Teólogos defendem reforma ‘feita de baixo’ e maior protagonismo das mulheres na Igreja – Por Marcela Belchior
Uma reforma da Igreja Católica
com vistas a superar discriminações, exclusões por razões de gênero, religião,
cultura, etnia, classe social, orientação e opção sexual, procedência
geográfica e relações de casais; que crie uma comunidade acolhedora, solidária
e samaritana, onde caibam todas e todos.
Estas são as propostas dos teólogos
reunidos no 34° Congresso de Teologia, realizado de 04 a 07 de setembro, em
Madrid, capital da Espanha, com o tema:
"A reforma da Igreja a partir da
opção pelos pobres”
O evento reuniu pessoas de
diversos países e continentes, culturas e religiões, que construíram uma
reflexão conjunta e experienciaram uma convivência fraterno-sororal, diálogo e
troca de ideias. No documento final do Congresso, a comunidade participante
aponta caminhos para uma renovação da instituição religiosa, a partir da
seguinte indagação: "Jesus fundou a Igreja?”.
"A resposta é que
iniciou uma comunidade de iguais, um movimento de homens e de mulheres, que o
acompanharam e se comprometeram na construção do Reino de Deus como Boa Notícia
para os Empobrecidos”, expõe o documento.
Esse movimento, destaca o
documento, continuou em comunidades cristãs com responsabilidades
compartilhadas e especial protagonismo das mulheres. Eram elas que tomavam as
decisões com a deliberação de todos os membros e se tinha como ideal a
comunidade de bens.
"Com o passar do tempo, esse ideal foi desfigurando-se
até desembocar em uma Igreja aliada ao poder, clerical, piramidal e patriarcal,
embora houvesse sempre coletivos que trabalharam pela reforma e o retorno ao
ideal evangélico de vida”, aponta.
A reforma da Igreja seria uma
resposta aos desafios do nosso tempo, requerendo a prática da democracia, o
reconhecimento e exercício dos direitos humanos, entre estes os direitos
sexuais e reprodutivos. Indica como primordial também a retomada de um governo
sinodal, vigente durante os primeiros 10 séculos do Cristianismo, com a
participação da comunidade laica, que é a base da Igreja.
Atuações no compromisso com os
vulneráveis
Esses princípios, de acordo com o
documento final do Congresso, seriam traduzidos no respeito à laicidade, na
crítica do poder e no compromisso com os setores mais vulneráveis.
Seria
convertido ainda na denúncia do neoliberalismo, que o Papa Francisco tem qualificado
de "injusto em sua raiz” e que fomenta uma economia de exclusão, uma
globalização da indiferença, uma nova idolatria do dinheiro, um meio ambiente
indefeso diante dos interesses do mercado divinizado, além de uma incapacidade
para compadecer-se diante dos clamores dos outros.
Soma-se a isso o apoio a
alternativas políticas e econômicas propostas pelos fóruns sociais.
"A
reforma tem de ser feita desde baixo, desde a base social e eclesial, e exige
uma nova localização: situar-se no lugar e ao lado dos excluídos do sistema,
que são escandalosamente maioria na população mundial e que estão crescendo por
razão da crise. Requer, da mesma maneira, um horizonte que a oriente: a Igreja
dos pobres, e um princípio ético-evangélico a seguir: a opção pelos pobres”,
aponta.
O 34° Congresso de Teologia
reuniu opiniões, testemunhos e interpelações das igrejas do Pólo Sul mundial,
sobretudo as procedentes da África e da América Latina, que refletem sua
riqueza cultural, seu potencial libertador e suas propostas de reforma. Essa
escuta, para a organização do Congresso, implica numa mudança na maneira de
pensar, de viver, de produzir, de relacionar-se o Norte com o Sul do planeta,
criando uma relação não opressora e não colonizadora, mas de cooperação mútua.
Fonte: http://site.adital.com.br
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