Aviya é o rosto do extremismo judaico em Jerusalém – Por William Booth
São jovens e querem o início de
uma nova era religiosa em que Israel seria governada pela lei da Torah. Os
serviços secretos comprometeram-se a desmantelar o que está a ser descrito como
uma rede obscura de fanáticos.
Aviya Morris é
a nova face do extremismo judaico, uma jovem mãe de voz suave que quer ver os
muçulmanos derrotados e a ascensão de um novo Israel. Esse é o seu sonho. Ela
própria admite que isso “pode levar a uma guerra mundial”. Mas isso seria culpa
dos árabes e da comunidade internacional. Morris tem 20 anos.
Este local, cercado por muralhas,
é sagrado para ambas as religiões, e o ponto de partida nos dias que correm
para confrontos esporádicos. Os judeus acreditam que foi aqui que o mundo
começou e que Abraão teve a sua mão travada por um anjo antes de desferir um golpe
fatal contra Isaac. Foi aqui que os judeus construíram o Primeiro e o Segundo
templos.
Também é o local onde se situa a
Mesquita de al-Aqsa e a Cúpula do Rochedo e que marca o ponto da ascensão do
profeta Maomé na sua viagem nocturna para o céu. E foi aqui que a jovem Aviya
Morris gritou “Maomé é um porco”, insultando de forma definitiva o profeta
muçulmano. Ela diz que foi provocada, que durante a sua visita ao Monte do
Templo foi assediada por muçulmanas de rosto coberto que lhe gritaram “Allahu
Akbar" (Deus é Grande) e “morte aos judeus”.
“Senti que seria embaraçoso não
dizer nada em resposta, o meu silêncio recairia não só em nós mas também sobre
Israel”, explicou Morris. “Nós temos o direito de estar aqui”. Para a
israelita, foram as mulheres palestinianas as agressoras. “Este é o único local do mundo
onde os judeus não podem rezar. Os árabes podem trazer bandeiras do Estado
Islâmico e do Hamas, e nós não podemos rezar nem mostrar bandeiras israelitas,
e o mundo não faz nada”.
Ataques mortais
Depois de insultar o profeta, Aviya Morris foi brevemente detida e interrogada pelas autoridades israelitas que a aconselharam a manter-se longe da Cidade Velha durante pelo menos uma semana, para a sua própria segurança. Palestinianos e alguns israelitas defenderam que ela devia ter sido acusada de incitamento à violência. Mas não foram apresentadas queixas.
Por estes dias, israelitas e
palestinianos estão a tentar lidar com a violência que incluiu confrontos entre
colonos judeus e forças do governo num colonato da Cisjordânia; um ataque
com uma faca numa marcha do orgulho gay em Jerusalém levado a cabo por um
judeu extremista que deixou uma rapariga de 16 anos morta; e um ataque
incendiário de judeus extremistas numa aldeia palestiniana que provou a morte
imediata de um bebé e a morte do pai uma semana depois, deixando
gravemente feridos a mãe e o outro filho do casal.
Os políticos israelitas, furiosos
e embaraçados pela emergência do extremismo judaico, apelaram à pena de
morte contra cidadãos israelitas que sejam condenados por actos terroristas e
ao recurso a medidas securitárias mais duras, incluindo a prisão
administrativa (sem julgamento e prolongável indefinidamente), que normalmente
só é usada contra os palestinianos.
Morris diz que se passou da
cabeça quando insultou Maomé, mas ela passou-se acompanhada por uma câmara da
televisão israelita que estava a acompanhar um grupo de mães e bebés que
visitavam o local sagrado. As vigilantes palestinianas
são um novo fenómeno no complexo de Al-Aqsa. Elas seguem os judeus e as suas
escoltas policiais para impedirem os visitantes judeus de rezarem ou cantarem
(sendo que aqui as orações judaicas são proibidas pelas autoridades israelitas,
para proteger o status quo de 48 anos).
As guardas palestinianas dizem
que a sua missão é proteger o local dos visitantes judeus, por temerem que
estes queiram regressar em massa para rezar e que queiram construir um
Terceiro Templo nas ruínas da sua mesquita. Nos media palestinianos, os judeus
que vão ao santuário raramente estão a “visitar” mas sim a “invadir” e a “ocupar”
o local.
As mulheres palestinianas também
tinham telefones para captar o insulto de Morris e rapidamente a sua imagem
espalhou-se pelas redes sociais; alguns internautas apelaram à sua morte.
Conspiração extremista
Esta não foi a primeira acção provocatória de Morris. Antes ela cuspiu no deputado árabe israelita Ahmad Tibi durante um debate na universidade Bar-Ilan, nos arredores de Telavive, em 2012, e em 2013 foi detida pela polícia por suspeita de envolvimento em actos de vandalismo contra o Mosteiro da Cruz em Jerusalém, onde os atacantes deixaram pintada com tinta de spray a mensagem: “Jesus, filho de uma meretriz”. Morris foi libertada sem ter sido acusada de nenhum crime.
Agora, acusados de inércia para
com o extremismo religioso judaico, os serviços secretos israelitas
comprometeram-se a desmantelar aquilo que a imprensa hebraica descreve com uma
rede obscura e clandestina de jovens fanáticos que, segundo as autoridades, querem
derrubar o Estado de Israel fomentando o conflito israelo-árabe.
Nos últimos dias já foram detidos
administrativamente pelo menos nove jovens colonos judeus por suspeita de
actividades extremistas contra palestinianos. Os radicais sonham com o nascimento
de um novo reino religioso em que Israel seria governada pela lei da Torah e o
Terceiro templo seria reconstruído.
A jovem Aviya Morris pertence a um grupo de
activistas que se auto-intitulam: Estudantes para o Monte do Templo, que
realizou um protesto com bandeiras à entrada do complexo no domingo da semana
passada.
Membros de vários movimentos do
Monte do Templo, financiados por patrocinadores norte-americanos, dizem que
todos querem igualdade de direito para rezar, enquanto outros se preparam para
o dia em que o Terceiro Templo vai ser reconstruido, sem exigirem a destruição
da mesquita. Esperam pela “novilha vermelha perfeita” para serem conduzidos
para uma nova era. Mas alguns activistas dizem que querem que esse dia seja já
hoje.
A jovem colona explica que a
Torah contém “instruções exactas” para construir o Terceiro Templo. “Se
dependesse de nós, reconstruíamos o Templo já. Esta é a nossa solução”.
Fonte: http://www.publico.pt
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