Líderes de várias crenças se reúnem para superar intolerância religiosa – Por Marcela Belchior
"Temos o direito a sermos
iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito a sermos
diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza”, defende o sociólogo
português Boaventura de Sousa Santos, em seu livro: "Reconhecer para
libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural”.
A partir desta
premissa, representantes de várias religiões e doutrinas religiosas se reuniram
buscarem caminhos rumo à superação da repressão de crenças, durante o:
I
Encontro: "Fortaleza contra a intolerância religiosa”
Realizado na
Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza
[Estado do Ceará].
"A sociedade brasileira só
vai deixar de ser intolerante quando a gente compreender que somos seres
diversos”, afirma Kelma de Iemanjá, representante da Rede Nacional de Religiões
Afro-brasileiras e Saúde (Renafro). "Infelizmente, nós vivemos em uma
sociedade apartada, fragmentada, segregativa, que exclui, e exclui,
principalmente, nós, o povo de terreiro”.
Kelma pontua a necessidade da
sociedade de se desnudar de seus preconceitos e atuar de forma respeitosa e
pacífica com relação às diferenças religiosas. "A gente não vai deixar de
usar o pano na cabeça, não vai deixar de ir à Festa de Iemanjá porque as
pessoas se incomodam com a maneira como eu me visto ou como eu professo a minha
fé”, afirma.
"O Estado brasileiro, na
lei, é laico. Mas, na prática cotidiana, nas políticas públicas, o Estado
brasileiro não é laico, porque, na hora de apoiar a Festa de Iemanjá, ele apoia
com coisa pouca, diante das festas grandiosas que a gente tem, apoiando vários
outros formatos [de celebrações religiosas]”, critica a umbandista.
Para Parama Karuna, presidente da
Sociedade Internacional para a Consciência Krishna no Ceará, é preciso um
exercício de alteridade. "É importante que todos tenham o direito à livre
escolha, mas que essa escolha seja feita com o sentimento e o cuidado com o
outro”, explica.
"Não importa qual seja a
nossa linha de pensamento, nós podemos entender a importância do outro. E
também das pessoas que decidem não seguir nenhum caminho religioso”, observa.
Nesse contexto, Aníbal Jorge,
representante do Grupo Espírita Paulo Estevão, em Fortaleza, destaca ainda o
respeito ao agnóstico. "Já participei de alguns eventos ecumênicos e isto
é importante, socialmente falando, porque somos indivíduos, mas não deixamos de
ser seres plurais. (...) Vamos encontrar também muitas pessoas que não
acreditam em uma divindade, mas, como seres humanos, podemos identificá-los
pela sua bondade, comportamento, postura, pensamentos. Às vezes, está muito
mais evoluído e consegue ajudar muito mais pessoas”, enfatiza.
Coordenadora de Educação em
Direitos Humanos de Fortaleza, Eunice Siebra, comenta a importância do
encontro. "Este momento simboliza paz, diálogo e reflexão. O intuito não é
debater sobre as religiões, mas firmar um pacto coletivo, de respeito à prática
religiosa, à liberdade de culto e a não seguir religiões. É um encontro que
visa a promover a discussão e o pacto nas práticas de cidadania”, afirma.
Já Allan Damasceno, coordenador
da Promoção e Difusão da Cidadania e Direitos Humanos de Fortaleza, explica que
o objetivo do encontro vem no contexto de resgatar uma dívida com aqueles que
sentem seus direitos violados, pautando a ética, orientando-os sobre os seus
direitos. "Ir na contramão do fundamentalismo religioso, do preconceito e
intolerância. Fortaleza optou pelos direitos humanos”, disse.
O evento foi realizado pela
Prefeitura de Fortaleza, através da Coordenadoria Especial da Igualdade Racial
da SCDH, em parceria com a União Espírita Cearense de Umbanda, Instituto de
Difusão da Cultura Afro-Brasileira, Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras
e Saúde (Renafro) e Ordem dos Advogados do Brasil no Ceará (OAB/CE).
Fonte: http://site.adital.com.br
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