Liberdade religiosa nos EUA – Por Robert Sherman*
A liberdade religiosa é um fator
integral da vida norte-americana, e assim tem sido desde a fundação do nosso
país.
De facto, muitas das primeiras colónias na América eram constituídas por
indivíduos e famílias vítimas de perseguição religiosa. Não é de estranhar que
este direito fundamental seja a "primeira liberdade" consagrada na
Carta de Direitos da nossa Constituição.
Um componente essencial da
liberdade religiosa é o direito que as pessoas de todas as fés têm de
participar plenamente na sociedade, sem serem discriminadas com base na sua
religião. O pluralismo religioso é um valor e uma tradição norte-americana, que
engloba não apenas a tolerância da diversidade religiosa, mas abraça-a como
parte do nosso património nacional e uma oportunidade para criar pontes entre
diferentes crenças.
Todos os dias, em diferentes
estados da nossa união, diferentes grupos de cristãos, judeus, muçulmanos,
hindus, budistas, sikhs e outros unem esforços enquanto americanos para
combater a pobreza e a discriminação, bem como acolher e prestar serviços à
refugiados que fogem de perseguições. O trabalho destas pessoas personifica o
lema nacional consagrado na chancela dos Estados Unidos: e pluribus unum, a partir
de muitos, um.
Como embaixador dos EUA em
Portugal tenho a oportunidade de contar a história americana, incluindo muitas
vezes esclarecer eventos recentes. Por exemplo, no seguimento de ataques
terroristas de grupos como o Estado Islâmico (EI) ou a Al-Qaeda, muitas vezes
apercebo-me de preocupações no que diz respeito aos direitos dos muçulmanos nos
EUA.
Permitam-me que seja claro: atos de violência ou discriminação contra
muçulmanos são contrários aos princípios norte-americanos e não serão tolerados.
Esta tem sido, e continuará a ser, a política do governo dos EUA.
Fico contente por também poder
destacar o que se passa em Portugal, visto que o país merece reconhecimento
pela sua tolerância, pluralismo e liberdade religiosa. Reconheço o valor do governo
português e dos seus líderes religiosos pela pronta condenação dos ataques ao
Charlie Hebdo em Janeiro e do massacre que teve lugar em Paris em novembro.
Os líderes nacionais têm tido uma atitude proativa no fomento de um quadro de
tolerância religiosa em Portugal. A lei aprovada no Parlamento que permite aos
descendentes de judeus sefarditas expulsos obter cidadania portuguesa é um
gesto importante.
A reabertura da sinagoga Sahar Hassamain em Ponta Delgada,
que foi testemunhada por um grupo de pessoas variado, incluindo muitos
norte-americanos, foi uma demonstração coletiva de apoio à tolerância religiosa
e cooperação interconfessional.
Líderes religiosos de todos os credos têm-me
manifestado o seu apreço pelo espírito de abertura que existe em Portugal, a
sua pluralidade religiosa e liberdade de culto. De muitas maneiras, este país é
um modelo para outros.
No seguimento do ataque
terrorista em San Bernardino, na Califórnia, o presidente Obama disse
claramente que o "EI não representa o islão. São criminosos e assassinos,
que constituem uma seita de morte... [e], da mesma forma que os muçulmanos em
todo o mundo têm a responsabilidade de acabar com as ideias erradas que levam à
radicalização, os americanos de todas as fés têm a responsabilidade de rejeitar
a discriminação. É da nossa responsabilidade rejeitar testes religiosos para
definir quem é admitido neste país. E é da nossa responsabilidade rejeitar
propostas para tratar os americanos muçulmanos de forma diferente".
Mas, sejamos claros, por mais importante
que a liberdade religiosa tenha sido para o sucesso dos EUA enquanto nação,
estes direitos não pertencem apenas aos norte-americanos.
As liberdades de
escolha de fé, mudar de fé, dissidir de uma religião, falar publicamente sobre
as suas crenças, reunir em adoração, e ensinar a sua crença aos seus filhos,
estão consagradas na Declaração Universal de Direitos Humanos e no Pacto
Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos.
De facto, é por darmos tanto
valor à liberdade religiosa a nível nacional que o Congresso norte-americano
determinou que a promoção da liberdade religiosa seja uma prioridade da
política externa norte-americana.
É verdade que o fanatismo
religioso existe nos EUA, tal como em todos os cantos do mundo. E,
compreensivelmente, declarações de ódio recebem muita atenção. Mas esta é
apenas uma pequena parte da história.
Uma visão mais correta dos EUA
pode ser encontrada em histórias do dia-a-dia que muitas vezes não chegam aos
jornais internacionais, em parte porque estas comuns interações de tolerância e
respeito não são mediáticas.
Isto inclui os vários representantes do governo,
líderes religiosos e membros da sociedade civil que denunciam a discriminação e
apoiam os seus concidadãos, tal como as centenas de igrejas cristãs que estão a
angariar fundos para acolher os refugiados, os mil rabinos norte-americanos que
assinaram uma carta a dar as boas-vindas aos refugiados sírios, a campanha de
crowdfunding de muçulmanos norte-americanos que angariou mais de $200 000 para
as vítimas de San Bernardino, e talvez a história mais reveladora seja a de um
menino de 7 anos que doou todo o dinheiro do seu mealheiro para uma mesquita
vandalizada no Texas. Esta é a verdadeira história dos EUA.
* Embaixador dos Estados Unidos
Fonte: http://www.dn.pt
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