7 anos de injustiças no Irã: liberdade de ser inclui a liberdade de crer – Por Washington Araújo
Em pleno século XXI, é deplorável
que a humanidade ainda tenha que conviver, de forma leniente com a sistemática
violação dos direitos humanos básicos de mais de 300 mil seres humanos no Irã.
Em 14 de maio de 2008, o governo
do Irã promoveu a prisão de sete líderes da Comunidade Bahá´í.
Cinco homens e
duas mulheres, Mahvash Sabet, Fariba Kamalabadi, Jamaloddin Khanjani, Afif
Naeimi, Saeid Rezaie, Behrouz Tavakkoli, e Vahid Tizfahm, que vêm há longos
sete anos sofrendo na prisão, tendo passado períodos prolongados em
confinamento solitário, sem acesso à defesa e assistência jurídica e em
condições que são uma verdadeira afronta aos padrões do direito internacional
atinentes aos direitos fundamentais da pessoa humana.
Essas sete pessoas foram presas
tendo como acusação "serem membros da seita bahá´í". Pois bem, nesta
semana, completaram-se sete anos da prisão arbitrária e absolutamente
injustificada de lideranças bahá´ís.
Em pleno século XXI, após a
humanidade haver conquistado domínio sobre o átomo, colocar um primeiro homem a
caminhar sobre a face da lua, inventariar cidades e lugares como patrimônio de
toda a humanidade, como a cidade de Machu Pichu, no Peru, as pirâmides no vale
do Luxor, no Egito e o Taj Mahal, na Índia, inventar possantes aviões
supersônicos que fazem em breve espaço de tempo travessias transoceânicas,
produzir documentos jurídicos de amplitude planetária como o é, desde 1948, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos, é deplorável que ainda tenha que
conviver, de forma leniente com a sistemática violação dos direitos humanos
básicos de mais de 300.000 seres humanos no Irã.
E para marcar mais um triste
aniversário dessa injustiça, os bahá´ís de Brasília, realizarão, na manhã da
quinta-feira, manifestação pública em frente ao Congresso Nacional, estendendo
banners, clamando pela liberação imediata dos Yarán, que é como os 7 líderes
bahá´ís presos são chamados, aliás, uma palavra persa que significa
"Amigos", e também clamando pelo respeito aos direitos humanos de
todas as minorias religiosas ora perseguidas no país persa.
O ato público terá leitura de
orações de diversas religiões, bahá´í, cristã, muçulmana, judaica, cultos
afros, dentre outras; isto porque um dos fundamentos da religião bahá´í é
exatamente a unidade religiosa, o apreço pelas diversas formas de conexão com o
Sagrado.
A prisão desses bahá´ís,
conhecidos como Yarán, tem recebido imensa repercussão internacional, com
dezenas de governos e parlamentos nacionais, bem como acadêmicos e intelectuais
em geral, se pronunciando em defesa dos Yarán e exigindo a imediata cessação da
violação dos direitos humanos dessas pessoas inocentes, ora confinadas numa
tenebrosa prisão de Evín, em Teerã.
E, a cada semana, inclusive em
diversas cidades brasileiras, novas ações são feitas em várias partes do mundo
para chamar a atenção dos governos e da imprensa internacional para o destino
dos bahá´ís no Irã.
Nos últimos dias já se
pronunciaram em solidariedade e pedindo a imediata liberdade para os Yarán três
Senadores da República, Paulo Paim (RS), Gleisi Hoffmann (PR) e Otto Alencar
(BA), além de deputados federais que têm ativa militância na defesa dos
direitos humanos e das liberdades fundamentais como é o caso da deputada Maria
do Rosário (que foi até recentemente ministra da Secretaria Nacional de
Direitos Humanos da Presidência da República), o deputado Chico Alencar (RJ), a
deputada Margarida Salomão (MG) e Odorico Martins (CE), além de diversas
lideranças religiosas, entre os quais, o Padre Fabio Potiguar (RN) e o
babalorixá Nelsimar Santos (SP).
Quais os crimes de que são acusados os bahá´ís pelo Governo do Irã?
