredor. Ou alguém cuspia em mim",
diz Katelyn.
Há dois anos, ela protestou
contra a inclusão da religião e da abstinência em suas aulas de educação sexual
escolar. "As pessoas agora costumam trazer essa discussão, que é de
valores que são muito pessoais e muito particulares", diz ela.
Campanha
No evento de estudantes ateus em
Ohio, eles estão tentando mudar as coisas. Camisetas a venda no evento trazem
os dizeres "Godless Goddess (Deusa sem deus)" ou "Um ateu é
assim".
Ao lado da tenda está Andrew
Seidel, um advogado da Fundação Liberdade da Religião. "Muitos americanos
pensam que nunca conheceram um ateu, mas isso é porque muitos têm medo de
reconhecer isso publicamente", diz Andrew.
"A forma como vamos vencer
essa luta é pela demografia. Assim como sair do armário foi importante para o
movimento LGBT, é importante para nós dizer em alto e bom som e com orgulho:
'Eu sou um ateu!'"
E os dados demográficos estão
realmente mudando, especialmente entre os jovens, onde a proporção daqueles que
se identificam como "religiosamente não afiliados" está aumentando.
Mas os Estados Unidos têm uma
proporção muito maior de pessoas que dizem que a religião é muito importante
para eles em comparação com países europeus. "A América é uma anomalia,
em primeiro lugar, porque foi fundada por puritanos", diz Bey, da Aliança
Secular de Estudantes.
Mais recentemente, em especial
para a comunidade afro-americano na luta pelos direitos civis, mas também para
muitas outras comunidades minoritárias, a religião tornou-se uma forma de
ganhar aceitação, segundo Bey.
"Foi uma maneira de dizer:
Eu sou um bom cristão, você deve deixar o meu filho ir para a escola com as
criancinhas brancas, Jesus ama a todos nós'", diz ela.
O novo canal de TV faz parte do
movimento dos direitos civis dos grupos ateus. Mas a aceitação real,
particularmente para aqueles que exercem cargos públicos, em um país onde
nenhum deputado é abertamente ateu, pode estar ainda um pouco distante.
Fonte: http://noticias.br.msn.com
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