A outra encíclica: Declaração Islâmica sobre a mudança climática – Por Gustavo Duch
Ocorrido durante quase todo o mês
de agosto, em Istambul, num simpósio, um grupo de acadêmicas e acadêmicos
elaboraram, em sintonia com a Laudato Si’, a Declaração islâmica sobre
a mudança climática.
Que esta iniciativa favoreça avanços no diálogo inter-religioso,
a construção de laços fraternos mais estreitos e de compromissos pela
causa planetária comum. O texto a seguir, destaca trechos
dessa Declaração:
A outra encíclica se inicia com
um preâmbulo que de forma resumida, que diz: ‘nosso planeta existe há bilhões
de anos e as mudanças climáticas em si não são algo novo. O clima da Terra
passou por períodos mais úmidos, mais secos, mais frios, mais quentes, em
função de muitos fatores naturais. A maioria dessas mudanças foram graduais, de
forma que as espécies e as comunidades de seres vivos puderam evoluir com eles
(…) As mudanças climáticas do passado provocaram as imensas reservas de
combustíveis fósseis que hoje, ironicamente, com um uso imprudente e míope dos
mesmos, está resultando na destruição das condições que tornam possível a nossa
vida na Terra”.
“Por outra parte, a mudança climática
atual é induzida pelo homem, convertido em força dominante da natureza (…) O
que dirão de nós as futuras gerações, através do legado que nós vamos deixar a
elas, de um planeta devastado?”.
“No breve período transcorrido
desde a Revolução Industrial até agora, os humanos consumiram grande parte dos
recursos não renováveis que tardaram 250 milhões de anos em serem gerados, tudo
em nome do desenvolvimento econômico e do progresso humano. Observamos os
efeitos do aumento do consumo per capita (…), observamos a luta internacional
para encontrar mais depósitos de combustíveis fósseis sob as capas de gelo das
regiões árticas. Estamos acelerando nossa própria destruição”.
A outra encíclica continua
afirmando: “Nós não somos os criadores dos céus e da Terra (…) A catástrofe das
mudanças do clima é o resultado da alteração humana no equilíbrio do planeta,
devido à nossa incessante busca do crescimento econômico (…) Reconhecemos que
não somos mais que uma minúscula parte da ordem divina, mas, dentro dessa
ordem, somos seres excepcionalmente potentes (…) e nossa responsabilidade é
tratar todas as coisas com cuidado e reverência (…) A criação dos céus e da
Terra é um feito muito maior que a criação da humanidade, mas a maioria da
humanidade não sabe disso”.
E esta outra encíclica, elaborada
pouco antes de uma crucial Conferência de Paris, a Convenção das Nações Unidas
sobre a Mudança do Clima, que acontecerá em Novembro e Dezembro deste ano, e
que deve determinar um novo acordo internacional para manter o aquecimento
global num nível abaixo dos 2ºC, depois de um apelo em favor do compromisso de
todos os movimentos sociais e comunitários do planeta, ao setor empresarial, às
nações e seus líderes, pedindo também que as contribuições de todos os líderes
religiosos, inclusive citando um trecho do livro sagrado de uma delas, para
reforçar essa união de crenças em favor de uma necessidade em comum:
“E não ande pela Terra com
arrogância. Na verdade, você não pode atravessar a Terra nem alcançar a altura
das montanhas” (Al Corão 17: 37).
Não me refiro à conhecida e
celebrada a encíclica “Laudato si”, do Papa Francisco, mas sobre o recente
simpósio, ocorrido durante quase todo o mês de Agosto, em Istambul, onde um grupo de acadêmicas e acadêmicos elaboraram o texto cujos trechos estão acima
reproduzidos: a Declaração islâmica sobre a mudança climática.
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