Apesar das provas irrefutáveis de
que a comunidade bahá'í no Irã está sendo perseguida tão somente por causa de sua
crença religiosa, o Governo iraniano justifica essas perseguições, alegando ser
a comunidade bahá'í culpada de diversos crimes. Todas essas imputações mostram
ignorância dos princípios básicos e da história da Fé Bahá'í. Nunca foi
apresentada nenhuma evidência para apoiar essas acusações.
As principais imputações são as seguintes:
1. Os bahá'ís são acusados de
serem partidários do regime dos Pahlavis e do falecido xá do Irã e de serem uma
organização política de oposição ao atual Governo iraniano.
Os bahá'ís são obrigados pelos
princípios básicos da sua fé a mostrarem lealdade e obediência ao governo do
país no qual residem. Portanto, a comunidade bahá'í no Irã não se opunha ao
regime dos Pahlavis, assim como não têm se oposto ao Governo atual do Irã; na realidade,
eles têm obedecido todas as leis e instruções do Governo atual, inclusive as
instruções dirigidas contra a Fé Bahá'í, tais como a ordem de dissolverem todas
as instituições administrativas bahá'ís no Irã.
Os bahá'ís são também obrigados a
evitar qualquer forma de envolvimento na política partidária. Os bahá'ís foram
impedidos pela adesão à sua religião de aceitarem ministérios ou cargos
políticos semelhantes sob o regime dos Pahlavis. Muitos bahá'ís sofreram maus
tratos nas mãos dessa força repressiva que era a Savak, a temida polícia do
Irã.
2. Os bahá'ís são acusados de
serem inimigos do Islã.
Os bahá'ís reconhecem os
fundadores de todas as principais religiões do mundo, Buda, Krishna, Zoroastro,
Moisés, Jesus Cristo e Muhammad, como profetas de Deus, reverenciando as
mensagens que eles trouxeram e as religiões que eles inspiraram.
Os bahá'ís acreditam que esses
grandes profetas foram seguidos no século dezenove por outro grande profeta,
Bahá'u'lláh (1817-1892), que trouxe uma mensagem de particular relevância à era
atual. Esta crença é a base do estabelecimento da Fé Bahá'í como uma religião
mundial independente, assim como a crença no profeta Maomé é a base do
estabelecimento do Islã como uma religião mundial independente. Já em 1924, uma
Corte sunita de apelação, no Egito, reconheceu que a Fé Bahá'í é uma religião
mundial independente. A Fé Bahá'í é uma nova religião, inteiramente
independente.
Portanto, nenhum bahá'í pode ser
considerado muçulmano, ou vice versa, da mesma forma que nenhum budista, judeu,
bramâne ou cristão pode ser considerado como um muçulmano.
3. Os bahá'ís são acusados de
serem agentes do sionismo.
Essa imputação baseia-se tão
somente no fato de que o Centro Mundial Bahá'í fica em Israel. Entretanto, ele foi estabelecido
lá no século passado, muito antes do Estado de Israel vir à existência, de
acordo com as instruções explícitas do fundador da Fé Bahá'í, que fora exilado
para lá de sua terra natal, a Pérsia. Portanto, não tem nenhuma relação
com o Estado de Israel ou com o Sionismo.
4. Os bahá'ís são acusados de
prostituição, adultério e imoralidade.
Essa acusação, como as outras,
está completamente sem fundamento. Os bahá'ís têm um código moral estrito,
dando grande importância à castidade e à instituição do casamento.
A imputação de prostituição
deriva da falta de qualquer oportunidade para os bahá'ís no Irã casarem de
acordo com suas consciências e terem aquele casamento reconhecido. A cerimônia
de casamento bahá'í não é reconhecida no Irã, e não existe cerimônia de
casamento civil. Consequentemente, os bahá'ís enfrentam a escolha de renegarem
sua fé para casarem-se de acordo com os ritos de uma das religiões reconhecidas
no Irã, ou de casarem-se de acordo com os ritos da sua própria fé. Eles
coerentemente escolhem sua fé, casando-se de acordo com os ritos bahá'ís. O
Governo não reconhece esses casamentos, denunciando as esposas bahá'ís como
prostitutas.
As outras acusações contra os
bahá'ís, de adultério e imoralidade, baseiam-se somente no fato de que, de
acordo com o princípio bahá'í da igualdade de homens e mulheres, não existe
segregação dos sexos nas reuniões bahá'ís.
