Ensino religioso: Quando Deus se torna disciplina na rede de ensino - Por Luana Fernandes
Quão difícil é ensinar religião a
alunos do Ensino Fundamental da rede pública? Como tratar de um assunto que é
tão complexo até para os adultos?
O professor Marco Antônio Marques Lopes, na
profissão há 34 anos e há 14 lecionando na Escola Municipal Professor Florestan
Fernandes, em Santos, diz que descobriu uma fórmula.
O sucesso de suas aulas é
perceptível para quem assiste a relação entre o professor e os alunos. Abraços,
sorrisos e descontração mostram que o ensino vai além das quatro paredes das
salas de aula. Há cinco anos lecionando a aula de Ensino Religioso, Lopes
acredita que todas as aulas deveriam ser desta forma.
“Eles não têm nota. Só
tem frequência. É uma disciplina como outra qualquer, a diferença é que ela não
reprova. Aliás, seria interessante que todas as matérias fossem assim. Isso é
muito interessante. O aluno é obrigado assistir, como outra qualquer, só que
não tem atividade para nota. As atividades que eu tenho são a criação de alguns
textos sobre os filmes”, explica.
Mas o que faz a aula de ensino
religioso ser tão dinâmica para alunos do sexto ao nono ano? Boas histórias
contadas em filmes. “Quando eu comecei a dar aula de Ensino Religioso, as aulas
ficavam muito parecidas com aulas de História e de Geografia, porque os alunos
tinham que estudar aquilo como se fosse uma matéria normal. Ai, eu senti que
não havia um interesse muito grande. Foi quando eu tive a ideia, junto com a
coordenadora, de trabalhar os filmes. A aula é de Ensino Religioso, mas também
é sobre valores, sobre o ensino de valores. Não é só a religião pela religião.
Toda religião trabalha valores. Trabalhamos também muito com o cotidiano da
escola”, conta o professor, que ministra a aula uma vez por semana em cada
classe, durante 45 minutos.
Para gerar o debate entre os alunos
e despertar o interesse pelo assunto, o professor escolhe um filme de acordo
com a situação atual na escola ou no cotidiano dos alunos.
“Eu não tenho uma
lista fechada de filmes. Vão acontecendo coisas e eu vou escolhendo o filme de
acordo com a situação, seguindo o cotidiano da escola. Eles também me dão
ideias. E como eu também dou aula de inglês, eu uso a trilha sonora dos filmes
para a aula de inglês. Tudo se encaixa. Sempre sem esquecer o ensino
religioso”.
O que diz a Lei?
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação diz que o ensino religioso deve ser oferecido em todas as escolas
públicas de ensino fundamental, mas a matrícula é facultativa. A definição do
conteúdo é feita pelos Estados e municípios, mas a legislação afirma que o
conteúdo deve assegurar o respeito à diversidade cultural religiosa e proíbe
qualquer forma de proselitismo.
“O ensino religioso, católico e
de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina
dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o
respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a
Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação”,
diz o primeiro parágrafo do documento que estabeleceu um acordo entre o então
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Vaticano, de 2008.
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