Conheça Combo, o street artist francês que prega a paz entre as religiões - Por Taíssa Stivanin
O artista francês Combo expõe até
o dia 6 de Março, no Instituto do Mundo Árabe, em Paris, uma série de telas que
pregam a coexistência pacífica entre árabes, muçulmanos e cristãos.
Combo chega esbaforido, com
duas horas de atraso para entrevista, se desculpando de antemão. “O dia hoje
está terrível”, diz, sem entrar em detalhes. Mas bastam cinco minutos de
conversa para entender a complexidade do dia-a-dia do street artist francês, de
28 anos.
Ao mesmo tempo em que ele vive uma fase de reconhecimento pelo seu
trabalho de duas décadas, com uma exposição inédita no Instituto do Mundo
Árabe em Paris, Combo é alvo constante de ameaças.
Na verdade, os quadros de Combo pregam
a coexistência pacífica entre religiões (cristã, muçulmana e judaica), como
demonstra o nome da exposição, “Coexist”. Na obra do artista, o C é
representado pela lua crescente, o símbolo do Islã, o X pela estrela de Davi,
do Judaísmo, e o T virou uma cruz, simbolizando o cristianismo.
Ousadia demais
em tempos de atentados, tensões comunitárias e radicalizações diversas. Os
ataques de 13 de novembro, aliás, marcaram como nunca seu trabalho. Ele prepara
uma série de quadros com o tema: “Paris está de pé”, depois da explosão no
Bataclan.
“Essa exposição me ajuda a
difundir minhas mensagens. Neste último ano, fui muito criticado pelas minhas
declarações. Sou perseguido por alguns membros da extrema-direita. Recebo
muitas ameaças, muitas mensagens de ódio. Quando eu faço pinturas para a
prefeitura na rua, sou escoltado pela polícia, porque sempre há tentativas de
agressão”, relata.
Agressão em Paris
Os atentados, diz, mudaram sua
vida. “Desde então, não parei de trabalhar, não tirei um dia de folga. O tema
exige muita pesquisa, porque tenho que achar pontos comuns entre as religiões.
É difícil, as pessoas não gostam de falar sobre sua própria religião, preferem
ressaltar as diferenças em relação a outra religião”.
No ano passado, em 30 de Janeiro, Combo pagou caro em nome da liberdade de expressão. Ele foi espancado
por quatro jovens no leste de Paris depois de se recusar a apagar a inscrição
Coexist, feita em um dos muros no bairro.
O slogan, na verdade, já era
utilizado pelo artista polonês Piotr Miodozeniec desde 2001 para abordar o
conflito entre Israel e Palestina e foi retomado pelo street artist francês.
"Nunca me senti nada além de francês"
Nascido em 1987 em Amiens, no
norte da França, Combo é filho de pai libanês cristão e mãe muçulmana
marroquina, os dois, segundo ele, "franceses antes de tudo". O tom às
vezes é visto como provocativo por alguns adeptos, mas o que Combo quer, na
verdade, é mostrar "que, a diferença sendo aceita, não impede que cada um
viva à sua maneira".
"Meu pai falava francês
fluentemente; ele aprendeu a escrever em árabe aos 40 anos. Como minha mãe. São
crianças da escola francesa, assim como eu. Nunca me senti nada além de
francês. Foi quando cresci, através do olhar dos outros, que percebi que era
diferente. Na minha casa, sempre fomos educados com o que chamamos hoje de
valores republicanos, laicos, termos que, na verdade, não têm nada de original.
Foi a mesma educação que muita gente teve, e é isso que tento lembrar no meu
trabalho”.
“Dji’Art”
Coexist não é o primeiro trabalho
em que Combo aborda a religião. O artista já havia colocado em prática, em
2014, seu “Dji’art”, em alusão ao Jihad islâmico, inspirado por uma
residência artística no Líbano em 2014. A produção da época pode ser conferida
na Exposição, que também traz obras de seu período ‘neoclassicista’, herança do
período em que passou na escola de Belas Artes em Nice, no sul da França.
“Eu me inspirei em quadros bem
emblemáticos da pintura francesa, como Delacroix, le Radeau de la Méduse, entre
outros. São quadros que estão no Louvre e que todos conhecemos. Tentei
atualizar a problemática e mostrar que antes, a guerra, o desemprego, o
racismo, também eram coisas contemporâneas, como hoje”, diz.
“Hoje nos referimos a muçulmanos,
antes nos referíamos a árabes. Antes não dizíamos árabes, dizíamos imigrantes.
Tudo isso é racismo. Essa é minha mensagem: hoje não está pior do que antes. O
que tento explicar é que somos todos franceses, e depois somos muçulmanos,
judeus ou ateus. E todos somos iguais".
Projetos no Brasil
Combo conhece e aprecia o
trabalho de street artistas brasileiros, como Cranio, o Brasil sendo,
segundo suas próprias palavras, um poço de inspiração. “Existe uma verdadeira
temática, que é falar, por exemplo, dos verdadeiros brasileiros, os indígenas,
e da fratura social que hoje existe no país. Eu adoraria conhecer São Paulo, acho
que tem muita coisa para fazer por lá. O Brasil tem excelentes artistas”.
Fonte: http://br.rfi.fr
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