Falta ensino religioso "equilibrado e transversal" em Portugal, defende investigador
O ensino religioso nas escolas
públicas portuguesas mantém-se quase exclusivamente católico, faltando uma
disciplina que aborde de forma "transversal e equilibrada" a
religião, defende o investigador Fernando Catarino, que coordena o primeiro Fórum
Internacional do Ensino Religioso.
A iniciativa, que na quinta-feira
e na sexta-feira reúne em Lisboa especialistas portugueses e brasileiros,
pretende debater o ensino religioso em Portugal à luz da realidade brasileira
não confessional deste ensino e de uma sociedade europeia laicizada onde a
questão religiosa é cada vez mais evidente.
O investigador assinala que, em
Portugal, o ensino religioso continua "muito voltado para a tradição da
educação moral e religiosa católica" e sublinha normas europeias que
apontam para a necessidade deste ensino sair "da esfera
confessional".
Fernando Catarino diz que falta
uma disciplina "que aborde o fenómeno religioso de forma transversal e
equilibrada" e que inclua a história, tradição e cultura das várias
religiões. "Formar para a religião,
para o diálogo, para a abertura ao outro e para a diferença", defendeu,
adiantando que é notória "grande falta de formação religiosa nos
jovens".
"Quando continuamos a
apresentar uma disciplina que tem um caráter confessional é normal que a visão
que se tem sobre as religiões e sobre o diálogo inter-religioso passe muito por
essa visão que é de antemão enviesada, com uma chave de leitura marcadamente
católica", acrescentou.
"Não uma disciplina moral e
religiosa católica, mas ensino religioso no seu todo", disse. As estatísticas do Ministério da
Educação revelam que no ano letivo 2011/2012 havia mais de 265 mil alunos do
ensino básico e secundário inscritos nas aulas de religião e moral, na sua
grande maioria aulas de religião e moral católica.
Além deste tpo de aulas, as
escolas públicas oferecem a disciplina de educação moral e religiosa
evangélica. Dados da Comissão para a Acão
Educativa Evangélica nas Escolas Públicas (COMACEP), da Aliança Evangélica
Portuguesa, revelam que é possível encontrar esta oferta educativa em 233
escolas, abrangendo 1.700 alunos.
Fernando Catarino adiantou que
atualmente não tem conhecimento de oferta de ensino religioso de confissões não
cristãs nas escolas públicas. Em declarações à agência Lusa, o
coordenador do Departamento Cultural da Mesquita Central de Lisboa, Mohamed
Culano, explicou que não tem sido possível reunir o número de alunos exigido
por lei para criar ensino do Islão nas escolas públicas.
A Constituição da República e a
Lei da Liberdade Religiosa garantem a liberdade de ensino de qualquer religião
nas escolas públicas, exigindo para tanto a existência de um número mínimo de
alunos. "Os alunos estão muito
dispersos e não tem havido muita flexibilidade para facilitar a criação de
turmas", disse.
"Como temos ensino religioso
nas mesquitas e locais de culto acabou por se diluir essa necessidade do ensino
nas escolas públicas, o que é pena. Seria importante o ensino do Islão para
possibilitar às outras crianças o contacto com outras religiões", disse.
Na Mesquita Central de Lisboa há
entre 40 e 50 alunos a frequentar o ensino religioso a partir dos 4/5 anos, mas
Mohamed Culano acredita que nas mesquitas instaladas nas zonas residências esse
número seja maior. Ao longo de dois dias será
analisada também "a pertinência e necessidade do ensino religioso numa
sociedade que procura cada vez mais separar tudo o que é religioso da esfera
pública".
Fonte: http://diariodigital.sapo.pt
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