Falta de conhecimento é impulso para intolerância religiosa – Por Airton Marques e Josiane Dalmagro
Intolerância marca a atual
sociedade com discriminação e agressões a religiosos. O recado de todos os
representantes religiosos é uníssono, amor.
“Senhor, piedade”. A prece
presente no trecho da música: “Blues da Piedade”, do cantor e compositor Cazuza,
expressa, de forma literal, o pedido de milhares de cidadãos brasileiros que,
mesmo vivendo em um país dito laico em sua Constituição Federal, temem
expressar suas tradições e cultuar a sua religiosidade.
É cada vez mais comum nos
depararmos com manchetes de jornais relatando agressões justificadas pela
religião. Ataques a terreiros, centros espíritas, destruição de imagens santas,
xingamentos e até mesmo agressões físicas colocam em xeque a laicidade do País
que, através da Constituição Federal de 1988, garante a liberdade de expressão
religiosa a todo cidadão. Além disso, a liberdade ao culto também é garantida a
religiosos.
Crimes ligados à intolerância
religiosa existem desde os primórdios. Ao analisarmos a história mundial,
tomamos conhecimento de diversos momentos em que a religião foi usada como
motivo para a discórdia.
No Brasil, essa questão foi pontual desde a chegada
dos primeiros colonizadores, brancos e católicos que, ao se depararem com os
nativos, usaram a força para impor sua religião. Tempos depois, a intolerância
religiosa e cultural ganhou força com a chegada dos escravos africanos.
Atualmente, a mesma ignorância em
aceitar o diferente tem gerado crimes. Em Rondonópolis (218 Km de Cuiabá),
vândalos atearam fogo em um Centro Espírita (Associação A Caminho da Luz), em meados
do mês de Julho deste ano.
A Associação, que faz trabalhos
de evangelização para adultos e crianças nos bairros próximos à sede, além de
distribuição de sopa e tratamentos espirituais, foi vandalizada e teve portas
arrombadas, salas queimadas e destruição de patrimônios. Segundo a presidente
do Centro, Elcha Britto, este foi o quarto ataque ao local.
“Nós estamos com
medo de novas retaliações e destruições da Associação. Nas duas primeiras vezes
que o lugar foi arrombado não denunciamos, mas a partir daí fomos à polícia e
agora tememos novas investidas”, disse Britto ao Circuito Mato Grosso.
Em Julho deste ano um caso ganhou
repercussão nacional. Dessa vez o cenário foi o Rio de Janeiro e como
personagem uma menina de apenas 11 anos, apedrejada ao sair de um terreiro de
Candomblé, por conta de fanatismo religioso. O caso chocou o País, não apenas
pela intolerância religiosa, mas pela violência física contra uma criança.
Praticantes de outras religiões
também têm relatado sofrimento e preconceito, como é o caso de mulheres
islâmicas que sofrem repúdio porque usam véu. Homens judeus têm os chapéus,
chamado quipás, retirados à força em revistas policiais, e católicos são
agredidos fisicamente e têm símbolos de sua religião, como santos e terços,
destruídos pela intolerância.
Em Mato Grosso o delegado Luciano
Inácio, da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) foi designado, há
pouco mais de um mês, para cuidar especialmente de casos relacionados à
intolerância religiosa.
Luciano explica que ainda não há
dados específicos com essa tipificação, mas relata que já tem alguns casos em
análise. “Temos um, por exemplo, de um Centro Espírita que relata
arrombamentos, depredação e até apedrejamento, no Bairro Santa Laura, aqui em
Cuiabá”.
Para Luciano Inácio a grande
maioria dos casos relacionados à intolerância é voltada a religiões de matrizes
africanas. “Elas são muito incompreendidas, seus rituais são mal vistos e já
foram perseguidos até pelo Estado, em outros tempos. Há uma associação negativa
atrelada ao mal, a sacrifícios e coisas similares. Essa campanha negativa é
fruto do desconhecimento” aponta o delegado.
Igreja Católica
Assim como em todo o mundo, onde
18% da população se declara católica, Mato Grosso apresenta grande número de
fiéis. A força do catolicismo no Estado é vista pelas tradicionais festas de
santo, que anualmente mobilizam milhares de pessoas.
A Festa de São Benedito,
realizada em Cuiabá, é um dos grandes exemplos da influência da religião na
sociedade cuiabana, movida pela fé e tradição. Como maioria, ao falarmos sobre
preconceitos e perseguições por conta de credos, os católicos são os menos
visados pela ignorância de outros.
