Igreja Mórmon dos EUA se opõe a decisão dos escoteiros de permitir líderes gays – Por Erik Eckholm
A organização de escoteiros Boy
Scouts of America suspendeu na segunda-feira (27/07) sua proibição nacional de
líderes adultos abertamente homossexuais.
A nova política, entretanto,
permite que as unidades patrocinadas por igrejas escolham os líderes das
unidades locais que compartilham seus preceitos, mesmo que isso signifique a
restrição desses cargos a homens heterossexuais.
Mesmo com esta exceção, a Igreja
Mórmon disse que poderá deixar a organização. Sua postura surpreendeu a muitos
e levantou dúvidas se outros patrocinadores conservadores, incluindo a Igreja
Católica Romana, não seguirão o exemplo.
"A Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias está profundamente preocupada com o resultado da
votação de hoje pelo Conselho Executivo Nacional dos Boy Scouts of
America", disse um comunicado emitido pela igreja momentos depois dos
escoteiros anunciarem sua nova política. "Quando a liderança da Igreja
retomar a sua programação regular de reuniões em agosto, a associação de um
século com os escoteiros terá de ser reavaliada".
Em
declarações anteriores, Gates manifestou a esperança de que, com a aprovação da
isenção para grupos religiosos, os escoteiros pudessem evitar uma fragmentação
devastadora. Muitos líderes dos Boy Scouts of
America disseram que não esperavam a resposta dura da Igreja Mórmon e sua
ameaça de deixar a parceria.
"Minha suposição era de que
a decisão votada hoje tinha sido avaliada, de modo a evitar surpresas
desnecessárias", disse Jay Lenrow, líder escoteiro e voluntário de longa
data em Baltimore, que está no comitê executivo da região nordeste e atua no
comitê nacional de relações religiosas da organização.
"Eu só posso dizer que eu
estou esperançoso de que, quando a liderança da Igreja se reunir e discutir a
questão, encontrará uma maneira de continuar a apoiar os escoteiros",
acrescentou Lenrow.
Os mórmons usam os Boy Scouts of
America como sua principal atividade não religiosa para meninos, e as unidades
que patrocinam foram responsáveis por 17% de todos os jovens no escotismo em
2013, o último ano para o qual foram publicados dados.
Sob a política adotada na
segunda-feira, a discriminação com base na orientação sexual também será banida
em todos os escritórios dos Boy Scouts of America e todos os empregos
remunerados, uma medida que visa evitar ações na justiça em Nova York, Colorado
e outros Estados que proíbem a discriminação no emprego. Uma ameaça jurídica foi
imediatamente evitada.
Em resposta à mudança, o procurador geral de Nova York,
Eric T. Schneiderman, anunciou na segunda-feira que seu escritório estava
arquivando sua investigação dos escoteiros por violação das leis estaduais de
combate à discriminação. O conselho executivo nacional dos
escoteiros, composto de 71 líderes civis, empresariais e da igreja, aprovou as
alterações com 79% dos votos daqueles que participaram da reunião por telefone,
de acordo com um comunicado emitido pelos escoteiros. O anúncio não disse
quantos conselheiros estavam ausentes.
A mudança de política, que já era
esperada, foi amplamente vista como um divisor de águas para uma instituição
que tem enfrentado crescente turbulência sobre a sua posição em relação a pessoas
homossexuais, enquanto se esforça para deter um declínio de longo prazo. Ela
foi elogiada por organizações de defesa dos direitos gays como um grande passo,
apesar de incompleto, para acabar com a discriminação.
Em 2013, enfrentando crescente
pressão pública e interna, os escoteiros decidiram que jovens abertamente gays
poderiam participar das atividades, mas não adultos. Essa abordagem não
satisfez a ninguém. Ela forcou a expulsão dos homossexuais Eagle Scouts quando
completavam 18 anos, mas ainda não impediu a saída de alguns
conservadores.
Gates fez uma advertência urgente
em maio dizendo que, por causa da cascata mudanças sociais e legais, a
organização não tinha escolha senão acabar com a proibição de líderes
gays. Em uma declaração em 13 de julho,
a Igreja Mórmon pareceu sugerir que aceitaria a solução adotada na
segunda-feira.
A declaração dizia que qualquer novo padrão de liderança deveria
preservar "o direito de selecionar líderes escoteiros que adiram aos
princípios morais e religiosos consistentes com nossas doutrinas e
crenças". Mas o tom da declaração dos
mórmons de segunda-feira após o anúncio formal da nova política de Escoteiros
foi marcadamente mais negativo.
"A Igreja sempre recebeu
todos os meninos em suas unidades de escoteiros, independentemente da
orientação sexual", disse a declaração da sede da Igreja Mórmon. "No
entanto, a admissão de líderes abertamente homossexuais é incompatível com as
doutrinas da igreja e os valores tradicionais dos Boy Scouts of
America".
A declaração também sugeriu outra
razão pela qual os mórmons estão pensando em deixar os Boy Scouts of America: a
possível criação de uma organização similar própria para servir aos seus
membros em todo o mundo.
"Como uma organização global
com membros em 170 países, a Igreja há muito vem avaliando as limitações que
metade de seus jovens enfrentam onde o escotismo não está disponível",
disse o comunicado.
Algumas igrejas evangélicas
conservadoras cortaram os laços com os escoteiros após a decisão de 2013 ao
admitir jovens abertamente gays. O total de jovens matriculados, que tinha
declinado em alguns pontos percentuais em muitos anos anteriores, caiu 6% em
2013 e 7% em 2014, para 2,4 milhões.
É provável que outros
conservadores religiosos se afastem, disse Russell D. Moore, presidente da
Comissão de Ética e Liberdade Religiosa da Convenção Batista do Sul. Moore
expressou ceticismo sobre a promessa dos escoteiros em deixar que unidades
patrocinadas pela igreja excluíssem líderes gays por motivos religiosos.
"Depois que os escoteiros
mudaram a regra de adesão, eles disseram aos grupos religiosos que isso
não afetaria as lideranças", disse ele. "Agora, estão dizendo que
essas mudanças não afetarão os grupos de base religiosa. As igrejas sabem que
esta é a palavra final somente até o próximo desdobramento".
Por outro lado, com a mudança de
segunda-feira, os executivos dos escoteiros esperam renovar os laços com
doadores corporativos, escolas e órgãos públicos e atrair pais que tinham
afastado seus filhos do escotismo por causa de sua política.
"Vamos continuar a focar em
alcançar e servir os jovens, ajudando-os a crescer para se tornarem cidadãos
bons e fortes", disse o comunicado dos Boy Scouts of America na
segunda-feira.
O desafio mais difícil, dizem os
líderes escoteiros, talvez seja conquistar o tempo e o entusiasmo dos jovens
cada vez mais urbanos, diversificados e atarefados de hoje. Para aumentar seu
apelo, os escoteiros construíram novos campos de aventura com atividades como
mountain bike e tirolesa, e criaram novas medalhas de mérito em áreas como
robótica e animação.
Fonte: http://noticias.uol.com.br
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