Religião e inovação não combinam, diz estudo de Princeton – Por João Pedro Caleiro


A religião é central para a sociedade assim como a inovação é crucial para a economia. Mas qual é a relação entre as duas coisas?

É este o tema de um estudo publicado recentemente pelos economistas Roland Bénabou, Davide Ticchi e Andrea Vindigni, da Universidade de Princeton.

O trio investigou a relação no nível individual entre religiosidade e uma série de atitudes pró ou anti-inovação. Foram utilizados dados de 5 edições da World Values Survey (1980, 1990, 1995, 2000, e 2005), uma pesquisa de valores realizada em mais de 100 países. 

11 indicadores de abertura à inovação foram cruzados com 5 medidas de religiosidade (como crenças e frequência em cultos), controlando por país, ano e outros fatores sociodemográficos. A conclusão: "uma maior religiosidade é quase uniformemente e de forma muito significativa associada com visões menos favoráveis da inovação".

Uma pessoa que se identifique como religiosa, que dê mais ênfase à Deus ou vá mais à Igreja, por exemplo, tem uma chance muito mais significativa de achar que "dependemos demais da ciência e não o suficiente na fé" ou que a ciência "faz a vida mudar rápido demais".

Das 5 principais atitudes pró-inovação, como achar que "novas ideias são melhores que as antigas" e acreditar que "cada um molda o próprio destino", 4 tem correlação negativa e significativa com alta religiosidade. A exceção é a importância de "ter novas ideias e ser criativo", nesse caso, a relação vira de ponta cabeça, o que os autores definem como um "quebra-cabeça".

As 5 medidas de religiosidade tem relação negativa forte com a importância dada para as crianças terem imaginação, independência e determinação/perseverança, por exemplo. Segundo os pesquisadores, é impossível concluir a direção da causalidade. As pessoas menos propensas à inovação tendem a ser mais religiosas ou é o contrário?

Bibliografia

Em um trabalho anterior, o trio de Princeton havia comparado diferentes países e estados americanos e concluído que há uma relação negativa importante entre níveis de religiosidade e a inovação em si (medida pelo número de patentes per capita).

A conexão "mais religiosidade, menos inovação" permanece forte mesmo controlando por outras variáveis como renda, acesso à educação e legislação de patentes. No começo do ano passado, dois pesquisadores de Harvard publicaram um trabalho que parte do Ramadã islâmico para mostrar como a religião pode atrapalhar o crescimento. 

Depois, foi a vez de um trio de pesquisadores apresentar em Georgetown um estudo sobre os efeitos econômicos negativos do "excesso" de liberdade religiosa. Mas nem tudo é tão simples. O trio de Princeton lembra de um trabalho de Barro and McCleary que encontrou uma relação com o crescimento positivo considerando "crença em céu e inferno" e negativa quando o critério é "comparecimento na igreja". 

Eles também lembram um trabalho de Guiso, Sapienza e Zingales em 2003 que usando o mesmo banco de dados da World Values Survey, mostrou que pessoas mais religiosas tendem a confiar mais em outras pessoas, nas instituições públicas e no mercado. 


Os modelos teóricos sugerem que essa confiança, assim como o medo da punição divina, podem induzir os indivíduos a agirem de forma menos oportunista e mais cooperativa. Ou seja, a religiosidade também estaria associada a certas "atitudes sociais que conduzem a uma maior produtividade e crescimento", diz Luigi Guiso.




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