Momento de reflexão e união aproxima crenças – Por Meire Oliveira
Líderes religiosos explicam o
sentido do fechamento de um ciclo anual e a abertura de outro.
Tempo de avaliar o ano que se
finda e festejar na companhia de parentes e amigos. Os sentimentos que envolvem
a maioria das pessoas neste período marcam o encontro entre diversas religiões.
Independentemente da crença, os
votos de felicidade, paz e esperança, o respeito ao próximo, valores comuns
que ultrapassam a questão religiosa, são os principais ingredientes da ceia de
final de ano.
A doutrina espírita não leva em
consideração a contagem do tempo pelo calendário. "É uma invenção humana.
No entanto, valorizamos muito o tempo. É uma oportunidade de crescimento
evolutivo", explicou o presidente da Federação Espírita do Estado da Bahia
(Feeb), André Luiz Peixinho.
Por isso, os últimos dias do ano
também servem para reforçar a postura de balanço de fim de período.
"Aproveitamos para
intensificar o questionamento de que se ao encarnar no mundo estamos agindo de
acordo com o que planejamos antes de nascer. E também participamos das
confraternizações que propiciam a união das pessoas", disse André Luiz
Peixinho.
O fato de o calendário muçulmano
estar no segundo mês do novo ano não impede o envolvimento com o clima da
época.
"Temos uma missão em comum que é tentar fazer algo por um mundo
melhor. Então, o Islã apoia toda oportunidade de unir e demonstrar amor e
respeito pelas pessoas", disse o sheik nigeriano Abdul Hameed Ahmad, que
coordena o Centro Cultural Islâmico da Bahia.
O calendário islâmico (Hégira),
que se baseia no ciclo lunar, consiste em 12 meses. "No período que
finaliza o ano, cada um deve olhar para o passado, fazer uma reflexão e pedir
perdão para corrigir. Toda mudança começa dentro de você", explica o líder
religioso.
Cronologia
A contagem do tempo diferenciada
do calendário gregoriano, utilizado na maior parte do mundo, também é
realidade dos adeptos da doutrina Bahá'í.
Pelo calendário Badi, adotado pelos
seguidores da religião Bahá'í, o ano começa entre 20 e 21 de março do
calendário gregoriano. Cada um dos 19 meses bahá'í tem 19 dias.
"Nosso dia começa com o pôr
do sol. O último mês bahá'í é de busca espiritual, de jejum. Não se come nem
bebe do nascer ao pôr do sol", explicou Liese von Czekus Cavalcanti,
membro da comunidade Bahá'í.
O propósito é adquirir o controle
da mente sobre o corpo. "Com o exercício, além de uma limpeza física,
também praticamos o desprendimento, a autoavaliação", acredita Liese von
Czekus Cavalcanti.
No entanto, há integração quando
a maioria vivencia o encerramento do ano.
"Só não fazemos promessas para o
ano que está chegando, mas celebramos juntos", completou a integrante da
comunidade Bahá'í.
O pensamento canalizado no
equilíbrio e a possibilidade de um mundo mais justo também devem ser levados em
conta, segundo o tata de inquice Anselmo Santos, líder espiritual do terreiro
Mokambo.
"O candomblé já preza pelo
equilíbrio de energia o ano inteiro. Então, tudo que esteja nessa sintonia não
pode passar despercebido. Respeito e amor é para todo mundo, independentemente
da religião", disse o sacerdote.
Ele acredita que a aura de
felicidade típica da época deve ser utilizada como forma de resolver os
problemas, como a falta de respeito entre as pessoas.
"O candomblé ensina que o
outro não é nosso inimigo. Então, por que não entrar na sintonia de socializar
o amor que envolve a maioria das pessoas nesta época? É impossível não se
contagiar. É essencial também pensar como podemos melhorar a nossa vida e a das
outras pessoas", disse o líder do terreiro Mokambo.
A questão da análise e balanço,
que se costuma fazer, deve ser ponderada segundo o doutor em teologia e reitor
da Universidade Católica do Salvador (Ucsal), o padre Maurício da Silva
Ferreira.
"O fim do ano também é um
sentimento de normalidade. Não precisa estar ligado ao sucesso ou fracasso,
como se tudo acabasse e devesse começar do zero. O ano é novo, mas tem uma
unidade que não se perde. Podemos ainda interferir no tempo, no nosso destino.
Depende da nossa visão do tempo, do esforço para mudar", contou o padre.
Simbologia
De um modo geral, o mês de dezembro
é repleto de simbologia até o dia 31, que encerra o ciclo.
"Tem uma atmosfera mística
da época. Mas durante todo o mês temos uma liturgia elaborada. Os cânticos e a
leitura bíblica e o sermão são voltados para as experiências e avaliações do
ano, reconciliação e interseção em prol do ano seguinte", explicou o
pastor da Igreja Evangélica Antioquia, Djalma Torres.
O objetivo é encerrar o mês com
um clima mais leve. "O novo ano sempre chega com a expectativa de bênçãos,
prosperidade e fraternidade. Procuramos desfazer mal-entendidos no seio da
própria comunidade buscando a paz e a harmonia entre todos", completa o
pastor.
A filosofia budista é mais uma
que acredita no poder do clima do período como único no ano e com capacidade de
transformação.
"O amor nos faz sentir mais
pacíficos, e esse sentimento aflora nesse período. É muito bom aproveitar os
encontros de fim de ano para demonstrar esse amor e compaixão. Se nossa mente
se tornar amorosa, as atitudes se tornam positivas. O mundo muda", disse a
coordenadora do Centro de Estudos Budistas Bodisatva-Bahia (Cebb-BA), Ana Ricl.
Entre 1º e 8 de dezembro, os
budistas comemoraram a iluminação do Buda. "Neste período podemos ou não
nos reunir. Meditamos, podemos estudar os textos. O cerne é nos lembrarmos dos
ensinamentos do Buda", completou a budista.
Fonte: http://atarde.uol.com.br
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