O Frei Eliseu Menegat,
coordenador da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, na capital, afirma ao Circuito
Mato Grosso que, para a Igreja Católica, a intolerância religiosa não é um
problema, pelo menos no Estado.
“A gente não tem isso como problema. Não quero
ofender nenhuma outra religião, mas penso que a religião, seja ela qual for, se
for séria, se mostra seriedade no seu trabalho, não enfrenta esse tipo
problema. Penso que onde existe fanatismo, descontrole da condução da própria
religião, automaticamente [o preconceito] é uma resposta. Onde existe
equilíbrio e seriedade não tem esse tipo de ação”, afirma.
O Frei declara que a Igreja
Católica respeita outras religiões e afirma que “muitos caminhos levam a Deus”.
Diferente de alguns líderes religiosos, Frei Eliseu não acredita que haja
intolerância religiosa na nossa sociedade, pelo menos lhe faltam argumentos que
o levem a afirmar isso.
“Não sei se na nossa sociedade existe isso
[intolerância religiosa]. Eu acredito que não, mas é preciso mais fundamentos
para falar sobre isso. Só com o que a gente convive não é suficiente para a
gente tentar responder esta pergunta”, afirma o Frei, após ser questionado se
existe intolerância religiosa em nossa sociedade.
A Igreja Católica tem se mostrado
renovadora, especialmente no que tange ao líder maior da religião, Papa
Francisco, que tem disseminado discursos de muita tolerância com as diferenças
e, em especial, de amor ao próximo e compreensão. Papa Francisco já tocou
em assuntos considerados tabus pela igreja, como a homossexualidade, aborto e
separação, sem o discurso conservador que seus antecessores costumavam ter.
Islamismo
Em Cuiabá, o grupo de muçulmanos
que segue o Islamismo luta para mudar a visão do resto da sociedade, que os
ligam aos radicais islâmicos, que em todo mundo são apontados como autores de
ataques terroristas.
Pela gritante diferença cultural
existente entre brasileiros e muçulmanos, os adeptos a esta religião são vistos
com olhos curiosos por onde passam, principalmente quando estão com seus trajes
típicos.
O coordenador da Mesquita de
Cuiabá, que abriga a Sociedade Beneficente Muçulmana da capital, Sikiru Olaitan
Balogun, afirma que já foi chamado de homem-bomba nas ruas de Cuiabá.
Além
disso, já teve que trocar um de seus filhos de escola, pois alunos e até mesmo
educadores o tratavam com discriminação. O nigeriano de 41 anos também relata
que as mulheres muçulmanas são as que enfrentam maior discriminação, devido ao
Hijab, traje típico do Islã, que cobre os cabelos e o rosto das mulheres.
Muitas não conseguem emprego.
“Aqui em Cuiabá não tem
intolerância, porém as mulheres que adotaram a religião têm dificuldades para
arrumar emprego, por conta do uso do Hijab, que cobre o rosto. Com Hijab é
praticamente impossível arrumar emprego, mesmo quando elas têm qualificações”,
afirma o muçulmano, ao Circuito Mato Grosso.
Balogun declara que a violência
sofrida pelos muçulmanos não é institucionalizada, mas, sim, individual. Na
maioria das vezes os agressores são pessoas que não conhecem a religião.
“É uma questão de ignorância.
Pois as pessoas que ficam de longe olhando e julgando, depois que conversam com
os membros, mudam a atitude. Começam a pensar: ‘Eles são serres humanos
também’. Na Mesquita sempre recebemos visitantes, como estudantes de escolas
públicas, privadas e universidades. Quando explicamos o nosso credo, no que
acreditamos, as pessoas entram com uma visão e saem com um entendimento
completamente diferente. A ignorância só cria preconceito”, declara o
islamita.
O Islamismo é uma religião
abraâmica monoteísta, fundamentada nos ensinamentos de Mohammed, ou Muhammad,
chamado pelos ocidentais de Maomé, considerado pelos fiéis como o último
profeta de Deus, que codificou sua doutrina em um livro sagrado, o Alcorão, o
escrito da fé muçulmana.
Dentre os vários princípios do Islamismo, cinco são
regras fundamentais para os mulçumanos: crer em Alá, o único Deus, e em Maomé,
seu profeta; realizar cinco orações diárias comunitárias (salat); ser generoso
para com os pobres e fazer caridade; obedecer ao jejum religioso durante o
ramadã (mês anual de jejum) e ir à peregrinação a Meca pelo menos uma vez
durante a vida (hajj), se tiver condições.
