Pixies, entre a religião e o surrealismo - Por Tárik de Souza
Apenas quatro discos, Surfer
Rosa, Doolittle, Bossanova e Trompe le Monde, lançados
entre 1988 e 1991, bastaram para entronizar o quarteto de Boston Pixies entre
as bandas mais relevantes do rock.
Black Francis (guitarra, vocais), Kim Deal
(baixo), Joey Santiago (guitarra solo) e Dave Lovering (bateria) pavimentaram o
rito de passagem entre a tosqueira punk e a sujeira melódica da era grunge.
Kurt Cobain, do Nirvana, confessou ter composto o hino de sua geração, Smels
Like Teen Spirit, calcado nos Pixies, cujo ciclo inicial acabou em 1992.
Ao partir para a carreira-solo,
Black Francis inverteu o nome artístico para Frank Black e liderou The
Catholics, em seis álbuns, até 2003.
Kim Deal remontou seu grupo
inaugural, The Breeders, com a irmã gêmea Kelley. Em 2004, os Pixies
reagruparam-se para excursionar. Vieram ao Curitiba Pop Festival, reapareceram,
em 2011, no SWU, em Itu e, neste ano, no Lollapalooza paulistano.
Com nova baixista, Paz
Lenchantin, após 23 anos sem inéditas, desembocam num CD formado por
três EPs recentes, como se testassem o novo repertório por etapas.
Indie Cindy,
a partir da balada-título, sob rajadas de guitarra e discurso convulsivo (dias
e noites perdidas/ transformaram-me num mendigo desgraçado/ sem alma/ sou o
juiz supremo do purgatório), desvela a assinatura autoral fragmentária de
Black.
Sem o contraponto dialético de Deal, vadeia entre a religiosidade
herdada do padrasto e o surrealismo de franco-atirador.
Os decibéis esgarçados do solista
acicatam Blue Eyed Hexe, enquanto em Jaime Bravo a mistura de
inglês e espanhol reverbera sua alongada estada em Porto Rico.
Do falsete
obsessivo de Magdalena 318 ao memorável encadeamento de guitarras e
diálogos corais de Bagboy, os Pixies e Black reafirmam-se artífices, numa
seara onde predomina a linha de montagem.
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