Religiosos reunidos no Cazaquistão pedem diálogo político contra extremismo – Por Arturo Escarda.
Líderes religiosos de todo o
mundo, reunidos na quinta-feira (18/09) em Astana para preparar seu Congresso
trienal, demonstraram unidade e determinação para serem escutados pela classe
política em um mundo afetado como nunca por guerras que frequentemente são
apresentadas como conflitos entre civilizações.
"É muito necessário que o
Congresso transcenda o diálogo entre os líderes religiosos para promover outro
fórum, entre líderes religiosos e políticos. E deve ser um diálogo entre
pessoas que se escutam", disse em entrevista para a Agência Efe o
presidente do Senado do Cazaquistão, Qasim Zhomart Tokaev.
Importantes representantes do
islã, diversas igrejas cristãs, líderes do budismo, judaísmo, hinduísmo,
taoísmo e xintoísmo se encontraram na capital cazaque na 13ª reunião da
Secretaria do Congresso de Líderes das Religiões Mundiais e Tradicionais.
A quinta edição do Congresso, que
será realizada em Astana entre os dias 10 e 12 de junho de 2015 com o título: "Diálogo entre líderes religiosos e políticos em nome da paz e o
desenvolvimento", quer abrir um novo espaço para a comunicação e a
cooperação.
"Convidaremos políticos que
sejam realmente capazes de contribuir ao diálogo entre distintas religiões.
Entre eles, certamente, haverá presidentes e primeiros-ministros", disse
em entrevista coletiva o vice-ministro de Relações Exteriores cazaque, Yerzhan
Ashikbaev.
Só assim, como reiteraram muitos
dos reunidos em Astana, será possível passar das palavras à ação, algo
considerado fundamental para se buscar uma solução definitiva para uma série de
conflitos com uma falsa, segundo eles, tintura religiosa defendida justamente
por aqueles que iniciam as guerras.
Com os extremismos islamitas no
centro de atenção mundial, devido, sobretudo, à ascensão da organização
jihadista Estado Islâmico no Iraque e na Síria, todos os líderes reunidos em
Astana deixaram claro que de nenhuma maneira se pode relacionar o terrorismo
com uma das religiões mais importantes do planeta.
"Todos os líderes reunidos
hoje aqui destacaram que o islã não tem nada a ver com o terrorismo. É algo
que, sobretudo, sublinharam representantes das religiões cristãs", disse à
Efe Yerzhan Mayamerov, mufti supremo do Cazaquistão.
O chefe espiritual do Conselho
dos muçulmanos cazaques lembrou que o Cazaquistão, um país no qual convivem
mais de 140 povos de praticamente todas as confissões, soube evitar como poucos
o fundamentalismo religioso.
"Desde a declaração de nossa
soberania (1991) instamos todo o mundo à paz. E como primeira prova de nossa vontade,
rejeitamos então a posse de armas nucleares", herdadas pelo país da União
Soviética, explicou Mayamerov.
Tokaev também ressaltou o aspecto
político para explicar a convivência em seu país e destacou que para as pessoas
não aderirem ao radicalismo "é preciso elevar seu nível de vida econômico,
fomentar a educação desde a infância, educar com tolerância, explicar aos
jovens que o futuro está na razão humana, nas tecnologias".
"E, certamente, é preciso
colocar uma barreira para todos aqueles que predicam o radicalismo",
acrescentou.
Os conflitos no mundo todo
"afetam cada vez mais e mais lugares, e milhões de pessoas sofrem. E não
fazem isso por suas posturas políticas, mas por guardar fidelidade à herança de
seus antepassados", disse por sua vez Roman Bogdasarov, chefe da
Secretaria do Conselho inter-religioso da Rússia.
O representante da Igreja
Ortodoxa Russa lamentou que "alguns líderes políticos desonestos se
empenhem em provocar enfrentamentos", e disse que os líderes de milhões de
fiéis em todo o planeta não podem seguir os extremistas, sejam estes dirigentes
de Estados ou terroristas.
"Graças a Deus que este
encontro pode acontecer hoje aqui, em um momento muito difícil para o mundo,
quando há tantas perseguições por motivos religiosos", afirmou por sua
parte Tomasz Peta, arcebispo de Astana e presidente da Conferência de Bispos
Católicos do Cazaquistão.
A reunião da Secretaria do
Congresso concluiu com uma declaração na qual os presentes ressaltaram que
"os atos terroristas não devem ser associados nem de nenhuma maneira
justificados por nenhuma religião", disse Ashikbaev.
"Ninguém pode perpetrar atos
de violência em nome de Deus. É uma perversão, uma tergiversação da religião. É
algo que vem do diabo", afirmou o líder dos católicos cazaques.
O Congresso, criado em 2003 pelo
presidente cazaque, Nursultan Nazarbev, em outro momento histórico de muitos
conflitos no mundo todo, em plena discussão internacional sobre a conveniência
de uma guerra no Iraque, completou uma década como um dos encontros internacionais
mais importantes de tantos que a antiga república soviética organiza.
Sua quinta edição, da mesma forma
que o encontro de hoje, irá acontecer no Palácio de Paz e Reconciliação,
edifício construído em Astana pelo famoso arquiteto Norman Foster especialmente
para receber o fórum.
Com uma população de pouco mais
de 16 milhões de habitantes, o Cazaquistão é o nono maior país do mundo por
extensão, abriga importantes reservas de hidrocarbonetos e é o primeiro
produtor mundial de urânio.
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