* * *
Feitas essas considerações que
são de absoluto conhecimento público e respaldam documentos e resoluções
emitidas pelas Nações Unidas, por parlamentos nacionais como o dos Estados
Unidos e do Reino Unido, além de serem confirmadas em documentos emitidos por
organismos como a Anistia Internacional, fica claro que os bahá´ís são
oprimidos, presos, torturados e mortos pelo estado permanente de injustiças que
tornam crime o direito à liberdade de crença, a liberdade de culto, a liberdade
de reunião, a liberdade de ingressar em universidades do país, além de tornar
crime o direito às aposentadorias a que seus membros têm direito e de ver seus
lugares sagrados, além de seus bens móveis e imóveis, serem arbitrariamente
confiscados ante o olhar cúmplice e complacente dos agentes da lei.
Essa perseguição que vem de
longe, perpassa todos os governos iranianos, todo o período dinástico dos Xás
da Pérsia e, mesmo sob o jugo do Xá Reza Pahlevi, o soberano mais ocidental da
história recente do país, os bahá´ís foram alvo das mais diversas atrocidades
visando a sua não-existência, tanto espiritual, como religião monoteísta que é,
quanto física, com as prisões e os assassinatos.
Os cidadãos e as cidadãs
iranianas têm sido alimentados desde sua infância com cargas de ódio e
doutrinações claramente maliciosas e preconceituosas que a retratam como
"seita perigosa", "antimuçulmana", "agente do
sionismo".
Tudo dentro de falsas premissas e
vãs motivações.
É um ciclo vicioso que se
perpetua desde o ano de 1844, ano do surgimento da Fé Bahá´í no mundo, e mais
precisamente no Irã, então conhecido como Pérsia.
Vítimas do fanatismo de Estado,
os bahá´ís foram obrigados a emigrarem do Irã ao longo da história, e as
maiores ondas de imigrantes bahá´ís do Irã se verificaram nos anos 1950 do
século passado, época em que o país foi governado por Reza Pahlevi e tomou
maior impulso a partir de 1979 quando o Aiatolá Khomeini derrubou o Xá e
estabeleceu no país o regime teocrático a que chamou de República Islâmica do
Irã.
A incitação da população iraniana
contra os bahá´ís faz parte de obscuro esquema de lavagem cerebral fundada no
conceito controvertido da existência não de seres humanos sujeitos de direitos
humanos inalienáveis que o levem à busca da felicidade, mas antes, no conceito
que distingue "muçulmano" de "infiel" assim como se
distingue o certo do errado, a noite do dia, o inverno do verão.
Nessa falaciosa dicotomia, os
bahá´ís são diligentemente retratados como "descrentes hostis", esses
que os muçulmanos xiitas elegem para travar guerras físicas e psicológicas. É
dessa junção de fanatismo religioso com nacionalismo extremista que busca
sobreviver no governo e na sociedade iraniana a justificativa para que os
bahá´ís sejam considerados inimigos do Estado, pessoas nocivas à sociedade e,
portanto, merecedoras de toda forma de opressão, da prisão à tortura e desta à
morte.
Com a criação da República
Islâmica do Irã, sua constituição incluiu o artigo 167 que provê respaldo legal
para a aniquilação dos bahá´ís, concedendo amparo jurídico aos tribunais em
suas ações para a erradicação dessa comunidade, não por acaso, a maior minoria
religiosa do país, tendo maior número de adeptos que a soma dos judeus e
cristãos do país, por exemplo.
Entendem os bahá´ís que "o
que infelicita a parte, infelicita o todo" e que a consciência espiritual
da humanidade não pode continuar vítima da opressão do Estado, nem de quaisquer
forças sociais que tolham o direito básico de cada ser humano, o direito de
crença.
Esta é uma óbvia questão de
justiça e respeito ao ordenamento jurídico internacional que tanto prezam os
postulados de defesa dos direitos humanos.
A campanha mundial de mobilização
contra a perseguição religiosa no Irã e a imediata libertação dos Yarán, os
líderes bahá´ís está fortemente ativa nas redes sociais com as hashtags:
#7bahais7anos
#7bahais7years
#7AnosdeInjustiça
Fonte: http://www.brasil247.com
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