Em cerimônia wicca no AC, noivos pulam vassoura e atam as mãos – Por Tácita Muniz



Religião politeísta é também conhecida como bruxaria moderna. Casamento foi realizado no fim de semana, em Rio Branco/AC.

Vestida de vermelho e pedindo a benção de todos os deuses, Allana Khristie, de 23 anos, tornou-se mulher de Yuri Montezuma, de 32 anos, no último sábado (19/09), durante uma cerimônia wicca [bruxaria moderna] realizada na casa do padrinho de casamento, em Rio Branco. 

Juntos há quatro anos, o casal resolveu oficializar a união com uma cerimônia para pouco mais de 80 convidados no local que consideraram reservado e intimista, porque, segundo a noiva, um dos fundamentos wiccanos é não revelar seus planos.

Allana é adepta da religião wicca há pouco mais de dois anos. Ela diz que conheceu a crença aos 13 anos, mas começou a praticá-la anos depois. Já o noivo, não era wiccano, mas aceitou que a cerimônia se baseasse naquilo que Allana acreditava.

 “No convite, tomamos o cuidado de deixar bem claro o que era a religião para que as pessoas não se assustassem, porque a wicca é uma religião nova e muita gente ainda não conhece. Então, decidimos fazer na casa de um amigo, que também é meu padrinho, porque apesar de uma festa, foi um ritual. E na wicca, a gente aprende que ninguém sai por aí pregando a palavra, a não ser que alguém nos pergunte algo, mas geralmente você não sai por aí falando seus planos ou sobre o que praticamos”, explica.

A cerimônia é repleta de simbolismo e resgata os costumes de antigos povos. Por ser uma doutrina politeísta e que cultua, principalmente, a natureza, os noivos podem escolher um Deus específico ou não para ficar no altar durante a celebração. No caso de Allana, o Deus não foi específico, mas representado de maneira genérica.

O sacerdote que deu a benção ao casal foi Vitor Pendragon, que conta que essa foi a primeira cerimônia wicca que celebrou no estado do Acre. Ele explica que a cerimônia é algo enquadrado no gosto dos noivos e que o sacerdote está ali apenas como um intermediário. 

“Teoricamente, qualquer sacerdote wiccano pode celebrar o casamento, assim como todos os wiccanos são sacerdotes. Os noivos decidem o que vão jurar um ao outro e a cerimônia é bastante customizável”, explica.

No caso de Allana, o tradicional vestido branco deu lugar a um vestido vermelho vivo, que segundo ela, é uma das cores que trazem mais sorte. Afinal, conforme explica Alana, como tudo na religião wicca, a cor também vem carregada de simbologia e energia.

“Vermelho seria a cor mais auspiciosa, a outra opção era verde, mas não ficaria legal com meu cabelo roxo. Tudo foi dando certo para ser vermelho na festa, os corações, as flores. Não fui de branco porque essa cor sempre foi usada para demonstrar pureza e se tem uma coisa que não sou é pura”, brinca. Na mesma linha seguia a ornamentação da festa, toda feita pelos noivos.

"A única coisa que a gente comprou foram as flores usadas na cerimônia. Minha amiga fez o desenho de uma deusa genérica e a cultuamos durante a celebração. A wicca não tem uma igreja, o templo é a terra e o mundo. E você também pode praticá-la individualmente, eu tenho um altar no meu quatro, onde faço as minhas orações. Gosto porque é uma religião que trabalha muito o feminino, porque a maioria dessas religiões sempre cultua o masculino. Então, isso é bom”, esclarece.

Questionada sobre o preconceito em relação à festa, Allana diz que teve de enfrentar alguns “olhares tortos”, mas nada que a desanimasse. Em uma avaliação geral, ela conta que sempre teve o apoio da família, dos amigos e marido. 

Montezuma apoia a mulher e também ajuda a desmistificar muitos boatos sobre a religião. Ele ressalta que os seguidores possuem uma filosofia baseada na paz e amor. Porém, a falta de informação pode fazer com que as pessoas entendam a crença de forma errada.

“Já acompanho há algum tempo os praticantes da wicca, seja participando de alguns eventos ou assistindo minha mulher fazendo sua preparação para seu ritual. Me considero um praticante por tabela, pois, de alguma forma, estou ligado aos praticantes. São pessoas de coração muito bom, sempre desejando o bem para todos, pessoas alegres e divertidas”, garante.

Sobre a cerimônia, Montezuma diz que se sentiu satisfeito e com uma energia diferente. Ele acredita que os deuses vieram abençoá-los. “Fazer parte de um casamento wiccano é muito bom. As boas energias vieram contemplar a cerimônia, fazia muito sol na cidade e no sábado [19], dia do casamento, ficou uma temperatura agradável, com alguns pingos de chuva e um vento suave. A sensação foi muito boa, já que três dias antes se iniciam os preparativos para o casamento, com um banho que parece deixar você leve para tudo que está por vir”, relata.

Uma das simbologias mais fortes do casamento Wicca é o Handsfasting, o atar das mãos, feito logo após a troca das alianças, um costume também pagão. O sarcedote que celebrou a cerimônia esclarece ainda que o ritual pode ter um prazo de validade, o que não foi o caso de Allana e Montezuma.

“Muita gente faz com validade de um ano e depois refazem seus votos. Quem se casam são os noivos, o celebrante é só um intermediário para a benção dos deuses. A troca de alianças é um costume pagão, começou na Roma Antiga e é seguida do amarrar das mãos, que simboliza a união dos dois. Nossos rituais são feitos preferencialmente em áreas naturais, porque nossa religião é pagã e ligada aos ciclos da terra. O contato com a natureza é importante porque tudo é energia”, enfatiza.

Um pouco mais do casamento wicca

Chamado de Handsfasting, o “atar das mãos” é uma das principais simbologias da cerimônia, que é feita por uma sacerdotisa ou sacerdote, que também promove outros ritos enquanto o casal está dentro de um círculo desenhado no chão. Os noivos pulam a vassoura para marcar o início de uma vida espiritual em perfeita união, já que o objeto simboliza o masculino e o feminino.

No altar, podem ser expostos velas brancas, prato com sal e terra, sino de latão, uma vara, um punhal ou espada, um cálice com água, óleo de rosas, cristais, cordas, a vassoura e vinho.







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