"A raiz dos abusos na Igreja está no seminário", diz terapeuta de padres
O psicoterapeuta e ex-padre
americano Richard Sipe foi conselheiro e professor de mais de 1
000 padres com histórico de envolvimento sexual.
Ele diz que os escândalos são
apenas o sintoma de uma estrutura eclesiástica que não lida com a sexualidade
humana. A entrevista foi publicada por
Revista Super Interessante, edição 288, de Fevereiro de 2011.
Eis a entrevista.
O que há na mente dos padres
abusadores?
Primeiro, têm uma adaptação
social imatura e evitam pessoas. São também voltados à própria satisfação e não
identificam o sofrimento de sua vítima. Por outro lado, conseguem passar uma
excelente imagem: se vestem de forma impecável, adoram cerimônias e tudo que os
coloca no centro das atenções. Mas não têm controle interno. Nem compaixão.
Como lidar com eles?
É preciso mudar o sistema que
produz esses padres. É um sistema psicopata que está tão corrompido agora como
no século 12. Ele omite os crimes e muda os abusadores de paróquia em paróquia.
Assim, mantém pessoas doentes e outras em perigo.
Qual a solução para padres
abusadores seriais?
Ela deve atacar 3 áreas:
criminal, moral, porque a Igreja ensina que todo sexo é pecado e
psiquiátrico. Se houver crime, a pessoa deve ser tratada como um criminoso.
Abusadores também não devem mais trabalhar como padres, pois aproveitam sua
condição de conselheiros para seduzir menores. E, se precisarem, devem receber
medicamentos e terapias. Mas o mais importante é que sejam monitorados. São
como os alcoólatras: se quiserem se controlar, há meios para isso. Mas estamos
falando mais de controle que de cura.
Como isso pode ser feito?
Acabo de visitar um grupo de 10
ex-padres, quase todos pedófilos, que moram juntos numa casa sob a
supervisão de outros padres. Não foram presos porque seu crime prescreveu, mas
vivem confinados. Ali eles tentam reconstruir sua vida espiritual, mas não
podem sair sem acompanhamento. O oposto é outro mosteiro que visitei, onde pedófilos podiam
pegar o carro e sair sozinhos. A falta de supervisão é desastrosa, pois quem
tem tal vício não consegue se controlar.
E qual a proporção de pedófilos no clero?
Coletei dados durante 25 anos
(1960-1985) e a conclusão foi que, em qualquer época, não mais de 50% dos
padres e bispos praticam o celibato. Uns têm relações sexuais com mulheres,
outros com homens. E cerca de 6% se envolvem com crianças. Mas isso aumenta
quando você estuda dioceses individuais. Na Arquidiocese de Los Angeles, 11,5%
dos padres que trabalhavam em suas paróquias em 1983 foram mais tarde acusados
de abuso sexual de menores.
Qual a raiz do problema?
Os padres não são bem preparados
nos seminários. Muitos podem ser disciplinados nos anos de formação, mas
começam a se envolver com adultos ou menores ao mudar para suas paróquias. A
questão é que muitas pessoas têm a vocação para ser padre, mas não para o celibato.
É aí que o conflito aparece.
A solução é o fim do celibato?
Fonte: http://www.ihu.unisinos.br
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