Número de evangélicos cresce mais em igrejas às margens das rodovias – Por Maria Luisa Barros



Pesquisa inédita mostrou que nas cidades que margeiam Via Dutra e BR-101 a quantidade de devotos cresce rapidamente.

Se é verdade que todos os caminhos levam a Deus, para os evangélicos a fé passa pelas rodovias que cortam o Estado do Rio de Janeiro. No roteiro da religião, as igrejas situadas ao longo das vias, principalmente as pentecostais e neopentecostais, são as que concentram o maior aumento de fiéis. 

Pesquisa inédita, com base no Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), detectou que nas cidades que margeiam a Via Dutra (Rio-São Paulo) e a BR-101 (Rio-Espírito Santo) a quantidade de devotos cresce mais rapidamente do que nos municípios afastados das rodovias. 

Uma das teorias é a de que as grandes estradas facilitam a evangelização porta a porta e boca a boca adotada pelos religiosos na conquista de novos devotos. Para quem está indo ou vindo do trabalho, os letreiros em beira de estrada funcionam como um convite à conversão. 

Às margens da Dutra, no Município de Nova Iguaçu, a Igreja Projeto Vida, por exemplo, é o retrato fiel desse fenômeno. Há cinco anos, tinha apenas oito membros. Hoje, os cultos chegam a reunir 250 pessoas por noite e já não há vaga para tantos carros. 

“Há uma crise de valores na sociedade, que tem levado as pessoas a buscar respostas para suas angústias financeiras e familiares. Elas querem ser bem recebidas e assistidas nas dificuldades. A Igreja Evangélica faz esse acolhimento”, explica o pastor Márcio Gonçalves.

O novo rebanho está cheio de ovelhas desgarradas do catolicismo. A aposentada Marlene Navega Moreth, de 71 anos, é uma delas. Como sua família, ela sempre foi devota dos santos. Recentemente, porém, foi atraída pela pregação que ouvia de casa, vizinha à Igreja Pentecostal Projeto Vida. 

“Cheguei a fazer promessa para um filho que se acidentou mas preferi mudar de religião”, conta ela, que foi levada para o mundo protestante por um dos filhos.

O empresário Lourenço Leandro, 40 anos, e a esposa, Vanessa Muniz, 38, foram batizados e fizeram primeira comunhão. Mas, como dona Marlene, se converteram à nova religião, que tem por base a Teologia da Prosperidade. Doutrina que defende a bênção financeira como o desejo de Deus, segundo o qual todos os cristãos têm direito ao bem estar físico e econômico. 

“Estava falido, deprimido e cheio de dívidas. Tinha muitas feridas e não conseguia cicatrizar. A igreja me ensinou a perdoar, e minha vida mudou para melhor. Hoje tenho tantas encomendas na fábrica que há dois anos não tiro férias”, recorda Lourenço, que está reformando a casa. “Com tudo do bom e do melhor”, orgulha-se ele. 

A efervescência evangélica é inversamente proporcional ao declínio da Igreja Católica. Além de ser o estado com menor quantidade de católicos, o Rio de Janeiro perdeu, de 2000 a 2010, 17,8% do rebanho conduzido pelo Papa Francisco. Se a tendência se mantiver, os pesquisadores preveem que, em 2040, evangélicos terão o mesmo número de fiéis que os católicos.

Os pesquisadores José Eustáquio Diniz Alves e Luiz Felipe Walter Barros, responsáveis pelo estudo: ‘A transição religiosa brasileira e o processo de difusão das filiações evangélicas no Rio de Janeiro’, constataram que, nos últimos anos, as periferias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro promoveram o avanço dos evangélicos em direção ao interior. 

Em 2000, dos 92 municípios fluminenses, os evangélicos eram mais numerosos apenas em Silva Jardim, na Baixada Litorânea. Dez anos depois, os evangélicos passaram a ser maioria em 18 cidades do estado do Rio de Janeiro.

De fato, segundo o censo de 2010, os católicos representavam 64,6% no Brasil e 45,8% no Rio, enquanto os evangélicos eram 22,2% no país e 29,4% no estado. 

“É um caminho irreversível. A Igreja Católica se acomodou e não está reagindo à ascensão protestante. Nem o Papa latino conseguiu estancar essa sangria”, constata o pesquisador José Eustáquio. 

Segundo ele, em uma década, houve aumento do percentual de católicos apenas em dois municípios pequenos: Macuco e São José de Ubá, ambos no Norte Fluminense, quase na fronteira com Minas Gerais e fora das rodovias mais dinâmicas do estado

Por outro lado, em Queimados, Japeri, Silva Jardim e Seropédica o percentual de católicos caiu para menos de 30%.


“O Brasil está caminhando para deixar de ser o maior país católico do mundo. Vai ser um choque para a Santa Sé”, diz José Eustáquio. Nas cidades de Angra dos Reis e Paraty, os católicos já são menos da metade da população. 

Em Aparecida, no interior paulista, onde está o Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, resiste ao avanço protestante, com a maior presença católica.




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