Igreja Presbiteriana
Oriunda da Reforma Protestante, e
com grande representatividade em Mato Grosso, a Igreja Presbiteriana também foi
alvo do preconceito, após sua instalação na região. De acordo com o Pastor João
Geraldo de Mattos Neto, de Várzea Grande, há ainda uma violência velada,
motivada pela incapacidade de muitos em aceitar o outro, que difere das suas
tradições.
“A intolerância é a dificuldade
na aceitação do outro. Isso se manifesta na dificuldade de ouvir aquilo que o
outro tem para dizer. O diálogo entre as igrejas, denominações e as pessoas em
geral é sempre delimitado. O erro está quando eu quero forçar o outro por todos
os meios, legítimos e ilegítimos, a acreditar naquilo que eu penso. Daí começa
a agressão. Temos que lutar pelo direito de todo mundo manifestar aquilo que
pensa”, declarou o pastor ao Circuito Mato Grosso.
João Geraldo, que também é
psicólogo e professor na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), afirma que
as instituições de ensino são os locais onde as discussões sobre credos e
culturas diferentes devem ocorrer. Na formação social da população está a solução
para o fim da existência da intolerância quanto às religiões.
“A universidade é um bom exemplo
de um espaço que deveria ser pra construir este lugar onde pessoas, que tem
raízes de pensamentos diferentes possam esboçar seus pensamentos, mas por incrível
que pareça, existem artigos que dizem que a própria Universidade tem
dificuldade de ouvir o outro. Como é que a gente vai permitir que o
contraditório conviva no mesmo lugar? Que tipo de educação é possível com o
contraditório sendo que está formando o cidadão, essa tensão se estabelece aí”,
completa o pastor.
Igreja Universal do Reino de Deus
Com denominação cristã, a Igreja
Universal do Reino de Deus é uma religião evangélica neopentecostal,
fundada em 1977 por Edir Macedo. De acordo com estimativas do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a Universal possui mais de seis
mil templos, 12 mil pastores e 1,8 milhão de fiéis só no Brasil. É uma das
maiores organizações religiosas do Brasil e a 29ª maior igreja em números de
seguidores do mundo.
A reportagem do Circuito
Mato Grosso tentou contato durante vários dias, pessoalmente, por e-mail e
telefone com lideranças da Igreja Universal do Reino de Deus para falar sobre o
tema da reportagem, mas nenhuma das tentativas foi bem sucedida.
Umbanda
Religião de origem brasileira, a
Umbanda foi formada através de elementos de outras religiões como o catolicismo
ou espiritismo, juntando ainda elementos da cultura africana e indígena. Pela
descendência afro, os umbandistas estão entre as principais vítimas das
agressões físicas e morais.
De acordo com o presidente da
Federação Nacional de Umbanda e dos Cultos Afro Brasileiros, Aécio Montezuma, a
Umbanda é vítima de uma “satanização” de religiosos de outras crenças, ligando
a religião ao lado oposto ao de Deus.
“Falta do conhecimento. As
pessoas têm preconceito, pois lhes falta esclarecimento sobre a religião". No início
do século XX, “satanizaram” as religiões de matrizes afro. Nós sofremos este
tipo de preconceito, pois existe uma briga pelo poder. A Umbanda é
universalista, nos abraçamos todas as outras religiões, mas as outras religiões
não nos abraçam. Na minha visão, muitas religiões acreditam que compraram
Cristo só para elas. Não aceitam que outros falem em nome de Cristo. Nós somos
umbandistas, mas seguimos a doutrina cristã”, esclareceu Montezuma.
Marginalizados, os terreiros onde
são realizados os cultos estão localizados, normalmente, em bairros periféricos
e, por muitas vezes, os frequentadores dos locais preferem manter anonimato,
não declarando serem adeptos da religião. Em Mato Grosso, são cerca de quatro
mil terreiros de umbanda.
“Muitos têm medo de falar que são umbandistas. Estão
na cultura do medo. A perseguição causou medo. Quando iniciei na umbanda, em
1971, nós éramos perseguidos. A polícia adentrava nos terreiros e parava os
trabalhos, muitos membros eram presos”, relatou o umbandista.
