Crise política une libaneses de partidos e religiões diferentes – Por Tarik Saleh
A chamada crise do lixo é somente
a ponta do iceberg da crise no Líbano. A campanha por uma solução ao problema
da coleta de lixo se transformou recentemente em um amplo movimento contra a
corrupção e o atual sistema político no país.
No último sábado (29/08), mais de
15 mil pessoas compareceram às manifestações anti-governo. Embora ainda um
número pequeno, se comparado com o poder de mobilização dos partidos políticos,
o movimento vem ganhando cada vez mais adesões e já inclui diferentes classes
sociais de várias regiões do país.
O primeiro-ministro libanês,
Tammam Salam, alertou a elite política que se os protestos continuarem a
crescer, o governo poderá entrar em colapso, o que elevaria a insegurança e a
crise no Líbano. O principal grupo organizador
destes protestos é formado por jovens ativistas que iniciaram uma campanha nas
redes sociais exigindo uma solução para a coleta de lixo, que inundou as ruas
da região metropolitana de Beirute.
Eles são jovens, de classe média,
profissionais liberais e universitários, uma nova geração de libaneses cansada
com o que eles chamam de incompetência política e o sistema político feudal do
Líbano, em que pais passam o poder aos filhos ou aliados.
União de opostos
O que mais chama a atenção neste
movimento é a capacidade de reunir, como poucas vezes no país, cidadãos de
grupos religiosos diversos, inclusive simpatizantes de partidos opostos. No
Líbano, os partidos são divididos praticamente de acordo com as linhas
sectárias e isso reflete nas instituições públicas e sociedade.
Mas cansados de negligência do
governo, injustiça social e corrupção, pessoas de outros movimentos sociais,
classes de trabalhadores, artistas, jornalistas, professores, e até mesmo
políticos independentes se juntaram aos protestos para exigir reformas. Muitos manifestantes gritam a
palavra revolução, mas até que ponto o objetivo é derrubar o sistema político
atual? Quais são as reivindicações?
Os manifestantes gritam palavras
de ordem contra o sistema político vigente, mas o cerne do movimento já
declarou que seus objetivos principais são exigir serviços básicos como água,
luz e coleta de lixo, combate à corrupção, empregos, um presidente eleito e
novas eleições parlamentares.
Os organizadores se mostram
conscientes que um colapso do governo seria prejudicial ao país, mas, ao mesmo
tempo, eles exigem mudanças e não dão sinais de que recuarão. Vale lembrar, que
o país enfrenta constantes cortes de energia que somadas podem chegar a 9 horas
diárias. Há deficiência no fornecimento de água e, é claro, a coleta e a
reciclagem de lixo é deficiente. Somado a isso, a corrupção afeta visivelmente
o dia a dia dos cidadãos e muitos jovens libaneses emigram a outros países à
procura de emprego e de uma vida melhor.
Classe política é protestos
Cada vez mais fica óbvio e latente
o grande abismo entre a população em geral e a classe política. As declarações
de parlamentares, ministros e outros mostra um certo senso de negação, de que
não enxergam ou não querem enxergar os inúmeros problemas sociais que afligem o
país.
No início, deram pouca
importância aos protestos, amparados pelo sistema sectário e patronal no
Líbano. Mas agora se sentem ameaçados e temem que um aumento das manifestações
em proporções muito maiores poderia significar um fim ao seu monopólio
político.
Outros políticos admitem os
problemas, mas apenas apresentam discursos demagogos que só aumentam a ira dos
manifestantes. Em debates nas emissoras libanesas, ativistas acusam os
políticos não apenas de corrupção, mas também de incompetência e clara falta de
habilidade para exercer seus cargos.
Há, agora, uma mobilização entre
os partidos para chegarem a um consenso e elegerem o presidente do país e
também resolver os problemas mais urgentes exigidos pelos manifestantes.
Segundo analistas, os partidos esperam que ao atender a algumas das
reinvindicações, o movimento antigoverno perca folêgo.
Fonte: http://www.brasil.rfi.fr
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