Observatório para a Liberdade Religiosa
O Observatório para a Liberdade
Religiosa nasce hoje em Lisboa em defesa da religião como direito consagrado
dos cidadãos, uma semana depois dos atentados de Paris, que trouxeram novamente
para a ordem do dia o fundamentalismo religioso.
A iniciativa de um grupo de
cidadãos, na sua maioria ligados ao meio académico, é formalmente criada numa
altura em que se multiplica a violência em nome da religião, de que os
atentados da semana passada à sede do jornal satírico francês Charlie Hebdo e a
um supermercado judaico, que fizeram 17 mortos, são exemplos mais recentes.
Alexandre Honrado, coordenador do
Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR), explicou, em declarações à
agência Lusa, que a estrutura resulta da necessidade de ter “a religião
praticada como uma das liberdades consagradas para o ser humano”.
“Queremos observar, não queremos
criticar, transformar, alterar, dar novas soluções às coisas. Ao observar
fazemo-lo analiticamente e podemos então abrir portas aos outros e a nós
próprios para ter soluções”, acrescentou o professor e investigador, que com o
jornalista Joaquim Franco coordena o observatório.
O estudo das religiões e o
acompanhamento da situação da liberdade religiosa são os objetivos do
observatório, estrutura independente, que surge associada à área de Ciência das
Religiões, da Universidade Lusófona.
Ativo informalmente desde
novembro, OLR terá como primeira iniciativa o debate ‘Do 'Estado Islâmico' à
Europa desencantada: Desafios à Liberdade Religiosa’, um tema que ganhou nova
dimensão depois dos acontecimentos de Paris.
Alexandre Honrado acredita, por
isso, que será “quase inevitável” que estes acontecimentos sejam “influenciadores”
do debate de hoje, que contará com representantes das comunidades judaica,
islâmica e cristãs minoritárias em Portugal, e ainda do jornalista José
Milhazes e de Catarina Martins, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).
Mas, assegurou Alexandre Honrado,
ao observatório interessa analisar “no mesmo plano” o fenómeno da Nigéria, onde
os ataques do grupo Boko Haram, que quer instaurar um Estado islâmico no norte
do país causaram cerca de 13.000 mortos nos últimos cinco anos, e os ataques à
redação do jornal Charlie Hebdo “mais próximos de nós”.
“Não há distinção na análise do
Islão, no que se passa na Palestina ou no que se passa no bairro aqui ao fundo,
onde pode acontecer qualquer coisa”, sublinhou.
“Quando temos uma mesquita em
Lisboa de uma comunidade perfeitamente pacífica que é vandalizada por um ato de
extrema-direita reivindicado por nazis [...] que pretende ser um insulto ou uma
provocação, estamos a ter necessidade de observar o que se está a passar com
muita atenção”, acrescentou.
Os responsáveis pelo ORL
consideram que os acontecimentos de Paris “revelam a importância do
observatório” que pretende “contribuir para a construção de uma sociedade mais
esclarecida, onde as diferenças religiosas e culturais saibam coexistir”.
Lembram que a religião é “capaz
de construir relações de solidariedade e compaixão, contribuindo para o
edifício ético”, mas, hoje como no passado, é também “usada como combustível de
guerra”.
“O que se passou em Paris mostra
um desumano abuso em nome da religião e vem reforçar a importância da defesa da
liberdade, de todas as liberdades, sobretudo de expressão e religiosa. Morreram
ateus, católicos, muçulmanos e judeus, num ato obviamente produzido no submundo
do crime. Por isso, a veemente condenação”, referem.
Fonte: http://diariodigital.sapo.pt
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