Mórmons - Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias
A Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias é o nome oficial da religião mais conhecida como Igreja
Mórmon. O nome provém de um sagrado livro de escrituras compilado pelo antigo
profeta Mórmon, intitulado: O Livro de Mórmon, constituído de revelações
modernas que teriam sido enviadas por Deus por intermédio de Joseph Smith Jr. e
outros profetas mórmons.
O conselheiro do presidente de
Estaca, nome dado ao grupo de 5 capelas, da Missão Cuiabá dos Mórmons,
Clarismundo Silva, conversou com a reportagem do Circuito Mato Grosso e
reiterou o que outros representantes religiosas já haviam dito, considerando a
possibilidade de intolerância como resultado de falta de conhecimento.
“Acredito que sofremos pouca
intolerância. Quem não conhece a nossa igreja e no que acreditamos, imagina que
temos rituais ocultos. Eles têm preconceitos por falta de informação, mas
depois que conhecem as pessoas, mudam de opinião”, explica o conselheiro. “A bondade precisa estar acima da
placa que você congrega, essa é uma regra de fé”, diz o líder.
Os mórmons têm 13 regras de fé,
que são o mesmo que mandamentos para outras religiões, entre os quais está:
“Cremos em Deus, o Pai Eterno, e em Seu Filho, Jesus Cristo, e no Espírito
Santo”, o que mostra sua crença é cristã e, “Pretendemos o privilégio de adorar
a Deus Todo-Poderoso de acordo com os ditames de nossa própria consciência, e
concedemos a todos os homens o mesmo privilégio, deixando-os adorar como, onde
ou o que desejarem”, explicitando o respeito e direito às diferenças de credos.
De trajes característicos, os
missionários mórmons (jovens entre 18 e 26 anos) são facilmente identificados
nas ruas usando suas camisas brancas, calça social, gravata e a placa de
identificação com nome próprio, nome da igreja e a palavra Elder, do inglês
ancião.
“Eles aguçam a curiosidade das
pessoas pela forma como se vestem, mas essa é a melhor forma de se vestir,
alinhados”, pontua Clarismundo.
Candomblé
Religião de matriz africana, o
Candomblé tem, por base, a anima (alma) da Natureza, sendo, portanto, chamada
de anímica, onde se cultuam os orixás, que são ancestrais divinizados africanos
que correspondem a pontos de força da Natureza, regidas por Oxalá (Deus).
As características de cada Orixá
os aproximam dos seres humanos, manifestam-se através de emoções. Cada orixá
tem ainda o seu sistema simbólico particular, composto de cores, comidas,
cantigas, rezas, ambientes, oferendas, espaços físicos e até horários. O
candomblé é uma das religiões que mais tem sofrido, no nosso país, com a
intolerância, com histórico de ataques não apenas morais, mas físicos, a
pessoas ligadas à religião.
O responsável por uma casa de Candomblé,
ou terreiro, é um babalorixá, também conhecido como pai de santo. Na sua função
sacerdotal, o babalorixá faz consultas aos orixás através do jogo de
búzios. O babalorixá cuiabano Rôney
Castrilon, afirma que a intolerância nunca deixou de existir, quando o assunto
é Candomblé, mas que ele mesmo, não costuma sofrer e é aceito pela sociedade.
“A cultura ainda não está bem desenvolvida para que todos assumam que
frequentam o candomblé. Aqui o pessoal vê o candomblé como religião do demônio,
acham que é uma seita do mal. Estamos tentando mostrar para a sociedade que é
uma religião como outra qualquer, pois o caminho que leva a Deus é único”,
desabafa Rôney, explicado que o objetivo maior do candomblé é a caridade.
Espiritismo
A doutrina espírita foi
codificada pelo pedagogo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, o Allan
Kardec, e baseia-se em suas cinco obras básicas chamadas de Pentateuco
Kardecista Cristão, que são: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns,
O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. A doutrina é
fundada sobre a existência, as manifestações e o ensino dos espíritos que aliam
ciência, filosofia e religião voltada para o aperfeiçoamento moral do homem.
Um dos fundamentos do espiritismo
é a caridade, que seria o amor em ação, ou seja, o ato de fazer algo pelo
outro, que não significa necessariamente que tenha que ser doação de dinheiro,
mas sim de tempo, disposição e vontade de fazer qualquer coisa em prol do
próximo. Para o presidente da casa
espírita Rafael Verlangieri, Jones Martinho, a intolerância religiosa já foi
maior e está diretamente relacionada com a educação.
