Conferência reúne vítimas de violência étnica e religiosa


Representantes de cerca de 60 países estão reunidos nesta terça-feira (08/09) em Paris para participar da Conferência Internacional da ONU sobre as vítimas de violência étnica e religiosa no Oriente Médio. 

Na abertura do encontro, o presidente francês, François Hollande, afirmou que o êxodo das populações que fogem do Iraque e da Síria só vai parar se houver uma ação ampla de apoio aos países que acolhem essas comunidades.

Essa conferência da ONU, que tenta proteger minorias, deve adotar um plano de ação com três objetivos principais: o primeiro é humanitário e visa garantir um retorno permanente e seguro dos refugiados e deslocados a seus países. A intenção é não esvaziar o Oriente Médio de suas minorias, diz o chanceler francês, Laurent Fabius. Os migrantes sírios e iraquianos que já chegaram à Europa devem ter a possibilidade de voltar a seus países.

O segundo objetivo é jurídico e se concentra na luta contra a criminalidade. As agressões de grupos terroristas que pregam uma limpeza étnica não devem ficar impunes. O terceiro é último objetivo é político. Os países do Oriente Médio devem integrar minorias religiosas e étnicas na composição governamental, ponto considerado essencial para preservar e garantir a estabilidade.

Ontem, cerca de 200 pessoas protestaram em frente à embaixada da Turquia em Paris para denunciar o genocídio armênio e o massacre de minorias cristãs.

Grupo Estado Islâmico persegue minorias

Em 2014, a comunidade yazidi iraquiana, vista como apóstata (desvinculada da religião) pelos islamitas, foi cruelmente perseguida pelo grupo Estado Islâmico (EI) durante a ofensiva dos jihadistas para conquistar o norte do Iraque. Yazidis que conseguiram escapar das garras dos radicais islâmicos relataram que eles eram obrigados a se converter à força ao Islamismo. 

Centenas de mulheres da comunidade foram transformadas em escravas dos rebeldes, enquanto homens foram sumariamente executados. Para a ONU, os ataques do EI contra os yazidis podem ser comparados a um genocídio.

Etnicamente, os yazidis são curdos, embora se distingam da maioria destes pelos ritos que praticam. A religião yazidi é pré-cristã e mistura elementos de várias tradições religiosas, sobretudo o Zoroastrismo, que já foi a religião maioritária na antiga Pérsia, mas com elementos do Islamismo e também do Cristianismo. 

Os yazidis acreditam num Deus criador, mas consideram que ele colocou a Terra sob a guarda de sete anjos, o principal dos quais é Melek Taus, conhecido também como o Anjo Pavão. O Anjo Pavão é o principal símbolo da religião e é conhecido ainda pelo nome de Shaytan, o mesmo nome dado no Alcorão a Satanás.

Os yazidis não são a única minoria perseguida pelos jihadistas no Iraque. A ONU estima que o caos provocado pela perseguição de supostos "infiéis" forçou o deslocamento interno de 1,2 milhão de pessoas no país.

Patrick Karam, presidente da entidade francesa Chredo (Coordenação dos Cristãos do Oriente) lembrou em entrevista à RFI que há apenas algumas décadas, os cristãos formavam entre 15% e 20% das populações do Oriente Médio. "Hoje, eles representam apenas 3%", lamenta. Para Karam, a questão dos cristãos do Oriente é central, mas muitas vezes omitida nos debates, como se fosse "vergonha" em ser cristão.

Jinan Badel, a jovem yazidi escravizada pelo EI

Outra participante da conferência é a jovem curda de 19 anos Jinan Badel, da comunidade yazidi, que foi escrava do grupo Estado Islâmico. Em um livro recém-lançado na França, ela conta o martírio que viveu enquanto esteve nas mãos dos jihadistas. Foram três meses de agressões diárias até ela conseguir fugir, com outras meninas que estavam no cativeiro.

Jinan recebeu da França uma oferta de asilo, mas recusou a proposta. Ela se prepara para retornar ao Curdistão e se juntar à família, que vive num campo de refugiados. Hollande disse à jovem que ela pode levar uma mensagem de confiança aos curdos, porque a França continuará a combater os jihadistas.

A conferência de Paris acontece em um contexto delicado. O continente europeu enfrenta a pior crise migratória desde o fim da Segunda Guerra Mundial, com muitos refugiados e deslocados fugindo de guerras no Oriente Médio, na Ásia e na África.





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