Quarta-feira de Cinzas: religião e folclore – Por - Márcia Pinna Raspanti
Hoje é Quarta-feira de Cinzas, o
primeiro dia da Quaresma para os cristãos.
Para marcar o início do período de
preparação para a Páscoa, que tem duração de 40 dias (sem contar os domingos),
o sacerdote faz na testa dos penitentes uma cruz de cinzas, provenientes das
palmas usadas no Domingo de Ramos. O sacerdote os admoesta com as palavras
ditas a Adão após o pecado:
“Lembra-te de que és pó, e ao pó
voltará”.
Segundo Câmara Cascudo, em
Dicionário do Folclore Brasileiro, antes esse ritual era realizado no sexto
domingo antes da Páscoa, mas o papa São Gregório Magno, no século VI, mudou
para a quarta-feira depois do carnaval, início da Quaresma. Na Bíblia, as cinzas
representam a humildade, o arrependimento e a penitência.
O autor destaca que, de acordo
com as tradições folclóricas, as cinzas funcionam como uma espécie de isolante
mágico, defendendo o corpo de poderes malignos. As cinzas das palmas do Domingo
de Ramos, quando atiradas ao vento, teriam o poder de dar fim a uma tempestade.
As cinzas do borralho também teriam efeito protetor: colocadas nas soleiras das
portas impediriam a entrada das bruxas e espíritos maus, que perturbam o sono
de crianças pagãs (não batizadas).
As cinzas também tinham poderes
sobrenaturais no catimbó, para espantar o mal (como o sal). “As coisas-feitas,
muambas, feitiços, ebó, cobertas de cinzas, são inoperantes, e quando
enterradas na cinza, provocam o choque de retorno no agente“, conta o
folclorista.
Tanto na tradição cristã quanto
no folclore, as cinzas adquirem significados simbólicos e mágicos, muitas
vezes, insuspeitos. Tais informações, no mínimo curiosas, ajudam-nos a perceber
as relações estreitas entre religião e cultura popular.
Fonte: http://historiahoje.com
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