O que diz a Igreja Católica sobre a ordenação de mulheres? - Por Filipe d'Avillez
A inglesa Elizabeth Lane foi
ordenada bispo na Igreja de Inglaterra. Algo que seria impossível na Igreja
Católica.
A ordenação de mulheres, tanto
para o sacerdócio como para o episcopado, é apenas uma das diferenças entre a
Igreja Anglicana e a Católica, mas é uma diferença significativa, considerada
pelos católicos como "definitivamente" impeditiva do reconhecimento
das ordens sacras dos anglicanos e de uma eventual reunificação.
A Igreja de Inglaterra começou a
ordenar mulheres para o sacerdócio em 1994 e esta segunda-feira ordenou a
primeira mulher para o episcopado. Outras províncias anglicanas, como a Igreja
americana, canadiana e australiana, por exemplo, já ordenam mulheres bispo há
muitos anos.
Mas na Igreja Católica, aliás
como nas Igrejas ortodoxas, a ordenação de mulheres não só não é possível de
momento como é considerada uma questão doutrinária que não pode ser mudada.
As raízes da questão são tanto da
revelação como da tradição, os dois pilares sobre os quais assentam os
ensinamentos da Igreja Católica. A revelação é tudo aquilo que foi transmitido
pelas Escrituras, à luz dos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos.
Considera-se que a Revelação
terminou com a morte do último apóstolo. Já a tradição tem a ver com prática da
Igreja desde os tempos apostólicos. A tradição, por natureza, vai evoluindo ao
longo dos séculos, mas não se pode contradizer, pelo que novos ensinamentos ou
reinterpretações de ensinamentos antigos só são aceitáveis se forem em linha
com a tradição da Igreja, e nunca contrárias.
Por exemplo, a Igreja já ordenou, e ordena ainda sob certas condições, homens casados, pelo que a restauração desta tradição seria possível à luz da doutrina. Mas a Igreja não só nunca ordenou mulheres como sempre entendeu que a ordenação de mulheres seria inválida, pelo que a alteração desse ensinamento seria contrária à tradição da Igreja e, por isso, inválida.
Por exemplo, a Igreja já ordenou, e ordena ainda sob certas condições, homens casados, pelo que a restauração desta tradição seria possível à luz da doutrina. Mas a Igreja não só nunca ordenou mulheres como sempre entendeu que a ordenação de mulheres seria inválida, pelo que a alteração desse ensinamento seria contrária à tradição da Igreja e, por isso, inválida.
Esta tradição assenta no facto de
Jesus apenas ter escolhido homens como seus apóstolos, apesar de ter tido
muitas seguidoras influentes, e radica no conceito de sacerdócio judaico do
Antigo Testamento, que também era reservado aos homens, apesar de outros povos
vizinhos terem sacerdotisas nas suas religiões.
Diz o Catecismo da Igreja
Católica: "Só o varão baptizado pode receber validamente a sagrada
ordenação. O Senhor Jesus escolheu homens para formar o colégio dos Doze
Apóstolos, e o mesmo fizeram os Apóstolos quando escolheram os seus
colaboradores para lhes sucederem no desempenho do seu ministério. O Colégio
dos bispos, a que os presbíteros estão unidos no sacerdócio, torna presente e
actualiza, até que Cristo volte, o Colégio dos Doze. A Igreja reconhece-se
vinculada por essa escolha feita pelo Senhor em pessoa. É por isso que a
ordenação das mulheres não é possível."
A questão nunca foi seriamente
colocada na Igreja Católica até ao século XX. João Paulo II pronunciou-se sobre
ela, na sua qualidade de Papa, com a Carta Apostólica "Ordinatio
Sacerdotalis", em 1994:
"Para que seja excluída qualquer dúvida em
assunto da máxima importância, que pertence à própria constituição divina da
Igreja, em virtude do meu ministério de confirmar os irmãos (cfr Lc 22,32),
declaro que a Igreja não tem absolutamente a faculdade de conferir a ordenação
sacerdotal às mulheres, e que esta sentença deve ser considerada como
definitiva por todos os fiéis da Igreja."
Mais recentemente, questionado
sobre a mesma questão, o Papa Francisco remeteu precisamente para esta
declaração de João Paulo II.
Nos documentos da Igreja sobre
este assunto, faz-se questão de enfatizar que a impossibilidade de ordenação de
forma alguma implica algum tipo de inferioridade por parte da mulher.
"De resto, o facto de Maria
Santíssima, Mãe de Deus e Mãe da Igreja, não ter recebido a missão própria dos
Apóstolos nem o sacerdócio ministerial, mostra claramente que a não admissão
das mulheres à ordenação sacerdotal não pode significar uma sua menor dignidade
nem uma discriminação a seu respeito, mas a observância fiel de uma disposição
que se deve atribuir à sabedoria do Senhor do universo", escreve João
Paulo II, no mesmo documento.
Actualmente há alguns casos de
activistas pela ordenação das mulheres que se fazem "ordenar",
passando a intitular-se sacerdotisas católicas. Contudo, à luz dos ensinamentos
da Igreja Católica, estas ordenações não só são ilícitas como inválidas, isto
é, infringem as regras da Igreja. Além disso, não têm qualquer efeito prático.
À luz do Código de Direito
Canónico, qualquer pessoa que participe numa dessas falsas ordenações incorre
em excomunhão automática.
Fonte: http://rr.sapo.pt
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