“Cristianismo é a religião mais perseguida do mundo”, afirma estudiosa - Por Jarbas Aragão


Defensora de direitos humanos pede que cristãos se mobilizem politicamente.

Pergunte para a maioria dos evangélicos brasileiros sobre a vida dos artistas gospel e eles possivelmente saberão dizer alguma coisa sobre o assunto. Questione sobre os ensinamentos de líderes influentes, que possuem programas de TV, e uma parcela considerável mostrará conhecimento sobre o tema. 

Contudo, se perguntados sobre a situação dos cristãos que sofrem perseguições pelo simples fato de crerem em Jesus, certamente o quadro é outro.

A popularidade da chamada “teologia da prosperidade” impede que as igrejas de modo geral estejam familiarizadas com o tema do sofrimento, ainda que ele esteja presente em boa parte do Novo Testamento. 

O silêncio quase absoluto da grande mídia brasileira sobre o assunto ajuda a reforçar o desconhecimento sobre um assunto tão atual e relevante.

O lançamento do livro: “Perseguidos: O Ataque Global aos Cristãos” (Mundo Cristão) vem suprir essa lacuna. Escrito por Paul Marshall, Lela Gilbert e Nina Shea, a obra reúne uma série de informações atuais sobre a situação de diferentes ramos do cristianismo em várias partes do mundo. Em resumo, procura comprovar por que o cristianismo é a religião mais perseguida do mundo.

O texto, em estilo jornalístico, reúne relatos do que está por trás das estatísticas. Dá um nome aos que chamamos genericamente de “perseguido”, descreve as suas famílias, igrejas e condições de vida. Preocupa, entristece e desafia o leitor à oração e ação!

O portal Gospel Prime entrou em contato com Nina Shea e conversou sobre a urgência do tema. Advogada de formação, atua como defensora de direitos humanos, sobretudo a liberdade religiosa. 

Ela conta que a defesa dos cristãos perseguidos pela sua fé é sua vocação, tendo sido impactada ainda na década de 1980 ao saber que irmãos e irmãs eram espancados e mortos na China por se recusarem a renunciar a Jesus Cristo.

Nina explica que “o testemunho deles afetou profundamente a minha própria jornada espiritual e senti a necessidade de chamar a atenção para essa injustiça através de meus textos e palestras”. 

No livro, ela conta como o Instituto Hudson, do qual faz parte, tem ajudado a influenciar a política externa americana, despertando as autoridades para a questão da perseguição religiosa, sobretudo contra os cristãos.

Para a autora, ao conhecermos melhor sobre a realidade da chamada igreja perseguida, “podemos aprender verdadeiramente sobre fidelidade, amor e heroísmo”. Eles são inspiração para nossa própria fé. 

Menciona como exemplo a história de Meriam Ibrahim, que foi presa no Sudão acusada de apostasia. Mesmo estando grávida e sendo condenada a morte, permaneceu firme em sua decisão de seguir a Cristo.

São histórias como essa que Nina reuniu no livro que ajudou a escrever e, segundo ela mesma, “sendo inspiradoras e edificantes, merecem ser contadas. Além disso, ajudam a combater a ‘miopia secular’”. Ou seja, a maneira distorcida que os cristãos que vivem em países onde não há perseguição veem essa questão.

Para a advogada, parte da responsabilidade desse assunto ser pouco debatido é dos nossos líderes cristãos, “que estão relutantes em falar sobre isso por medo de serem rotulados como intolerantes, islamofóbicos ou algo do tipo”.

Ativista pelos direitos humanos, como cristã, Nina Shea reconhece a importância do trabalho de missões como Portas Abertas e Voz dos Mártires. 

Ressalta que elas colaboram em muito com o alívio ao sofrimento dos cristãos, mas esclarece que é preciso mais engajamento das igrejas.

“Muitas outras vozes são necessários para fazer a diferença, para fazer os nossos líderes políticos ouvirem e trabalharem para isso de maneira diplomática”, insiste.

Ao ser questionada sobre a atuação de grupos como Estado Islâmico, Boko Haram e outros, que matam cristãos frequentemente, Nina Shea faz um apelo: 

“Nós, cristãos, devemos orar, nos informar e agir politicamente em nome desses irmãos e irmãs que estão sendo perseguidos em tantos lugares”.

Insiste ainda que muitos cristãos foram libertos da prisão após a pressão internacional com cartas enviadas para os governos responsáveis e, claro, campanha de oração por eles. 

De fato, no Brasil o assunto é pouco comentado na esfera pública. Uma das exceções é o trabalho do deputado Marco Feliciano, que se destacou na defesa dos pastores Yousef Nadarkhani e Saeed Abedini, que foram presos e torturados por sua fé.

A autora de: “Perseguidos”, explica que embora os Estados ou territórios que sigam a sharia, lei religiosa muçulmana, representem uma ameaça à liberdade religiosa especialmente dos cristãos, o Islã não deveria ser visto como “o inimigo”. Até porque, não é a única religião que gera perseguição.

“Nossa preocupação deveria ser a propagação de todos os grupos que não toleram os cristãos e procuram persegui-los, converte-los ou matá-los. O foco precisa ser as medidas urgentes para parar a limpeza religiosa no Iraque, Síria, Somália, norte da Nigéria, e outros lugares onde ela ocorre”.

O aumento de perseguição aos cristãos nos últimos anos é comprovado estatisticamente. Para Nina, por mais que ele se acentue, não irá extinguir a religião cristã.

“O século passado viu o massacre armênio na Turquia, o genocídio no Sudão, além dos esforços de Stalin na União Soviética e de Mao na China para acabar como cristianismo. Essas perseguições tiraram a vida de milhões de cristãos, mas o cristianismo continua vivo está crescendo em todos esses lugares”, ressalta.


O melhor exemplo, segundo ela, é o avivamento que experimenta a China, onde o governo tenta controlar todas as igrejas.

“Estima-se que haja ali mais de 100 milhões de cristãos, número maior que os membros do seu Partido Comunista. Especialistas preveem que a China terá um quarto de bilhão de cristãos em 15 anos. Há mais cristãos indo à igreja no domingo de manhã na China, que em toda a Europa Ocidental”, encerra.



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