Cultura é "maior antídoto" contra fanatismos
Representantes católicos,
muçulmanos e judeus defenderam hoje, durante uma conferência em Lisboa, a
necessidade de parar para refletir, apontando a cultura, o diálogo e abertura
ao outro como o "maior antídoto" contra os fanatismos da atualidade.
"A cultura é, de uma forma
geral, um dos mais importantes instrumentos de convivência humana e o maior
antídoto contra o fanatismo que exclui e persegue em nome de uma 'verdade'
única, seja qual for", considerou Esther Mucznik, vice-presidente da
Comunidade Israelita de Lisboa.
Esther Mucznik falava no painel: "A cultura para lá da religião", no primeiro dia de conferências do
Fórum Internacional: "O Lugar da Cultura", a decorrer em Lisboa até 17
de abril, e que reúne artistas, governantes, pensadores e especialistas de
diferentes áreas, para debater o papel da cultura na atual sociedade portuguesa.
Lembrando que, nos dias que
correm, a "religião não tem muito boa fama", por "demasiadas
vezes" se terem praticado e continuarem a praticar "crimes invocando
o seu nome", a investigadora assinalou que foi na religião "que foram
escritos alguns dos mais belos livros da humanidade, construídos magníficos
templos e elaborados alguns dos códigos éticos mais sábios e humanos".
"Por tudo isto, a cultura
religiosa é património indelével da humanidade", sublinhou. Também presente na mesma sessão,
o delegado do Conselho Pontifício para a Cultura no Vaticano, o bispo português
Carlos Azevedo, sublinhou a importância de encontrar, num "contexto
multicultural e de pluralismo cultural", convergência em valores como a
dignidade da pessoa humana, os direitos humanos, a liberdade religiosa, a
igualdade entre homens e mulheres ou a atenção aos pobres.
"A cultura ocupa o seu lugar
quando promove a dignidade humana, educa para a personalidade e a identidade,
para a contemplação e para o sentido profético da religião", disse Carlos
Azevedo. Para Carlos Azevedo, vivemos num
"contexto cultural resistente, estranho e indiferente ou até hostil,
próprios de uma sociedade à deriva e em rápida transformação", que
"requer acompanhamento no caminho da verdade e da paz, renunciando a
qualquer violência".
À margem da conferência, Carlos
Azevedo, defendeu, em declarações à agência Lusa, a necessidade de o mundo
"parar para refletir" e questionar sobre o que está na origem dos
tantos fenómenos violentos que se verificam hoje. Para o bispo é preciso
"dialogar com todos", para perceber quais os contextos, as decisões e
o que é que "estamos a fazer mal" e que leva determinadas pessoas a
tomarem atitudes de grande violência.
Também convidado da conferência,
David Munir, imã da Mesquita Central de Lisboa, traçou um breve perfil do que
considera ser a cultura islâmica, desmistificando a ideia de que "nem tudo
o que o muçulmano faz é religião".
"Às vezes é cultura e outras
tradições e nem sempre se consegue distinguir", disse. Adiantou que a
cultura islâmica "promove a sabedoria e a paciência" e que "não
é dominadora, mas também não é exclusivista". "Devemos colaborar com
várias pessoas e culturas e beneficiar do conhecimento de todas as pessoas. A
cultura islâmica ensina a escutar e a dialogar com os outros", disse,
apelando para o aprofundamento dos conhecimentos do islão.
O Fórum: "O Lugar da Cultura",
promovido pela Secretaria de Estado da Cultura, prossegue hoje, quinta-feira (16/04), com os
painéis do colóquio: "Cultura e Desenvolvimento, Estudos Cultura
2020", no quadro de financiamento europeu 2014/2020, e, sexta-feira, com
mesas redondas sobre políticas setoriais, com a participação dos principais
responsáveis do setor.
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