Pavilhão da Islândia gera polémica na Bienal de Veneza – Por Maciej Kulczynski
Um pavilhão em forma de mesquita,
instalado numa igreja, que questiona a fronteira entre arte e religião, está a
causar polémica na Bienal de arte contemporânea em Veneza.
O júri da 56.ª Bienal, ao
entregar os prémios, congratulou-se com "a sensibilidade particular"
relativa "às atuais emergências geopolíticas" evidenciada pelos 136
artistas e 89 países presentes.
Entre estes artistas, o suíço
Christoph Buchel instalou uma mesquita numa antiga igreja desativada. "La
Moschea" (a mesquita, em italiano) pode ser visitada na antiga igreja de
Santa Maria da Misericórdia, cujo proprietário privado a alugou à Islândia. Por entre os visitantes, alguns
muçulmanos locais escolheram o pavilhão islandês como local de oração. Deixam
os sapatos à entrada e ajoelham-se em direção a Meca.
Christoph Buchel queria sublinhar
que não existem mesquitas no centro histórico da Cidade dos Doges, onde a
influência do Islão foi significativa no passado. Os muçulmanos podem ver neste
pavilhão uma promoção da tolerância entre cultura e religião, mas a iniciativa
também atraiu críticas.
Uma preocupação das autoridades é
a segurança, já que a instalação pode ser alvo de islamófobos ou de
fundamentalistas muçulmanos. O presidente da região de Veneza, Luca Zaia,
considerou "evidente que se trata de uma provocação" de Buchel. "O verdadeiro tema desta
mesquita não é o da liberdade religiosa, mas o respeito das regras" de uma
manifestação artística internacional como a Bienal, acrescentou.
O júri da Bienal atribuiu o Leão
de Ouro da melhor participação nacional à República da Arménia, com
"Armenity/Haiyutioun" de um coletivo de uma dezena de artistas
arménios, no ano em que se assinala o massacre arménio de 1915. Composto pela norte-americana
Naomi Beckwith, a austríaca Sabine Breitwieser, o italiano Mario Codognato, o
indiano Ranjit Hoskote e o sul-coreano Yongwoo Lee, o júri desta edição
atribuiu o Leão de Ouro para a melhor artista ao trabalho da
norte-americana Adrian Piper, denominado "The Probable Trust Registry: The
Rules of the Game #1-3"
O Leão de Prata para a jovem
promessa foi entregue ao sul-coreano Im Heung-Soon ("Factory
Complex"). O júri decidiu ainda atribuir três menções honrosas ao falecido
alemão Harun Farocki, ao coletivo sírio Abunaddara, e ao argelino Massinissa
Selmani. A Bienal de Veneza destacou, com
uma menção especial, a norte-americana Joan Jonas, de 80 anos, que apresentou
uma instalação vídeo: "They Come to Us Without a Word".
O prémio carreira,
previamente anunciado, foi entregue ao ganês El Anatsui, um dos maiores
artistas africanos vivos, cujas obras são inspiradas nas tradições culturais
africanas e conjugadas com pesquisas estéticas contemporâneas. O Leão de Ouro
por Serviços às Artes foi entregue à norte-americana Susanne Ghez (Estados
Unidos). A Bienal foi inaugurada este sábado e decorre até 22 de novembro.
Fonte: http://www.jn.pt
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