No Dia do Muçulmano, mulheres explicam como é seguir o Islã no Brasil
Foz do Iguaçu comemora, no dia 12
de maio, o Dia do Muçulmano.
"A mulher muçulmana carrega
no corpo a religião", diz Claudia Asma, 44, sobre a responsabilidade
feminina diante do islamismo. Brasileira, ela não nasceu em nenhum país
muçulmano e não tem familiares praticantes da religião.
Claudia, que estudou por seis
anos o Alcorão antes de converter, vive em Foz do Iguaçu, cidade que tem a maior
comunidade islâmica do Brasil, em proporção à sua população total.
A cidade paranaense comemora, no
dia 12 de maio, o Dia do Muçulmano. Dentro de uma das mesquitas de Foz do
Iguaçu, Claudia e cinco amigas se revezam para explicar o que é ser uma mulher
muçulmana e o que significa optar por esse caminho em um país como o Brasil.
"Se uma mulher islâmica faz
algo de errado, não é uma mulher, e sim uma muçulmana que está fazendo algo de
errado", define ela. Vir de família evangélica, segundo ela, facilitou conviver
em um ambiente em que o dia a dia é conduzido a partir de questões espirituais.
A mesma visão é compartilhada com
a amiga Raquel Diniz, 41, que se converteu ao casar com um libanês que morava
na casa vizinha de seus pais. "A muçulmana não é uma mulher oprimida.
(...) Usar o véu não tem nada a ver com o pai ou com o marido, e sim com
Deus", afirma Raquel ao falar sobre a "hijab" (lenço curto, que
cobre a cabeça e o colo). Elas também podem usar o usar o xador, véu mais longo
e na altura do quadril.
"Não é obrigatório, há
muitas mulheres que conhecem a religião mas preferem não usar o véu."
Claudia conta que sua filha, por exemplo, optou por não adotar a vestimenta aos
nove anos, idade a partir da qual passa ser permitido, e não usa até hoje.
Para a antropóloga Francirosy
Ferreira, que estuda o assunto há 19 anos, existe uma especificidade em ser
mulher que vem antes da sua cultura ou religião, e que difere de contexto em
contexto.
Segundo ela, nem sempre as
reivindicações das mulheres no Ocidente colaboram para as pautas feministas no
Oriente. Apesar de o islamismo não obrigar uma filha a casar com quem o pai
escolher, culturalmente isso acontece em países muçulmanos. Tal pauta não
aparece em bandeiras ocidentais, exemplifica Francirosy.
"Nós temos um grande
problema que é o etnocentrismo, o que fazemos é sempre melhor do que os outros.
Vivemos um momento de intolerância em vários sentidos. (...) Falta uma
construção de alteridade, de entender que o outro é diferente."
Preconceito
"Tudo o que é diferente é
observado. Quando acontece algum ato terrorista [como o 11 de Setembro], nesses
casos sim, somos hostilizadas. É desagradável, já aconteceu comigo, mas eu não
me incomodei", conta Claudia.
"Terrorismo e religião são
coisas diferentes", repete. A reclamação de Claudia e suas amigas é a
mesma: o islamismo é generalizado em práticas que, nem sempre, estão ligadas a
ele.
"A pena de morte não é uma
lei islâmica, porém países muçulmanos a praticam. Os Estados Unidos, por
exemplo, têm pena de morte, mas ninguém fala nada", compara Hanadi Diniz,
19, filha de Raquel.
Hanadi destaca, no entanto, o
fato de em Foz do Iguaçu as pessoas já estarem acostumadas com os muçulmanos.
Para ela, esse é um dos motivos de não sofrerem nenhum preconceito explícito.
Sobre o noticiário recente acerca
do Estado Islâmico (EI), milícia radical que prega agir com base no islã,
Hanadi também diz que a população local não associa tais práticas aos
muçulmanos locais.
"Quando ficamos sabendo de
algum noticiário sobre o EI, também ficamos chocados, assim como vocês"
explica. "São grupos isolados que agem de acordo com suas necessidades,
ficamos indignados."
Fonte: http://www.otempo.com.br
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