Muçulmana e budista: conheça as escolas de outras religiões
Em um País onde boa parte das
escolas religiosas são cristãs, instituições muçulmanas, budistas e da fé
Baha’í chamam atenção.
Sem missa, sem cruzes na sala de
aula ou santos nas prateleiras. Apesar de grande parte das escolas ligadas à
religião no Brasil serem cristãs, algumas outras pelo País seguem
religiões bem diferentes.
Já imaginou como seria uma escola budista? Como
funcionam as escolas islâmicas? E uma escola da Fé Bahá’í, conhece? O Terra conversou
com representantes de algumas instituições para saber de que forma cada
religião influencia, ou não, em sala de aula.
Somos a Escola Islâmica
Brasileira
“Somos a Escola Islâmica
Brasileira. Somos uma escola como as outras, porém, prezamos por valores
islâmicos”, conta o Sheik Rodrigo Rodrigues, professor de ensino religioso da
instituição, em São Paulo.
Cerca de 400 alunos estudam lá, entre pré-escola e ensino
médio. “Não ensinamos como ser muçulmano no Líbano ou no Iraque, mas dentro da
realidade do Brasil”, afirma.
São dois horários de oração, um antes do início
da aula, pela manhã, e outro próximo ao meio-dia, na mesquita da escola. Toda a
escola interrompe as atividades para a reza, mas os alunos e funcionários que
não são muçulmanos ou não desejam participar, não são obrigados.
Na merenda, nada de carne
suína, proibida pela religião. “Também não permitimos ‘namorinho’ entre as
nossas crianças. Isso não existe aqui na escola, pela própria natureza dos
muçulmanos”, ressalta o Sheik.
“Os valores vêm da família, e a escola mantém o
ritmo”, acrescenta. Os alunos são encorajados a andarem sempre cobertos,
conforme prega a religião, e o uso do hijab (lenço islâmico) pelas meninas e
funcionárias é facultativo.
Entre os professores, nem todos seguem a religião,
assim como entre os alunos. O Sheik Rodrigo estima que cerca de 90% dos alunos
são muçulmanos ou de origem muçulmana. São oferecidas aulas de árabe e
de religião islâmica em regime opcional. As aulas de religião tratam do
islamismo, e os alunos aprendem a história, a prática e os valores do islã.
“Tocamos em outras religiões para explicar diferenças, mas a cultura religiosa
é explicada geralmente em outras matérias, como filosofia, na qual é feito o
estudo das religiões, história e sociologia”.
Deus, religião e humanidade
Na Escola das Nações, em Brasília, a Fé Bahá’í orienta os valores da instituição. A religião surgiu na Pérsia no século 19 e chegou ao Brasil no início do século 20.
Entre os principais valores estão a unidade de Deus, da
religião e da humanidade. Um dos grandes pilares é o retorno do serviço à
comunidade onde se vive, e isso influencia em muito o dia a dia escolar.
“Um
dos grandes princípios que norteiam as ações dentro da escola é o serviço à
comunidade, dentro do processo de construção do conhecimento. O aluno tem que
colocá-lo em prática”, comenta a professora Ana Maria Mayr, coordenadora
pedagógica do programa de língua portuguesa.
Dentro da escola, os alunos
precisam cumprir 60 horas de serviço voluntário. Entre os exemplos mais
notáveis, Ana Maria lembra um grupo de alunos do ensino médio que nos últimos
quatro anos tem dedicado as manhãs de sábado para o ensino da língua inglesa a
uma comunidade próxima à escola. “A ideia é realizar ações nas quais os alunos
ajam com a família e saiam dos portões da escola”, diz.
Não há aula de ensino religioso.
Por ser uma instituição internacional, a Escola das Nações recebe alunos de
mais de 40 nacionalidades diferentes. “Não temos a intenção de doutrinar,
respeitamos as crenças de todas as religiões. A orientação que temos é a
realização da oração diária, e a cada dia é feita uma oração de uma religião
diferente”, explica Ana Maria.
Também são trabalhados valores da
Fé Bahá’í na grade curricular. Durante uma hora-aula semanal, as virtudes da fé
são trabalhadas com os alunos. Para cada etapa da educação, o programa recebe
uma denominação. Para a educação infantil, são os “hábitos do coração”.
Para o
fundamental I, “virtudes para a vida”. Já o fundamental II trabalha com o
programa de empoderamento pré-juvenil, o “pré-jovem”, e, no ensino médio,
“tomando iniciativa moral”, que é totalmente baseado no trabalho voluntário.
Emoção e percepção
A Escola Caminho do Meio, de Viamão, Rio Grande do Sul, tem a filosofia budista como referência de seus ensinamentos. A escola é mantida por meio de doações e do Instituto Caminho do Meio, uma associação sem fins lucrativos. A escola foi fundada em 2008 como uma instituição de educação infantil, mas está desenvolvendo um programa de ensino fundamental para atender crianças de até nove anos.
“No budismo, acreditamos que o aspecto interno, da mente, do mundo
emocional, influencia na maneira como percebemos o mundo. Por isso, no
cotidiano vamos ter um olhar especial para o aspecto emocional e interno,
subjetivo, a começar pela própria equipe”, diz Carolina Senna, educadora da
escola.
“Se o educador é um ser humano
reflexivo, que tem uma atitude de auto-observação e que busca aprender a lidar
de forma cada vez mais hábil com sua própria visão e suas próprias emoções, de
certa forma isso acaba sendo ensinado para as crianças por meio do exemplo”,
acredita.
As crianças da educação infantil podem ser convidadas a meditar, mas
Carolina garante que tudo ocorre de forma bastante livre e lúdica, introduzindo
aos poucos aspectos da meditação.
“O budismo oferece um caminho de
trabalho interior pela meditação, que vai nos dar cada vez mais condições de
ter autonomia frente às situações adversas e conseguir superar os estados
negativos internos”, explica.
Na educação infantil, o budismo é mais presente
na formação dos educadores. No ensino fundamental, a meditação é introduzida
aos poucos, de forma estruturada e de acordo com o desenvolvimento das
crianças.
Elas também são envolvidas em atividades de manutenção da própria
escola, como cuidar das plantas e preparar os alimentos que vão consumir. Desta
forma, são exercitadas e desenvolvidas qualidades prezadas pelo budismo,
como a atenção e o bom coração.
O currículo da escola é baseado
em cinco projetos temáticos bimestrais. Cada projeto corresponde a uma
sabedoria do budismo. Acolhimento, no primeiro bimestre; igualdade, no segundo;
sabedoria investigativa, no terceiro; sabedoria da causalidade, no quarto
bimestre; e, no último, a sabedoria da transcendência.
“Cada uma tem um conjunto de
valores e qualidades humanas a serem mais observados e desenvolvidos. Cada
sabedoria também está associada a uma estação do ano e a um elemento da
natureza, que também serão olhados e vivenciados, de forma a tornar o
aprendizado uma forma de abrir os olhos e olhar ao redor, para o que está
acontecendo na natureza em nosso entorno”, diz.
Na Escola Caminho do Meio não há aula
de religião, e nenhuma doutrina estabelecida é oferecida. Segundo Carolina, a
escola busca “contemplar esse componente curricular de forma integrada no
cotidiano e nos projetos, priorizando uma atitude interna de respeito a si
mesmo, ao outro e a natureza, e ao mesmo tempo um respeito à diversidade
cultural e religiosa”.
Fonte: http://noticias.terra.com.br
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