'Se profeta Maomé estivesse vivo, ele seria feminista', diz líder muçulmano – Por Fania Rodrigues
Para diretor do Centro Cultural
Imam Hussein, no Rio de Janeiro, não há fundamentos na religião muçulmana que
justifiquem discriminação das mulheres e violência jihadista.
Desde os atentados às Torres Gêmeas,
nos Estados Unidos, a religião muçulmana, também chamada de Islã, é alvo
de preconceito e discriminação. É comum as pessoas associarem seus praticantes
ao terrorismo.
No entanto, o líder mulçumano
Carlos Meneses, diretor do Centro Cultural Imam Hussein, no Rio de Janeiro,
esclarece que essas pessoas que usam o Islã para justificar ações violentas não
conhecem os verdadeiros ensinamentos do profeta Maomé.
“Pessoas matam e degolam em nome
de Deus, mas não tem nada de religioso nisso. Isso é anti-islâmico”, destaca
Carlos Meneses. Sobre os grupos terroristas que atuam na Síria e no Iraque, o
religioso afirma que não há fundamentos religiosos que justifiquem a violência
praticada por eles.
“O nome é Estado Islâmico, mas de
islâmico não tem nada. Lá no alcorão está escrito que a guerra não é coisa de
Deus. Vejo o Estado Islâmico muito mais como um movimento político organizado.
Existe um interesse econômico muito grande naquela região”, afirma Carlos
Meneses.
Busca religiosa
Engenheiro de formação, Carlos é
brasileiro, estudou a vida inteira em escolas católicas e converteu-se ao
islamismo xiita ainda bem jovem. A religião sempre esteve presente em sua vida
de alguma maneira. E a escolha pelo Islã não foi por acaso.
“Sempre senti a necessidade de
acreditar em algo. Toda essa criação à nossa volta tem um sentido. Não é
possível que a gente esteja aqui só para viver e morrer. O Islã me chamou a
atenção porque ele não nos afasta da ciência”, explica o religioso. Em várias
partes do alcorão há referências ao conhecimento científico.
Para esclarecer essas e outras
questões sobre o Islã, Carlos e outros praticantes fundaram o Centro Cultural.
Lá são realizadas palestras e rodas de conversas sobre a religião e a sua
história.
A mulher e o islã
Outro ponto que Carlos faz
questão de esclarecer é sobre o papel da mulher no Islã. Em muitos países, como
Arábia Saudita, algumas regiões do Iraque e Afeganistão, elas são proibidas de
estudar, trabalhar, dirigir e sair na rua sozinha, entre outras coisas.
Porém, o muçulmano garante que
essa é uma prática equivocada da religião. “O próprio profeta, quando se casou
pela primeira vez, casou com uma mulher que trabalhava. Sua esposa era
comerciante, ele trabalhava pra ela e assim continuou. Se o profeta Maomé é o exemplo
que o Alcorão nos mostra, essa atitude contradiz os fatos históricos”,
ressalta.
Para ele, a Arábia Saudita é o
exemplo máximo de intolerância contra a mulher. Lá mulher não pode estudar.
“Outra contradição histórica. O profeta falava para a sua filha: aprenda para
que você possa ensinar outras mulheres. No Irã, 70% das vagas universitárias
são ocupadas por mulheres. E é um país muçulmano”, diz Carlos Meneses.
Para o religioso, a discriminação
da mulher em países de maioria muçulmana é mais uma questão cultural que
religiosa. “Se o profeta Maomé estivesse vivo ele seria feminista. Porque ele
vem de uma época em que a mulher era contada junto com o gado. Se a primeira
filha fosse mulher, ela era enterrada vida. O profeta Maomé proíbe essas
práticas”, garante Carlos.
Nos países onde as mulheres são
discriminadas e submissas aos homens, prevalece a questão cultural sobre a
religiosa, como afirma o líder xiita. “Tentam usar a religião para justificar
algumas coisas. Há um grande movimento de governos de cada vez mais tentar
apagar o papel da mulher na História”, alerta.
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