“Com os filmes e as novelas
abordando o assunto, a intolerância diminuiu. Entretanto, há um dado socioeconômico
apontando que as famílias de baixa renda e escolaridade têm maior dificuldade
em entender. Nesse segmento cresce a intolerância. Nas famílias com melhor escolaridade
e renda a intolerância é inexistente. Temos relato de instituições espíritas
que se localizam em bairros de classe com índices de pobreza e IDH muito baixo,
onde a intolerância ainda é muito grande”, pontua Jones.
Segundo o líder espírita Amauri
Lobo, atualmente os atos de vandalismo ligados à intolerância que tem
acontecido são relacionados mais à Umbanda. “O espiritismo Kardecista Cristão
não vê nenhum mal na Umbanda, inclusive é considerada uma religião bastante
séria, que trabalha a questão da vida eterna profundamente. Eles trabalham a
reforma íntima” disse, demonstrando respeito.
Ele afirma que o espiritismo
sofre, sim, com a intolerância. “É bom lembrar que no começo, lá no século XIX,
o espiritismo foi proibido e na época áurea de Chico Xavier, o espiritismo foi
duramente combatido pela igreja católica, mas na vida moderna brasileira o
espiritismo goza de certo respeito geral. Há sim, ainda, resquícios de
perseguição com o espiritismo, mas ele, o preconceito, agora é representado
mais pelas religiões evangélicas que têm essa linha ligada à bancada evangélica
do Congresso, o pessoal da chamada linha pentecostal, os evangélicos mais
radicais. Quem tem um pouco de cultura já sabe que se trata de uma religião
intimamente vinculada com nossas visões gerais de futuro, com os nossos temas
centrais que são: caridade, trabalho voluntário e cultura do amor e da paz. Uma
nova visão do evangelho, através do prisma moral”.
Budismo
Apesar de Cuiabá não possuir um
templo clássico budista, tanto a filosofia, quanto as crenças são práticas por
seguidores cuiabanos. É o caso do budismo de Nitiren Daishonin, que se fundamenta
na afirmação de que todas as pessoas têm o potencial de atingir a iluminação,
do qual a estudante de arquitetura Náthally Zordan faz parte.
Zordan afirma ter sofrido
retaliações por conta de sua religião, mas pontua que muitas pessoas não
entendem do que se trata. “Nunca aconteceu comigo de sofrer algum preconceito
por ser budista, mas já ouvi uns casos de acharem que estamos "abandonando
Deus" e esse tipo de coisa”.
Ela faz parte da Soka Gakkai, que
é a designação de um movimento budista composto por aproximadamente treze
milhões de pessoas no mundo inteiro, que tem como base o pensamento do monge
japonês Nitiren (1222-1282).
O budismo de Nitiren Daishonin tem, como prática
principal, o Daimoku, que consiste na recitação do mantra
"Nam-Myoho-Rengue-Kyo" e, como livro fundamental, o Sutra do Lótus.
Já Ligia Prieto faz parte da
Associação Meditar, que parte dos conhecimentos budistas para sua filosofia a
atividades, como, entre outros aspectos, promover a atitude mediativa,
altruísta e pacífica, que implique paz interna e externa, não-violência,
respeito pela natureza, alimentação natural, bons valores humanos, conhecimento
e na sabedoria.
“De uma maneira geral os budistas
são mais tolerantes e consideram todo mundo igual. Eles não agridem ninguém,
não vão contra os outros, são meio que na deles, então as pessoas não se
incomodam”, diz Ligia. Budismo é uma filosofia ou
religião não teísta, que abrange diversas tradições, crenças e práticas
geralmente baseadas nos ensinamentos de Buda.
Ateus
Não acredito em nada! A afirmação
que sai da boca de algumas pessoas quando questionadas sobre sua crença, fé ou
religião também pode acabar em formas de intolerância, veladas ou não. A
jornalista Luana Soutos afirma que já passou por indagações do tipo: “Ah, você
acredita em algo sim, só que não é a mesma coisa das religiões, pode ser o
amor, o universo, energia...”
Ela conta que quando alguém
pergunta sobre o que ela acredita e a declaração é ‘nada’, sempre há um momento
de incredulidade por parte de quem houve.
