A cidade histórica chinesa que se rendeu ao islamismo – Por Nellie Huang


Olhando a moderna e agitada Xi’an de hoje, é difícil acreditar que esta metrópole com mais de 8 milhões de habitantes era o ponto de partida da antiga Rota da Seda, percurso de comércio com 6,4 mil quilômetros que ligava a China ao Império Romano no século 2 a.C. Mas é exatamente essa história que torna esta cidade interessante e um bairro, em particular.

A introdução do Islamismo

Mais do que mercadorias, a Rota da Seda trouxe novas culturas e novas religiões para dentro da China, das quais muitas ainda são praticadas hoje em dia. Os 10 milhões de muçulmanos de etnia chinesa que vivem atualmente no país têm sua origem religiosa nos comerciantes árabes e persas que disseminaram vários elementos do islamismo enquanto viajavam pela Rota da Seda.

Hoje, cerca de 70 mil desses muçulmanos vivem no Bairro Muçulmano de Xi’an, uma área movimentada, cheia de energia e personalidade. Aqui é fácil se perder no labirinto de ruelas coloridas, lotadas de barracas de comida, produtos típicos, antiguidades e bugigangas.

Arquitetura mista

O Bairro Muçulmano possui dez mesquitas. A mais antiga é a Grande Mesquita de Xi’an, construída no ano 742 d.C. Acredita-se que seja também a mais antiga mesquita da China e uma das maiores.

Diferentemente da maioria das mesquitas do Oriente Médio e da Ásia Central, a de Xi’an apresenta uma arquitetura tipicamente chinesa, incluindo um teto vitrificado, estátuas da Fênix e pagodas. A influência árabe está na inscrição "Deus é único" no Pavilhão do Deus Único.

A sala de orações na Torre Xingxin recebe até 1 mil pessoas em cada uma das cinco rezas diárias dos muçulmanos. A mesquita está aberta à visitação, mas não muçulmanos não são permitidos na sala de orações.

Renascimento étnico

Em nosso passeio pelo Bairro Muçulmano, meu guia Zhang Jie mostrou várias outras pequenas mesquitas, muitas espremidas entre as ruelas. Segundo ele, elas estão escondidas porque durante a Revolução Cultural Chinesa (1966-1976) muitas minorias culturais foram suprimidas e as rezas muçulmanas proibidas.

Naquele período, o Partido Comunista chinês destruiu mais de 29 mil mesquitas, queimou cópias do Alcorão e obrigou imãs a desfilarem sujos de tinta. O governo começou a adotar políticas mais tolerantes aos muçulmanos em 1978 e, hoje, a população Hui, descendentes dos comerciantes da Rota da Seda que se casaram com membros da etnia Han, pode pode seguir sua religião livremente.

Muitos dos moradores do bairro são de etnia Hui. "Etnicamente, somos semelhantes aos chineses Han, com a diferença de praticarmos o Islamismo", explica Zhang. "Temos nossas comidas típicas e um jeito diferente de nos vestirmos, mas nos sentimos chineses." População Hui incorporou métodos da cozinha chinesa em pratos influenciados por árabes e persas

A enorme oferta de comida de rua tipicamente Hui é uma das grandes atrações do Bairro Muçulmano. Os ingredientes predominantes são o carneiro e o cordeiro, preparados à maneira halal. Mas os Hui de Xi’an também incorporaram métodos chineses de preparação dos alimentos, como refogar e assar.


Os pratos mais conhecidos do bairro são o chuanr (espetinhos de carne) e o yang rou pao mo (pão ázimo em pedaços em um cozido de carneiro). São o combustível perfeito para recarregar as energias depois de um dia explorando a história muçulmana da cidade.




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"Negociar e acomodar identidade religiosa na esfera pública"

Pesquisa científica comprova os benefícios do Johrei

Por que o Ocidente despreza o Islã