Centro de Umbanda protesta na porta do fórum de Londrina contra intolerância religiosa – Por Alexandre Sanches

Integrantes de religiões de culto afro, apoiado por outros grupos sociais diversos, realizaram no início da tarde desta sexta-feira (03/10), na entrada do Fórum de Londrina, um protesto contra a intolerância religiosa. 

O protesto, que contou com atabaques e cantos de cunho religioso, foi organizado por membros do Centro de Umbanda Cachoeirinha de Xangô diante de uma ação judicial, a terceira, na Vara Criminal, por pertubação de sossego durante os horários de culto de louvor, em que os atabaques são tocados das 20h às 22h.

Com paramentos utilizados nos cultos afros, a mãe Cláudia Ikandayô utilizava uma corrente sobre o corpo, pedindo ao Judiciário o direito de liberdade de culto. A audiência contra uma dirigente do centro, Bete Obaloby, estava marcada para começar às 14h.

No entanto, a autora da reclamação não compareceu à audiência, o que acabou suspendendo o julgamento. Agora, a ré na ação aguarda a manifestação do Ministério Público por um novo agendamento para o julgamento ou o arquivamento da ação.

Mãe Cláudia diz que não é contra a vizinha do Centro, que está instalado na Rua Humberto Picinin, na Vila Brasil, área central, que reclama do barulho. Porém, ela pede que as pessoas reclamem dos seus direitos, mas que também respeitem ao direito de culto religioso. 

"Pedimos apenas que as pessoas não sejam intolerantes. Estamos vivendo um momento que estamos voltando para as senzalas, no meio do mato, para fazer o culto escondidos", afirmou.

Para a religiosa, as igrejas de culto cristãos, por exemplo, possuem amparo governamental e garantias dos seus cultos. "Queremos ter este mesmo amparo pra não sermos penalizados. Esta já é a terceira ação contra a gente. As duas primeiras foram na Cível. Agora na criminal. Afinal de contas, qual é o crime que estamos cometendo ao praticarmos o nosso culto religioso?", questionou.

De acordo com mãe Cláudia, os atabaques cessam os trabalhos às 22h, quando passa a vigorar a lei do silêncio. No entanto, reconhece que em algumas ocasiões, os atabaques param as 22h30, mas de forma excepcional.  

Para evitar problemas futuros, diz que já compraram material para erguer o muro com a vizinha em mais dois metros. Porém, a falta de recursos, uma vez que o Centro trabalha com doações dos membros, sem dízimo como nas igrejas cristãs, faz com que os esforços sejam mais lentos.

"Todos nós trabalhamos para nos sustentar e manter o Centro. Hoje estamos aqui, protestando, deixando de trabalhar. Seremos prejudicados nos nossos vencimentos. Mas não podemos deixar de protestar contra a intolerância religiosa", enfatizou. Ela garante que os membros do Centro querem aplicar isolantes acústicos no Centro, mas que para isso demanda recursos que o grupo não possui.

Para complicar, mãe Cláudia afirmou que há pelo menos dois anos aguardam uma vistoria por parte da prefeitura para fazer a medição de decibéis nos horários de culto. 

"Eles não comparecem. Aliás, precisamos de uma série de vistorias para que possamos ter os alvarás definitivos de funcionamento", explicou, informando que o Centro funciona em Londrina há pelo menos dez anos.

Outras reclamações

O caso do Centro de Umbanda Cachoeirinha de Xangô não é o único que foi parar na Justiça. O Centro de Tereza Pinto de Oliveira, a Kaia Undê, no Jardim Olímpico, também chegou a ter audiência judicial para tentar regularizar a situação.

De acordo com Kaia Undê, o Centro foi instalado na Rua do Hipismo quando ainda não havia residências no bairro. "O interessante é que quem está reclamando contra o centro é justamente o morador que deixou material de construção no nosso terreno quando começou a construir a sua casa. Hoje estamos aqui, sendo acionados judicialmente também", desabafou.


O grupo aguarda para breve uma nova audiência em uma das varas cíveis de Londrina.




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