“Acho que ninguém nunca recebeu
essa informação sobre mim com muita naturalidade. Todo mundo se espanta, a
princípio, como se ter religião, acreditar em Deus, fosse algo inerente à
condição humana. Passado o momento do "susto", aí cada um manifesta
sua opinião, que vai do tipo: ‘nossa, você vai pro inferno’, até a procura por
um algo em que eu acredite, como se a possibilidade de não acreditar em nada
não existisse. As pessoas tentam se convencer de que eu acredito em algo,
mesmo que eu diga que não” explica.
Para ela a intolerância contra
ateus existe e é mais forte ainda entre os evangélicos. “O que eu ouvi de mais
ofensivo foi um apresentador de uma rádio evangélica, aqui de Cuiabá que falou,
na rádio para centenas de pessoas ouvirem que ‘quem não tem deus no coração é
ruim e perverso’. Isso foi horrível. Total falta de respeito da parte dele. E desconhecimento”.
Ela pontua ainda que alguns evangélicos
reclamam tolerância, mas impõem o que acreditam a todos. “Eles influenciam,
inclusive, a política. O poder econômico das igrejas aumentou, ajudando nisso.
Discriminam a não religião e outras religiões também. Eles não suportam o
pessoal que é espírita ou da umbanda, por exemplo, mas dizem que eles que
sofrem”, desabafa”, afirmando que os evangélicos são os mais intolerantes, mas
que algumas vertentes da igreja católica também o são, deixando claro que o
discurso não é generalizado.
Ateísmo, num sentido amplo, é a
ausência de crença na existência de divindades.
Santo Daime
O daimista Rafael Pereira
frequenta o Santo Daime há alguns anos e afirma que a maior intolerância que já
sofreu foi dentro de casa. “Minha mãe era radicalmente contra no início. Tivemos
brigas e situações terríveis por conta da doutrina” revela.
Rafael diz não saber, analisando
pelo ângulo da sociedade, se intolerância seria o termo correto. “Mas existe
muito preconceito sim, por puro desconhecimento mesmo, como o termo sugere”.
Muitas pessoas, na verdade, nunca
ouviram falar em Santo Daime, então ele explica que no local não tem pregação.
“O Mestre Irineu, fundador, estabeleceu um Centro Livre. A crença é no Mestre
Jesus, sem exclusão de outras entidades espirituais e na reencarnação, como no
espiritismo”.
O Santo Daime é uma manifestação
religiosa, de doutrina espiritualista que tem como base o uso sacramental da
ayahuasca, que é um chá feito com um cipó e folhas, para prática espiritual
essencialmente individual, com intenção de autoconhecimento e aprimorando-se
como ser humano. Segundo seus adeptos, a doutrina do Santo Daime é uma missão
espiritual, que encaminha os seus praticantes ao perdão e à regeneração do seu
ser.
União do Vegetal – UDV
Teodoro Irigaray frequenta a UDV
e afirma que o preconceito existe com quem não conhece. “Muitos falam sobre o
uso do chá, mas a maioria não sabe sobre os benefícios e sobre o nosso
trabalho. A liberdade religiosa deve prevalecer”.
O Centro Espírita Beneficente
União do Vegetal é uma sociedade religiosa fundada a 22 de julho de 1961 por
José Gabriel da Costa, o Mestre Gabriel, com o objetivo de promover a paz e
“trabalhar pela evolução do ser humano no sentido do seu desenvolvimento
espiritual”, conforme consta em seu regimento interno.
A instituição conta hoje
com mais de 18 mil sócios, distribuídos em mais de 200 unidades, em todos os
estados do Brasil, em Peru e em alguns países da Europa, América do Norte e
Oceania.
Em suas sessões, os associados
bebem o chá ayahuasca, para efeito de concentração mental. No Brasil, o uso do
chá em rituais religiosos foi regulamentado em 25 de Janeiro de 2010 pelo
CONAD, o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas, do Governo Federal
Brasileiro. Essa regulamentação estabelece normas legais para as instituições
religiosas que fazem uso responsável do chá.
Nos Estados Unidos, a
Suprema Corte daquele país concedeu à União do Vegetal, por unanimidade, o
direito ao uso do chá durante suas sessões religiosas em todo território estadunidense, desde
2006. Os ensinamentos da União do
Vegetal baseiam-se no princípio da reencarnação evolucionista
De acordo com a doutrina da UDV,
Jesus Cristo é o Filho de Deus. Os ensinamentos são orientados pelo princípio
cristão segundo o qual "o discípulo deve amar ao próximo como a si mesmo
para ser merecedor do símbolo da União: Luz, Paz e Amor".
Fonte: http://circuitomt.com.br
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