Organização de evangélicos Rede Fale relança campanha contra o "voto de cajado" – Por Magali do Nascimento Cunha
Contrária ao mercado do voto
religioso, a Rede Fale, uma organização não governamental que congrega
evangélicos de diferentes igrejas, lançou na quarta-feira (10/09) uma campanha contra
essa prática, muito comum em tempos de campanha.
E não é para menos. Os
evangélicos hoje, segundo o mais recente censo do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estática (IBGE), representam 22% da população brasileira, ou 42,2
milhões de pessoas, um contingente expressivo que pode decidir uma eleição.
Além disso, na atual disputa presidencial, dois dos 11 candidatos a presidente,
Marina Silva (PSB) e Pastor Everaldo (PSC), são evangélicos.
Batizada de “Diga não ao voto de
cajado”, referência ao instrumento usado pelos pastores para tocar animais, o
objetivo da campanha é qualificar a participação evangélica nas eleições,
estimulando a discussão de temas relacionados ao pleito, e combater o uso da
religião como instrumento para obtenção de votos, afirma a secretária-executiva
da Rede Fale, Morgana Boostel, 27 anos, psicóloga e fiel da Igreja Batista.
“Nosso foco é trabalhar para combater a estratégia de angariação de votos dos
membros da igreja como curral eleitoral”.
Segundo ela, a Rede Fale defende o
direito a manifestação de fé, garantido pela Constituição, mas também que o
espaço religioso não seja usado como trampolim eleitoral.
Morgana lembra que
essa prática, além de não ser um exemplo da “melhor tradição cristã de
participação política”, também é vedada pela legislação eleitoral. Pastores,
bispos e também padres são proibidos de fazer propaganda eleitoral em igrejas e
templos. Também não é permitida a fixação ou distribuição de material de
campanha dentro desses ambientes.
Na avaliação da Rede Fale, um dos
perigos para o cristão que deseja atuar politicamente é achar que, por ser
“crente”, está abençoado para a política.
“Essa é a concepção que leva milhões
de brasileiros a votar no ‘pastor’ ou no ‘irmão’ abençoado pelo pastor. Como
consequência, muitos parlamentares são eleitos sem compromisso com a justiça ou
a democracia, e sem coerência partidária, programática ou ideológica, e se
tornam ‘despachantes de igrejas’, gente que vota sempre para a expansão do
poder de suas igrejas, associações, rádios e empresas”, afirma um dos trechos
do manifesto divulgado ontem pela organização.
Para Morgana, isso acontece
principalmente nas eleições para os cargos proporcionais (deputado e vereador),
mas não tem muito apelo nas disputas presidenciais. Além disso, de acordo com
ela, há um mito de que o eleitorado evangélico vota do mesmo jeito e sempre de
acordo com as lideranças religiosas.
“Isso é bobagem. Tem cristão mais
progressista, tem uns mais conservadores, não é uma massa que pensa igual, a
reboque dos pastores”, garante.
De acordo com Morgana, a campanha contra o voto
de cajado está sendo feita nas redes sociais e todo o material de divulgação
pode ser acessado na página da entidade, que pretende até o dia das eleições
realizar atos em todos os estados.
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