Pernambucanos ajudam na Europa os imigrantes e relatam histórias dramáticas
A religião, muitas vezes
distorcida em nome de ações violentas, com mortes, perseguições, estupros e
tantas outras crueldades, aqui, pelas mãos de pernambucanos, retoma os sentidos
que sempre deveria ter: compreensão, ajuda e, sobretudo, amor, muito amor, pelo
próximo. Não importando se o religioso segue Cristo, Maomé, Buda.
O pastor da Igreja Episcopal
Carismática Ebenézer Medeiros Paz e o integrante da organização cristã Jovens
Com Uma Missão (JOCUM) João Victor decidiram ajudar diretamente os refugiados
indo até a Europa para atuar de perto no resgate e na recepção dos que fogem de
países marcados pela guerra, como a Síria, Afeganistão e Eritreia.
Só este ano, mais de um milhão de
imigrantes devem chegar ao Velho Continente, numa crise imigratória provocada
por governos ditatoriais, grupos terroristas e guerras civis. Problemas que não
deverão arrefecer em 2016 e já deixaram mais de 400 mil mortes nos últimos
quatro anos.
Deixando claro a personalidade
desafiadora com uma foto no perfil do Facebook tirada durante um pulo que
realizou de paraquedas, João Victor, 18 anos, voltou para casa na semana
passada após ter se lançado em outro salto, se não mais arriscado, de maior transformação
pessoal do que o retratado na rede social. Ele passou três semanas na Alemanha,
principal destino dos que buscam refúgio, ajudando na promoção de ações
socializantes para os refugiados.
Ao fim de 2015, os alemães devem
computar mais de 800 mil imigrantes recebidos só este ano. João, que trabalha
ensinando inglês em uma escola aqui no Recife, decidiu viajar após ver o drama
dos imigrantes pelo noticiário.
“Não tinha dinheiro para ir, mas pedi lá na
igreja contribuição e as pessoas foram atenciosas e consegui viajar”, conta,
frisando sempre o papel coletivo dos membros da igreja e do bispo Alexandre
Ximenes. Pela JOCUM, outros quatro pernambucanos estiveram com ele na Europa.
“O caso que mais me marcou foi o
de uma família síria que chegou literalmente a caminhar por oito países dentro
da Europa até chegar à Alemanha”, relata o jovem que é cristão protestante.
“Essa família é formada pelos pais e quatro filhos. A menor criança com menos
de um ano, passou por tudo isso sem chorar. Mostra, tão pequena, muita força só
no olhar”.
Sobre como os alemães se
posicionam sobre a chegada de mais imigrantes, João conta que existe um terreno
dividido, mas a tendência é de um acolhimento maior, pela condição econômica
mais favorável. O trabalho dele estava justamente em promover ações nessa
aproximação e inclusão dos que chegavam, além de evitar qualquer tipo de
confronto para quem, na maioria dos casos, fugiu da morte por motivos políticos
ou religiosos.
Essa intolerância religiosa não
tem uma identidade única. Os terroristas islâmicos colocam Maomé contra Jesus e
os ídolos de outras religiões, até contra islâmicos de outras correntes. Já em
outros países, como no Mianmar, os budistas perseguem a minoria muçulmana.
Ebenézer elenca a união entre todas essas religiões como o verdadeiro sentido
de cada uma delas.
“Tinha membros cristãos como da
Samaritan’s Purse, Igrejas Norueguesas, além da Junta Islâmica Americana
ajudando com seus voluntários”, explica o missionário pernambucano Ebenézer,
que atuou no resgate de quem perecia no mar, exatamente na fronteira da Grécia
com a Turquia, na cidade de Molyvos, na ilha de Lesbos. Ele, com 43 anos e
morando na Suécia há uma década, esteve na linha de frente durante uma semana
em outubro. Agora prepara missionários que desejam atuar na causa.
“Nossa estrutura era precária.
Nas praias haviam estações de emergência, com cobertores, alimento, água,
alguns tradutores, médicos e psicólogos. Estas últimas categorias nem sempre
davam conta da demanda”, explica Ebenézer.
Assim como Victor, os momentos que
mais impactaram o pastor envolviam as crianças, mas de forma trágica. Ele não
esquece de ter visto pequenos mortos nos barcos ilegais ou em situações
delicadas.
“No segundo resgate veio uma
garotinha com síndrome de Down, o barco explodiu perto da praia, consegui
retirá-la em segurança”, diz. Outro resgate que ele ressalta foi o de Nür, um
jovem de apenas 13 anos que veio sem os pais e decidiu que ajudaria uma
garotinha diabética, levando sua mochila e cuidando dela. Ele estava em choque,
mas ainda assim quis ajudar. As crianças eram empilhadas nos barcos,
literalmente uma em cima da outra para que coubessem mais pessoas.
“Barcos com capacidade para 15
pessoas estavam vindo com 70, os que conseguiam completar a travessia. O
resgate dos corpos era sempre a pior parte…”, lamenta.
Fonte: http://boainformacao.com.br
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